Muito se fala do que é o “Banho de São João”, festa culturalmente rica em Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense. A programação é extensa, envolve a “vizinha Ladário” e, de tão famosa, foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, desde 2021. Mas as histórias e os bastidores emocionam tanto quanto o momento em si e mostram a mistura de fé, devoção e tradição.
Neste ano de 2025, a programação começou na sexta (20) e se estende até terça-feira (24). No entanto, há meses, anos, aliás, está pronto o andor do aposentado Carlos Diniz, de 80 anos. Desde que sua esposa faleceu, apenas ele, a filha e uma neta o decoram, mantendo os detalhes principais intactos, mostrando toda a sua devoção ao Santo e o amor pela companheira.
A reportagem do Jornal Midiamax esteve na cidade pantaneira, dias antes da festa, momento em que conheceu o aposentado. “Dez horas da noite eu desço com o andor. Vem dois ônibus. Aí eu desço com o pessoal até perto da descida, damos o banho no São João e aí eu faço um jantar. Um dia antes, que é o dia da reza, eu pego o pessoal da igreja, que vem puxar o terço, faço um cachorro-quente, guaraná e a chicha, que é uma composição de fubá, milho, canela e cravo, é um refresco para o pessoal que me ajuda”, argumentou.

Conforme Diniz, que pertence à comunidade Cristo Redentor, são dois dias bem alegres e religiosos. “Quando a minha esposa estava entre nós, ela que enfeitava o andor e colocava as flores. Quase todo ano eu desmanchava, mas minha filha falou para conservar, disse que está muito Bonito, só que eu nunca participei de concurso, porque nunca quis tirar o meu andor daqui. E olha que eu ia ganhar, hein, está muito lindo”, comentou.
O aposentado comenta que, no momento da descida, faz questão de ir na frente, carregando o andor juntamente de mais três pessoas. “Só na subida que eu já não aguento mais, mas sempre tem alguém para ajudar. Eu participo desta festa e também de Cosme e Damião. Faço de 250 a 300 saquinhos e acho maravilhoso o brilho de uma criança ao pegar. É igual o pessoal do andor, sempre agradecido; então, são coisas que não têm preço. Sou humilde, faço com o coração. Também sou comunitário, gosto do meu bairro. Morava antes no Centro, mas tem 30 anos que estou aqui, então, abracei o Cristo Redentor e fiz a Comunidade Cristo Redentor”, ressaltou.

O tratorista aposentado Wellington de Nunes, de 70 anos, ressaltou que participa, com muito orgulho, da festa. “Eu sou inquilino do seu Carlos e o ajudo a carregar andor, isso tem uns seis anos. É um momento muito bonito. Vejo chegando dois ônibus aqui, muita gente, o pessoal come, fica satisfeito, forma uma fila bonita aqui e depois vamos descendo a ladeira. Aquela momento é mágico, especial. Eu faço o meu pedido. Fiz 70 anos, então, a única coisa que peço é saúde, pra mim e pra família. Quero viver um pouco mais. Pra mim é isso, já está bom”, disse.
Quem é São João Batista?
Conhecido como o profeta que teria batizado Jesus, São João Batista foi um pregador itinerante, cujo aparecimento se deu na Judeia, provável lugar de nascimento, e na Galileia, na época de Herodes. João teve muitos seguidores e pregava aos judeus, dizendo que deveriam exercer a virtude e a retidão.

Ele pregava a conversão e o arrependimento, chamando as pessoas a abandonarem seus pecados e se voltarem para Deus. A devoção ao Santo manifesta-se, principalmente, através do Banho de São João, uma celebração religiosa e festiva que ocorre na passagem do dia 23 para o dia 24 de junho, envolvendo procissões até o Rio Paraguai e o banho da imagem de São João em suas águas, além de eventos culturais e artísticos.
Essa festividade é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil desde 2021, sendo um importante símbolo da identidade cultural de Corumbá e Ladário.
Confira a entrevista com o seu Carlos e o seu Wellington, que participam do Banho de São João:
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