Castelinho de Ponta Porã que já foi quartel e cadeia coleciona histórias assombrosas
As lendas urbanas são histórias que comumente mexem com o imaginário dos curiosos e que são ainda muito praticadas pelas gerações mais antigas da região fronteiriça e pelo Brasil. A cidade de Ponta Porã, ligada por Pedro Juan Caballero à divisa entre o Brasil e o Paraguai, não foge à regra. Um dos prédios mais […]
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As lendas urbanas são histórias que comumente mexem com o imaginário dos curiosos e que são ainda muito praticadas pelas gerações mais antigas da região fronteiriça e pelo Brasil. A cidade de Ponta Porã, ligada por Pedro Juan Caballero à divisa entre o Brasil e o Paraguai, não foge à regra.
Um dos prédios mais antigos da região, o Castelinho de Ponta Porã já foi prédio federal de Getúlio Vargas na década de 40, quartel militar e até um presídio. Hoje, o prédio histórico, abandonado e em ruínas, coleciona histórias de causos curiosos e que desafia até os mais corajosos.
História
O Castelinho de Ponta Porã foi construído na década de 1920 com recursos federais e contribuições da Companhia Matte Laranjeira. Sua construção durou quatro anos, de 1926 a 1930. Foi a base governamental na fronteira erguido próximo à antiga estação Noroeste do Brasil. Entre 1943 e 1946 foi sede do governo do Território de Ponta Porã, criado no governo Vargas, conforme o Decreto-lei n.º 5 812, quando foi instituída a política de Território Federal no Brasil, tendo como governador o militar Ramiro Noronha.
Em 1950, passou a abrigar a cadeia pública e o quartel da 4ª Companhia Independente da Polícia Militar. No final da década de 1990, com a transferência da corporação a novo prédio, o castelinho ficou sem função e hoje tem recursos liberados para sua transformação em museu para guardar a história da fronteira.
“Com o fim do Território Federal, o Castelinho passou a ser utilizado como quartel e cadeia, para abrigar os prisioneiros da região fronteiriça, que futuramente dependendo do grau de periculosidade eram encaminhados nesses tempos para a Capital Cuiabá ou a cidade de Campo Grande”, conta o pesquisador e historiador Yhulds Giovani Pereira Bueno.
O prédio está passando por uma reforma para não ceder ao desmoronamento. Entretanto, no início do mês de outubro de 2019, dependendo do aval dos órgãos estaduais, o projeto de reforma de estrutura do prédio histórico foi paralisado por 90 dias, de acordo com publicação no DOE (Diário Oficial do Estado).
A Dama do Castelinho
No fim da década de 50 a Linha da Férrea caminho ao Noroeste do Brasil já estava em pleno funcionamento na região de fronteira, tendo como sua última parada a cidade de Ponta Porã. No local, a estrutura de manutenção ou oficina de máquinas se localizava mais ao centro da área destinada a estação ferroviária e próximo ficava a P.A. (Pernoite e
Alimentação), uma espécie de ponto de apoio aos funcionários da Noroeste, que tinham que ficar muitos dias para realizar seus trabalhos.
Dentro da P.A., um restaurante era gerido por um casal que preparava as refeições dos funcionários diariamente. O rodízio de pessoal era constante e necessário para manter a grande estrutura da estação. Segundo moradores da região, poucas casas existiam pela região conhecida como vila áurea ou Peguaho, que significa em tupi guarani ‘lugar distante”.
A rotina seguia normalmente, até que um acontecimento trágico mudou a rotina da Noroeste de Ponta Porã, no início da década de 60: um assassinato chocou os moradores. A mulher que fazia as refeições dos funcionários da Noroeste matara seu marido, com inúmeras facadas.
“Muito se especulou sobre o que levou a tal fatídico e sinistro desfecho, de um relacionamento que para quem observara na época aparentemente de um casal normal, claro que tinham suas diferenças conjugais. Nos dias e semanas que se passaram, muitos foram os curiosos, que visitavam o castelinho para observar a mulher que ficara em cárcere, e hora ou outra aparecia na grade da janela”, conta o historiador Yhulds Bueno.
Apelidada pela população local como “Dama do castelinho”, o fato ficou ainda mais conhecido pela região fronteiriça, por ser a primeira mulher presa na cadeia. Reza a lenda que a viúva ficava horas olhando pela grade da janela, sem esboçar uma única palavra até proferir um grito assustador misturado com choro e lamento, que levava a crer no seu remorso e arrependimento.
Quase 70 anos se passaram e a história continua gravada na memória dos moradores mais antigos da região, que acreditam que tal “Dama” habita o castelinho em ruínas, e quem passa em frente de tal estrutura no fim de tarde, pode escutar os lamentos e ver o vulto da dama observando o horizonte pela grade da janela. Poucos se arriscam a passar em frente da estrutura depois do entardecer, e não só por ela.
A lenda do Sargento do 4º BPM
“Essa lenda que se tornou um causo é baseado em testemunhos vivos de quem presenciou estes acontecimentos, arquivos vivos que preferem ficar no anonimato. Respeitando os mesmos, foi realizado o resgate através de uma narrativa deste fato intrigante, que perpetua na região de fronteira na cidade de Ponta Porã até os dias de hoje”, ressalva o historiador Yhulds Bueno.
O 4º Batalhão da Polícia Militar utilizou por longa data o prédio histórico do Castelinho antes de ser realocado para o prédio localizado na Rua Antonio João, 2244, na área central de Ponta Porã. Na década de 70 sua localização era considerada afastada do centro da cidade, segundo relato de ex-integrantes da corporação, o patrulhamento da região de fronteira era difícil.
O contingente do 4º BPM era de poucos policiais nesses tempos e as escalas de serviços eram duras para poder suprir a necessidade da pequena cidade de fronteira. As dobras eram inevitáveis e quem distribuía as escalas era um sargento que realizava os serviços internos gerais. O mesmo utilizava uma máquina de escrever datilografando e registrando todos os acontecimentos vinculados ao Batalhão, além de realizar rondas para auxiliar nas escalas de serviço.
O sargento morreu durante o atendimento de uma ocorrência na década de 70, mas os então subordinados ainda sentiam a presença do mesmo no batalhão, inclusive fisicamente. Muitos os polícias que serviram no 4º Batalhão escutavam o clicar
da máquina de escrever no mesmo ritmo que o sargento realizava suas tarefas e quando se dirigiam para observar a
origem do barulho, o mesmo desaparecia.
“O abrir e fechar de gavetas, como se o sargento ainda estivesse realizando seus afazeres era corriqueiro nesses tempos, que os PMs antigos nem se importavam mais com esses acontecimentos sobrenaturais. O fato ainda é mencionado nos dias atuais não só por soldados antigos da corporação já aposentados. Muitos, que preferem ficar no anonimato, confirmam a presença de alguém que acorda com batidas quem esta repousando no dormitório como se estivesse chamando para o serviço, ou sente a presença que acompanha pelos corredores do batalhão”, conta o pesquisador.
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