Nos tempos de doenças é que encontramos novos significados para coisas simples e, consequentemente, nos reencontramos. A vida é um sopro de vento que nós escolhemos para onde segue. E foi essa lição que a chef de cozinha e artesã Juliana Baraldi aprendeu com os anos e transfere através de suas mandalas.

Tudo começou na infância quando cercada pela mãe e pela avó, Juliana tomou gosto pelos sabores. A paixão pela culinária nasceu aí, no berço das mulheres da família. O primeiro “trabalho” foi na da avó e ajudando a mãe em casa. Os elogios foram tantos, que a virou um sonho que se concretizou em uma bolsa de estudos no Senac de SP.

Depois de formada, as propostas de trabalho não paravam. Juliana trabalhava num restaurante na rua Oscar Freire com o italiano Chef Salvatore Loi, um dos mais renomados do mundo. Apesar de gostar muito de lá, a vida em SP começou a pesar… o ritmo, o trânsito, os ônibus… começou a distribuir currículos por e-mail e fez várias entrevistas por telefone com o restaurante Mergulhão, na ilha de Fernando de Noronha.

Nas mandalas gigantes, Juliana se reencontrou depois de um câncer maligno
Juliana Baraldi e Eduardo Corrêa em viagens pelo mundo juntos depois do tratamento de quimioterapia (Reprodução, Arquivo Pessoal)

“Saí de SP já contratada. Deixei meu apartamento para morar num quarto com banheiro e frigobar. E fui com a cara e a coragem. Em Noronha conheci meu noivo, Eduardo Corrêa, que trabalhava como auxiliar de cozinha”, conta a artesã.

Juliana conta ao Jornal Midiamax que conhecer o amado foi como uma ocasião do destino. Eduardo atravessou o Atlântico de veleiro com o amigo, Tassio Azambuja, mas a embarcação quebrou quando eles chegaram em Noronha. O noivo conseguiu o emprego no mesmo restaurante que Juliana trabalhava mesmo sem ter experiência e o amigo seguiu viagem. “Foi amor à primeira vista. O clássico clichê”.

Mudança repentina

Em 2013, ainda em Noronha, os planos mudaram repentinamente após uma descoberta amedrontadora: enquanto limpava um peixe gigante, apoiou a barriga e pôde sentir uma coisa esquisita. Foi ao médico e descobriu um tumor do ovário.

“Eu tinha 23 anos, e tinha um tumor de 20 cm, pesando mais de um 1kg no meu ovário. Fui para Recife, operei e voltei pra Noronha. Poucos dias depois veio o resultado de que era maligno e que teria que fazer quimioterapia”, conta a jovem ao Jornal Midiamax.

Juliana voltou para para dar continuidade ao tratamento. Em menos de um mês, Eduardo já estava com as malas na porta do apartamento. O tratamento pode ser mais incisivo devido a idade da jovem, mas igualmente difícil.

“A gente se conhecia a pouco tempo e ele me ajudou em todo o tratamento. Ele quem cuidou de mim. Largou o paraíso pra ficar comigo. Nunca me senti tão especial. Em 4 meses fiz 28 sessões de quimioterapia. Por eu ser bem jovem, o médico preferiu me dar um monte de remédio de uma vez porque meu organismo aguentaria. Geralmente as pessoas fazem 2 químicos por mês, eu fiz 7”, relatou.

Quando terminou o tratamento, em 2014, Juliana se mudou para , cidade natal do noivo Eduardo. Aqui, voltou a trabalhar como chef, mas já não tinha a mesma paixão de antes pelas cozinhas profissionais e as cargas horárias cansativas. Com isso, decidiram viajar juntos pelo Brasil em busca de nova experiências.

“Moramos em Morro de São Paulo, visconde de Mauá… e morando em Jericoacoara fui descobrir o yoga. Amei tanto tanto que fui fazer um curso intensivo, num Ashram, em São Paulo. Foram 9 semanas morando com mais 15 pessoas desconhecidas. Meditando em jejum, praticando yoga, mantras… assim me formei professora. Quando terminei o curso meu namorado já estava com as passagens compradas para o , onde havia morado anos atrás e é completamente apaixonado”, conta a artesã.

Encontro Espiritual

Nas mandalas gigantes, Juliana se reencontrou depois de um câncer maligno
(Reprodução, Arquivo Pessoal)

No Nepal, Juliana e Eduardo viveram na cidade silenciosa de Pokhara. Com uma cultura totalmente diferente da que estavam acostumados nas grandes cidades: vacas soltas nas ruas, pessoas comendo com as mãos, templos, mantras tocando sem parar.

“Aprendi muito com o silêncio dos meus vizinhos, com a generosidade das pessoas tão pobres que me convidaram para almoçar em suas casas sem nem nos conhecerem. A imensidão daquelas montanhas e todo o misticismo por detrás de suas história… uma imensidão natural. Me sentia tão pequenina e meus problemas ficaram tão pequenos. É um lugar mágico abençoado pelas orações dos locais”, relembrou Juliana ao Jornal Midiamax.

A experiência no exterior fez com que a artesã voltasse ao Brasil em 2018 com outros olhos. Como consequência do câncer, desenvolveu Fibromialgia, dor muscular generalizada e sensibilidade, que a faziam ficar muito tempo em repouso. O noivo, Eduardo, sugeriu que Juliana se distraísse com aquarelas, e assim nasceram as mandalas gigantes que produz por encomenda.

Nas mandalas gigantes, Juliana se reencontrou depois de um câncer maligno
(Reprodução, Arquivo Pessoal)

“Saíram as primeiras mandalas e eu fui pegando gosto. Daí comecei a fazer com tinta, passei do papel para a madeira e finalmente decidi aprender crochê pelo Youtube. De repente eu vendi uma mandala para um amigo, para outro. Como eu ouço muitos mantras enquanto trabalho, os nomes das mandalas acabaram surgindo conforme elas crescem. Às vezes o significado está na cor, no formato. Mas cada uma tem um ‘poder', e isso vem devido a intenção que eu crio cada uma; seja acalmar, impactar, energizar”, ressalta.

Entre pequenas e gigantes, monocromáticas ou degradês, você pode conferir e encomendar as mandalas produzidas pela artesã, que fez de Campo Grande sua casa, através de seu perfil @mandala.byju no Instagram.