Muito antes de ingressar no mundo jornalístico, herdei uma paixão paterna pela natureza e sobre tudo o que ela representa. Com o tempo, a adolescência fomentou um amor indescritível por motores em V e toda a sociocultural desse universo. O anseio por aventuras e a busca constante pela tranquilidade de uma beira de rio criou o cenário perfeito para viagens de moto, acampamentos e a necessidade latente de desconectar-se do mundo.

Depois de uma semana preso na rotina da vida moderna, vem o desejo de rodar para um lugar isolado e pacífico, me transportando direto para as lembranças do interior. Nesse lugar, a Internet não chega, os impasses da vida urbana são ofuscados e o cérebro tem seu merecido descanso.

Com a saudade fomentada pelas recordações, é o momento de preparar a bagagem. Paciência e noção de espaço são indispensáveis na organização: aos poucos, comida, roupa e ferramentas vão se encaixando no alforge. Ao fundo, enquanto amarro a barraca e colchão de ar, a véspera de viagem é embalado pelas composições do Guns N´ Roses , Creedence e diversos clássicos para pegar a estrada.

Sobre duas rodas, natureza é refúgio para quem procura acampar e viver a liberdade da estrada
Moto com alforge, barraca e colchão de ar amarrados, às margens da rodovia (Foto: Ranziel Oliveira/ Arquivo Pessoal)

Já sobre as duas rodas, a sensibilidade do corpo e mente é elevada: A paisagem, o vento no rosto, o enrolar do cabo, o barulho do motor e o aumento na produção de dopamina, proporcionam uma sensação indescritível de liberdade. Naquele momento, é possível sentir uma conexão única entre homem e máquina, algo, que transcende a compreensão popular. Mais que rascunhar esse sentimento em algumas linhas, é preciso vivê-lo.

O acampamento

Depois de alguns quilômetros na rodovia, o destino é finalmente alcançado. No meio da natureza, o acampamento começa a ganhar forma entre as árvores nativas e o curso do rio. Aquele ritual já conhecido para qualquer campista, escolher um local plano e de preferência elevado, armar a barraca e encher o colchão.

Enquanto os dias voam na cidade, a noção de tempo parece ser perdida no meio do mato. É o momento de explorar o local e conhecer de perto, fora os livros de geografia, o cerrado Sul-mato-grossense. Além das trilhas, a atração principal é responsável por refrescar o corpo e ser um alívio para as vistas, experiências, possibilitadas pelo leito do rio.

Sobre duas rodas, natureza é refúgio para quem procura acampar e viver a liberdade da estrada
Na fogueira, arroz está cozinhando enquanto o bacon é assado (Foto: Ranziel Oliveira/ Arquivo Pessoal)

Com o cair da noite, é hora de acender a fogueira e preparar o jantar: de uma forma levemente rústica, o arroz com carne assada tem um sabor singular e sentimental. Na presença de quem você ama, o silêncio da floresta e o isolamento social  trazem uma tranquilidade e paz inexistente na cidade. Lá dentro, o único som a ser apreciado é o da natureza, seja do cantar das cigarras ao peixe que pula n'água.

Os primeiros raios de sol indicam o prelúdio da despedida. E a hora do último mergulho, de desmontar o acampamento e amarrar a bagagem na moto. A ignição do motor encerra temporariamente a conexão com a natureza, selando o momento de voltar para a civilização. Em casa, a do acampamento fomento a vontade de procurar o próximo destino, e viver uma nova aventura a cada viagem.

Ranziel Oliveira é repórter do núcleo de Cotidiano do Jornal Midiamax

OFF THE RECORD

(Fora do registro, em português) é a expressão utilizada pelos jornalistas para informações obtidas de forma não oficial, assim como a rotina de repórteres para além da reportagem. Afinal, o que gostamos de fazer quando estamos longe da rotina de trabalho? Esta é a OFF THE RECORD, uma pequena série do Jornal Midiamax, com textos escritos em primeira pessoa, sobre os hobbies dos repórteres que atuam na redação.