Após ter tese recusada por nazistas, judia de 102 anos é aprovada em doutorado

Depois de 77 anos, a pediatra Ingeborg Syllm-Rapoport conseguiu seu diploma de forma “brilhante”

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Depois de 77 anos, a pediatra Ingeborg Syllm-Rapoport conseguiu seu diploma de forma “brilhante”

Aos 102 anos, quase oito décadas após ser impedida de defender sua tese de doutorado pelos nazistas, Ingeborg Syllm-Rapoport se tornou a pessoa mais velha a receber o título de PhD na Alemanha. Filha de pai protestante e mãe judia, a neonatologista – especialista no cuidado de recém-nascidos – completou o estágio final de seu estudo no mês passado, ao passar em um exame oral, e recebeu seu diploma em uma cerimônia na Universidade de Hamburgo nessa terça-feira.

Quando Ingeborg entregou sua tese de doutorado no ano de 1938, seu supervisor na época, Rudolf Degkwitz, escreveu em uma carta que ele teria aceitado seu trabalho sobre difteria – uma doença infectocontagiosa que provoca inflamação nas vias respiratórias – se não fosse pelas leis implementadas antissemitas por Hitler. Depois que tomaram o controle da Alemanha em 1933, os nazistas passaram a expulsar todos os judeus de suas universidades e escolas, além de proibir que exercessem muitas profissões. A perseguição incluía casos como o de Ingeborg, de ascedência judaica parcial.

Em seu discurso, Ingeborg contou que todo o esforço empregado para obter o diploma em sua idade avançada foi pelas outras pessoas que sofreram a injustiça durante o período do Terceiro Reich. “Para mim, pessoalmente, o diploma não significou nada, mas apoiar a grande causa de ficar a par com a história – eu queria fazer parte disso”. Para o diretor da área médica da Universidade de Hamburgo, de certa forma, a justiça foi feita. “Não podemos desfazer injustiças que foram cometidas, mas nossa visão sobre o passado muda nossa perspectiva sobre o futuro”, afirmou durante a cerimônia.

Quando perguntado sobre o desempenho da senhora judia na prova oral – que foi sobre o mesmo tema de sua tese recusada em 1938 – o reitor da faculdade de medicina, Uwe Koch-Gromus, disse que “ela foi brilhante, e não só pela idade”. “Ficamos impressionados com sua agilidade intelectual, e sem palavras com seu conhecimento”, afirmou, segundo o jornal The New York Times.

Para fugir da ameaça nazista, Ingeborg emigrou para os Estados Unidos no mesmo ano em que teve seu doutorado recusado. Após se candidatar para várias universidades, ela acabou conseguindo seu diploma na Filadélfia. Trabalhou como pediatra antes de se mudar com seu marido para a Berlim Oriental em 1952, onde se tornou chefe do departamento de neonatalogia em um hospital beneficente.