Produção angariou vários fãs

Lançada em novembro de 2016, a série de ficção científica “3%” foi a primeira produção totalmente brasileira na Netflix. A trama, estrelada por João Miguel e Bianca Comparato, retrata um Brasil pós-apocalíptico.  A produção teve imagem de uma cena revelada neste sábado (22).

A única porta de saída no enredo é uma competição chamada “Processo”, da qual os jovens podem participar ao completar 20 anos. O prêmio para os 3% mais bem-sucedidos na disputa é o direito de viver em Mar Alto, oásis livre da fome, da sede e da falta de energia.

Em território nacional, a série não inspirou simpatia. Ao contrário: “constrangedora”, “mambembe” e “capenga” são alguns dos adjetivos mais elogiosos conferidos pela crítica. Apesar de a Netflix não divulgar dados de audiência, é visível que a repercussão de “3%” junto ao público brasileiro passou longe daquela alcançada por produções estrangeiras como “13 Reasons Why”, “House of Cards” e até mesmo de “Narcos”, sua prima latino-americana estrelada por Wagner Moura.

Artigo publicado ontem pelo site da revista New Yorker trata a produção de maneira positiva. “Ao curso de oito episódios, a série se provou mais sombria e áspera do que eu esperava. Trata-se de uma obra que ressoa, de formas desconfortáveis, o nosso presente distópico americano”, escreve Jiayang Fan, autora do texto. E arremata: “‘3%’ não está interessada apenas em constatar o óbvio. Ao contrário, oferece, em ritmo de thriller, um retrato do moralmente complicado processo de tentar, sem precisão científica, criar uma sociedade mais sensata”.

O reconhecimento de “3%” como produto “tipo exportação” se deve, ainda, a mais um outro fator: o conjuntura política dos Estados Unidos. O ponto central de “3%” — uma crítica ao “lado sinistro da meritocracia” — fala muito àqueles que vivem a contragosto a Era Trump. No Brasil da Lava Jato, ao contrário, o clima parece apontar para o desejo de mais meritocracia e menos privilégios escusos.