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Reconhecido não só no Brasil, mas no continente e na Europa, onde ocupou cargos, o Barão do Rio Branco é a maior referência de nossa diplomacia. Seu prestígio era tal que, como ministro das Relações Exteriores de governos republicanos, manteve o título de Barão. E, quando da morte do Imperador, deslocou-se até Paris para prestar sua homenagem pessoal.
Entre os grandes diplomatas que tive a oportunidade de conhecer e conviver, estava o embaixador Frank Thompson Flores, de uma família rica em grandes nomes do Itamaraty. O pai, Carlos, foi embaixador relevante, o tio, Carlos Martins, nosso representante em Washington durante toda a II Guerra, o irmão, Sergio, outro elogiado na carreira, e mais o cunhado Affonso Massot, referência em sua geração. Frank foi embaixador do Brasil no Vaticano, entre outras missões de relevo, e é de uma época que deu ao Itamaraty personalidades marcantes como os seus colegas Paulo Nogueira Batista, Marcos Azambuja, Seixas Corrêa e os chanceleres Vasco Leitão da Cunha, Mario Gibson Barbosa, Saraiva Guerreiro. Outros tempos…
Nas conversas com Thompson, ouvi mais de uma vez que, desde os primórdios da República, a orientação do Brasil em sua política externa era a de acumular prestígio, credibilidade, confiança e independência. Este o capital para a relevância merecida, não sendo até então potência econômica nem militar.
Mas, segundo o ilustre e saudoso diplomata, o pilar da orientação de Rio Branco era a prioridade nas boas relações no Prata e com os EUA. Uns vizinhos e o outro grande parceiro comercial e aliado desde sempre. Realmente, as relações sempre foram significativas, nunca tendo nos faltado a presença americana no processo de desenvolvimento econômico e social. Nos anos sessenta, foi a Aliança Para Progresso, criação de John Kennedy para financiar projetos relevantes na habitação popular e na infraestrutura. O projeto que marcou Kennedy na América Latina foi, entretanto, inspirado na Operação Pan-americana, idealizada por Augusto Frederico Schmidt e assumido pelo nosso JK, como reconheceu em seu livro de memórias o embaixador dos EUA e grande amigo do Brasíl Lincoln Gordon.
Agora, neste trágico momento que vivemos, a nossa diplomacia sofre o constrangimento de ver desprezadas as lições do patrono da carreira,na denominada Casa de Rio Branco. Triste ver o Brasil dúbio na solidariedade aos nossos tradicionais aliados americanos, ainda baluartes dos princípios democráticos, éticos e morais que defendemos. E ainda, na contramão da postura nítida de nações amigas tradicionais como Portugal, Reino Unido, França. A relutância em condenar, o sofisma de interesses comerciais e o alinhamento com Cuba, Venezuela, Nicarágua e Argentina, na carta da OEA, atingem as faixas mais cultas da sociedade brasileira.O simples voto na ONU não dispensa uma posição clara.
Curioso é que, mesmo nos governos petistas, e com um chanceler, Celso Amorim, bem à esquerda, nossa diplomacia foi impecável. Talvez, na história da Casa de Rio Branco, tenhamos dado apenas um passo em falso, e sob a orientação direta de dois presidentes equivocados na questão de Portugal, primeiro com Jânio Quadros na condenação aos territórios ultramarinos e depois com Geisel, na pressa em apoiar o golpe comunista do 25 de abril e a entrega da África portuguesa a anos de cruel guerra civil .
Agora, as gafes têm se repetido, nos igualando a figuras caricatas do passado latino-americano, quando fomos o último país do continente a reconhecer o presidente Biden, quando o nosso presidente andou comentando sobre a política interna argentina, criticando e ironizando nosso principal parceiro comercial, a China. Uma sucessão de trapalhadas.
Acabamos alinhados com a maioria, mas sem o respeito e a credibilidade defendidas pelo Barão do Rio Branco. Dificulta o bom ambiente para recebermos investimentos nesta nova fase da vida nacional.
Uma pena! O Brasil alinhado a Venezuela, sem assumir de forma clara.
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