No coração da Moreninhas II, uma bandeira portuguesa se hasteia na parede. O empreendimento do casal Flaviany Fleita Leite e Vinícius Almeida de Assunção une os sabores de Portugal e do Mato Grosso do Sul com criatividade gastronômica num espaço aconchegante que lembra ares mediterrâneos na periferia de Campo Grande.
A pequena Mercearia Portuguesa quase passa despercebida se não fosse uma placa com os dizeres frisando seus grandes sabores: “Cuidado! Doces extremamente deliciosos”. A história de empreendedorismo começou em 2009, quando Flaviany ainda morava em Lisboa.
Nascida na Moreninhas, em Campo Grande, a então estudante de Administração se mudou para Portugal para melhorar de vida. Para se manter, Flaviany começou a trabalhar no Café Espaço Gourmet, do Hospital da Luz, um dos maiores do país. Seus brigadeiros, a então marca da brasileira, foram parar até na SIC, televisão aberta portuguesa.
Depois que engravidou de sua filha e deixou a faculdade, decidiu retornar ao Brasil e fazer doces e salgados portugueses foi uma maneira de passar mais tempo com a família fazendo o que ama, uma das motivações do projeto até hoje. A confeitaria já faz parte de gerações desde a avó, mãe e irmã, o que facilitou o processo.
“Decidimos voltar ao Brasil mesmo eu amando morar lá e logo em seguida, o Vinicius, me encorajou a fazer as receitas para vender. Com o dinheiros pagamos a faculdade, demos entrada na nossa casa. Entramos em sociedade e alugamos o espaço”, conta Flaviany Leite.
Dos empreendimentos, em 2009 criou o Brigadeiros e Doces, em 2013, o 3/7 de maçã e em 2014 nasceu a Mercearia Portuguesa. A ideia do casal para os produtos da cafeteria é mesclar os ingredientes regionais, como a guavira, a bocaiúva, ervas de tereré e a baunilha do Pantanal, com em receitas européias adaptadas como o Entremet, a Palmier, a kombucha e o Pastel de Nata.
As criações são exclusivas e feitas depois de testes de Flaviany no fundos do estabelecimento, sempre com um apelo para dar holofotes aos sabores do Mato Grosso do Sul. Um dos objetivos é dar mais identidade regional aos pratos.
O Palmier de Bocaiúva,um doce tipicamente francês, que possui um formato de palmeira ou uma forma de borboleta, foi pensado depois dos recentes protestos contra o desmatamento no Parque dos Poderes para a realização de obras do poder público. A fruta é uma das principais fontes de alimento das aves do Pantanal.
“Sou admirada por todos os ingredientes do Estado. Temos muitas variedades de símbolos e acho importante fomentar o que temos aqui. Vou testando e vendo se no paladar é gostoso e agradável, colocamos para vender e vemos a receptividade”, relata a confeiteira.
Prato europeu, gosto pantaneiro
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A Língua de Capivara, biscoito caseiro adaptado das versões européias Língua de Gato, francesa, e Língua de Veado, portuguesa, é um dos mais pedidos e populares dos cafés da tarde. A adaptação foi feita com utilização da erva de tereré, já que nos outros são usados raspas de limão ou laranja, e é recomendado para acompanhar chás e cafés.
Perguntada sobre o motivo de abrir um estabelecimento tão singular e com pratos gourmet de preços acessíveis na periferia da cidade, a empresária lembra que o objetivo é fomentar o comércio local e trazer as pessoas de outras partes de Campo Grande para as Moreninhas.
“Tudo que a gente faz é para mostrar que as pessoas podem comer bem com pouca grana e com qualidade. Temos a produção diária e reposição. Os ingredientes são comprados aqui na Feira das Moreninhas, e algumas das frutas são compradas de indígenas de produção independente. Queremos movimentar o capital de giro aqui dentro do bairro”, conta.
A Mercearia Portuguesa fica na Rua Anaca esquina com a Rua Barueri no bairro Moreninhas II, e também atende clientes veganos e vegetarianos. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 11h às 20h e aos sábados das 11h às 19h. Mais informações pelo Instagram @portuguesamercearia.
