Campo-grandenses que estudam em Portugal comentam preconceito contra brasileiros
O caso de xenofobia contra estudantes brasileiros na Universidade de Lisboa, em Portugal, causou indignação generalizada e brasileiros que por lá vivem planejam para esta sexta-feira (2) protestos. O caso que ganhou repercussão foi ocasionado por um grupo de alunos portugueses que colocou um cartaz oferecendo pedras grátis para serem atiradas contra alunos brasileiros que […]
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O caso de xenofobia contra estudantes brasileiros na Universidade de Lisboa, em Portugal, causou indignação generalizada e brasileiros que por lá vivem planejam para esta sexta-feira (2) protestos. O caso que ganhou repercussão foi ocasionado por um grupo de alunos portugueses que colocou um cartaz oferecendo pedras grátis para serem atiradas contra alunos brasileiros que cursam pós-graduação na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
“[Pedras] grátis se for para atirar a um ‘zuca’ (que passou à frente no mestrado”, traz o cartaz polêmico. “Zuca” é uma forma pejorativa de referir-se a brasileiros em Portugal.
Campo-grandenses que vivem em Portugal contam que foi grande a repercussão do caso de xenofobia – o preconceito contra estrangeiros – nos jornais portugueses. Em geral, a mensagem era de indignação e solidariedade a brasileiros. Porém, os relatos sobre preconceito velado contra brasileiros são comuns.
“Até agora eu não sofri com xenofobia de maneira explícita, como no caso ocorrido. Mas, sim, sofri de outras maneiras. Na Universidade de Lisboa, por exemplo, pagamos 5 vezes mais que os portugueses e ainda não temos oportunidade de barateamento dos custos ou de auxilio à moradia”, conta a estudante de psicologia Natália Fontana Dziachan, da mesma universidade onde ocorreu a polêmica.
Segundo ela, o fato de não falar o português europeu também comprometeu sua participação em algumas atividades. “Não pude participar de uma experiência, a qual valia nota, por não falar português europeu”, conta a campo-grandense.
Da mesma forma, Carolina Ramos Coelho Pereira, que atualmente estuda economia na tradicional Universidade de Coimbra, confirma que sente, de forma discriminada, a discriminação por parte de algumas pessoas. Porém, o caso ocorrido em Lisboa parece ter sido o mais grave.
“Acho que se torna ainda pior pelo fato de Lisboa ser a capital, ou seja, o local em que o pessoal geralmente tem uma mente mais aberta. A gente fica se sentindo menos seguro aqui, e ainda mais deslocado e excluído, como se não pertencêssemos de fato, não merecêssemos estar aqui estudando”, comenta a universitária.
Carolina comenta, no entanto, os casos que presenciou e sofreu. “Tenho amigos que já tiveram que ouvir de professor que o português dele estava errado e por isso não iria receber mais nota na prova. Brasileiras também são tratadas de maneira hiper-sexualizada. Isso ocorreu uma vez comigo, em que uns portugueses começaram a tocar música e a pediram para que eu dançasse samba”, comenta.
O imbróglio em torno da discriminação contra brasileiros seria o grande número de estudantes daqui que conseguem ingressar no ensino superior e na pós-graduação em Portugal. A ideia que fica é que estrangeiros estariam “roubando” vagas de portugueses.
A campo-grandense Juliana Feliz, recém-aprovada em primeiro lugar no doutorado em comunicação na Universidade Fernando Pessoa, na cidade do Porto, inicia as aulas já no próximo semestre. Segundo ela, ainda não houve oportunidade de sentir na pele se há, de fato, essa xenofobia.
“Minha experiência até agora foi muito positiva, não posso dizer muito a respeito disso, por enquanto. Meu orientador é português e já teve vários orientandos brasileiros, a universidade é cheia de brasileiros. Então, espero que não vá ter tantos problemas”, comenta.
Juliana mudou-se neste ano para Portugal, com o esposo e as três filhas, de 14, 10 e 8 anos. Até mesmo nas escolas públicas em que as meninas foram matriculadas, ela conta que as experiências foram positivas.
“Até minha filha mais velha, que tem uma síndrome ligada ao autismo, teve um acolhimento incrível na escola em que ela foi matriculada. Na verdade, todas foram bem atendidas, senti preocupação para que elas se integrassem”, revela.
Enquanto as aulas não começam, no entanto, Juliana ainda observa o cenário. “Pelo menos o que foi dito nos jornais daqui é que era um absurdo que estudantes de direito agissem daquela forma. Espero que as coisas sejam levadas mais a sério a partir de agora”, conclui.
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