Na trilha pela mata, a descoberta de que Campo Grande é cheia de possibilidades

Trekking noturno foi grande surpresa para jornalista ‘ex-sedentária’

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Trekking noturno foi grande surpresa para jornalista ‘ex-sedentária’

Era uma vez uma jornalista tentando deixar a vida sedentária, de saúde em risco, peso acima do ideal, de desânimo, e muito sono no dia a dia. Escrevo era, mesmo, porque aquela lá a cada dia está deixando de existir. E essa que escreve neste momento quer comunicar a toda gente dessa cidade que esse papo de ‘Campo Grande não tem o que fazer’ é balela, para não dizer coisa de mau humorado, preguiçoso…

Pegando mais leve, o lugar comum referente a nossa terra pode ser ser só fruto dos hábitos, e de, frequentemente, estarmos presos às caixas da nossa rotina. Sair delas, é difícil, mas quando a gente se propõe, descobre lugares e pessoas bem bacanas na Cidade Morena, essa mesma considerada por muitos de poucos lugares e de pessoas em geral pouco abertas a novas amizades. Generalização é sempre perigosa e, felizmente, a gente descobre, uma hora ou outra, o quanto isso é verdade.

Já acho que Campo Grande tem melhorado em opções para o lazer, o convívio social e isso se confirmou ainda mais neste fim de semana.

A partir de um post no Facebook, sobre uma trilha a pé feita nos arredores da cidade, com direito a cachoeira, da qual já havia ouvido falar, mas nunca havia me visto fazendo tal coisa, decidi sugerir que a amiga me convidasse para a próxima. O convite veio na hora: no sábado haveria uma trilha noturna.

Pensei: de noite, no meio do mato, será que que encaro? Bem, já havia me oferecido, o jeito é não desistir sem tentar. Convidei outra amiga, ela topou imediatamente. Passamos a semana meio feito criança, ansiosas pela novidade. No horário marcado, estávamos lá, de tênis, lanterna e garrafinha com água na mochila.

A ‘aventura’ foi em uma fazenda na região das Três Barras, que tem uma área de proteção ambiental, apelidada pela empresa responsável de “Floresta Proibida”. Parece coisa de filme de terror, mas é só por ficar em uma propriedade particular, com acesso apenas se houver autorização. 

No grupo, biólogos, professores universitários, médico, veterinário, e alguns jornalistas. Foram seis horas, entre a saída para a fazenda, a caminhada ora por estrada de chão, ora por trilhas na mata e, em um pedaço, na mata fechada mesmo, até a volta ao ponto de origem.

Há música no silêncio

Sentada no túmulo, no meio da trilha, pensando em como é preciso saber viver (Marta Ferreira/Arquivo Pessoal)

 

No meio do caminho, sinais de bichos pelo chão de terra e de areia, muito mato, um pouco de barro, alguns cursos de água.  Barulho de grilo, sapo, aranhas pelo chão, centenas delas. No céu, as estrelas normalmente eclipsadas pelo excesso de luz da vida urbana. 

No caminhar, o barulhinho do pisar nas folhas, uma música rara na vida de quem só se transporta usando veículo automotor. Nas conversas, assunto de todo o tipo, mas principalmente a admiração pela saída das tais caixinhas, da rotina engessada. 

Um nome entre flores, e certamente uma história (MF/Arquivo pessoal)Em cada história, um motivo para estar lá. Teve, até, quem escolheu comemorar idade nova ali, iluminado só por lanterna, mas com direito a parabéns pra você  e espumante para celebrar a vida. 

Depois de seis quilômetros mais ou menos, um lanche restaurador, banheiro para o xixi que alivia, a apresentação ao dono da área, aos caseiros responsáveis pela acolhida, e mais dois quilômetros de volta ao local onde estavam os carros, depois, é claro, das fotos oficiais da turma.

Ao todo, foram 8 quilômetros de caminhada em ritmo moderado, totalmente suportável mesmo para quem não tem lá aquele preparo físico. Para além do tamanho do trajeto feito, o significado de dar conta dele, de conviver com o céu limpo, ficar livre da hiperconexão dos celulares, esse é de uma extensão impossível de mensurar.

Deixo para encerrar esse relato, um dos momentos mais incríveis da trilha apelidada de “Zóio dos Bichos”. No meio do caminho, mais ou menos, fomos apresentados a um cemitério particular. Ali, no meio da floresta, ficamos entre cruzes fincadas no chão, nomes de pessoas cuja história a gente fica tentando imaginar, uma capelinha, flores esmaecidas pelo tempo. Paramos, falamos da vida, da morte, e do que fazer entre um e outro. Rezamos um Pai Nosso. E saímos dali pensando no quanto a vida é preciosa, no quanto podemos deixá-la mais significativa, ou apenas mais suave mesmo, em qualquer cidade, de qualquer lugar.

Turma reunida sob um fantástico céu de estrelas (Divulgação)

 

(O trekking noturno é feito pela empresa Sopa de Pedra. Se quiser mais informações, acesse o Facebook deles ou pelo telefone 67 98438-6717)

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