“Senti o barulho dos ossos quebrando”, lembrou o pescador esportivo de Mato Grosso do Sul, Anderson Guedes – sobrevivente de um ataque de onça. O episódio aconteceu há 20 anos, quando o influencer pescava em fazenda da Amazônia. Porém, as lembranças voltaram à tona após a morte de Jorge Ávalo, 60 anos, atacado por onça em MS na última segunda-feira, 21 de abril.
Ao Midiamax, o pescador de 43 anos relembrou momentos da aventura na Amazônia quando sofreu o ataque de uma onça. Dedos despedaçados, coxa rasgada e furos de garras pelas costas, foi assim que Anderson ficou após enfrentar o animal selvagem.
“Você não consegue enfrentar o seu estado emocional, fica a ponto de você não sentir dor. Tanto que eu não senti dor na hora, sentia só o barulho dos ossos quebrando. Parecia que vinha pelo corpo assim”, reviveu.
O pescador disse que não teve reação. “Fiquei paralisado e você fica muito sem reação, porque você fica apavorado, o bicho está ali para te comer. Parece aquela história de criança do bicho-papão, só que de verdade”, fez a associação.
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Pescaria
Em pescaria em mata fechada, levou um coração de boi e se separou por um instante dos amigos. Assim, percebeu a onça já quando o animal estava muito próximo.
Anderson acabou esfaqueando a onça para se livrar do ataque. Logo, o animal morreu após a situação. O pescador foi levado para primeiros socorros e passou por cirurgias reparadoras.
A primeira vez que Anderson revisitou o local do ataque foi três meses após o ataque. O mesmo período em que levou para se curar das feridas físicas.

Coração de boi
Criador de conteúdo para diversas redes sociais, Anderson revisitou o local na mata amazônica algumas vezes. Entre elas, para mostrar o cenário da história.
“Coloquei a faca ali, com um coração de boi. Fiquei aqui com a varinha pegando uma isca”, contou em vídeo. O pescador justificou que não há registros, pois na época, não havia fácil acesso de tecnologias. “Não tinha celulares para registrar”, disse.
O biólogo Henrique Charles, destacou recentemente que o “coração pode ter atraído a onça” até Anderson.
Assim, o pescador diz que sentiu cheiro de carniça após silêncio extremo na mata. “Senti um pisado bem de leve, quando isso aconteceu, a onça estava arrepiada como se fosse um gato para pegar um rato. Na hora eu tentei me virar para me jogar, na hora tentei me jogar, mas não deu tempo”, contou.
“Onça tem cheiro de carniça mesmo, não é um cheiro próprio dela. Mas, ela come carniça, pode estar cheirando mesmo”, afirmou o biólogo.

Socorro e recuperação do pescador
Com gritos e a movimentação, os amigos encontraram Anderson. Um deles acabou desmaiando com a gravidade dos ferimentos.
Mas foram torniquetes que ajudaram o pescador a chegar na sede da fazenda e buscar ajuda em centro médico. “Eu fui até a casa do caseiro lá da fazenda, foi quando a senhora dele conseguiu mais uns pedaços de pano e a gente foi para o hospital”.
Cirurgias reparadoras nas mãos foram necessárias. Além disso, Anderson levou mais de mil pontos pelo corpo após o ataque.
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“Quando eu cheguei no hospital, aí o médico, o ortopedista me atendeu imediatamente, foi imediato mesmo, não demorou nada”. A recuperação mais demorada foi a da mão.
Anderson explicou ao Midiamax que é a parte “onde tinha arrancado os pedaços, o osso estava tudo para fora e tinha o osso estraçalhado. Foi o mais complicado. Mas, graças a Deus, eu consegui voltar o meu movimento da mão”.
Porém, mesmo com fisioterapia e atividades específicas para o tratamento, a parte do corpo nunca mais foi a mesma. “Não o normal, porque faltam pedaços. Hoje eu consigo pegar, consigo fazer tudo de novo”, comemorou.
Morte onça
Com a morte de Jorge, Anderson disse que sua história foi relembrada nas redes sociais. Em algumas publicações, é colocado como “homem que matou uma onça com faca”.
No entanto, o pescador garante que “não foi bem assim”. “Eu simplesmente queria que ela saísse dali. Não foi uma intenção de matar o bicho, mas, sim, que ele me soltasse”, explicou ao Midiamax.
Então, disse que soube da morte da onça apenas após o retorno ao local, três meses depois. “Soube que ele [animal] morreu de verdade mesmo, depois que eu voltei lá onde aconteceu”.
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O retorno na comunidade perto do local do ataque rendeu uma bainha para faca usada contra a onça. A pele do animal foi entregue para Anderson, que negou e ficou apenas com pedaço, para guardar a faca.

Cuidados e preservação de animais
Apesar de ter sido atacado por uma onça, Anderson destacou que é preciso proteger os animais. “Uma coisa que eu falo para as pessoas entenderem, de uma maneira geral, é que nós somos seres humanos, nós somos racionais”, pontou.
“É o nosso papel, é entender que eles são animais, a gente está ali, às vezes, num ambiente que acontece um acidente”, opinou Anderson.
Ademais, Anderson adotou algumas alternativas para mais cuidado nas pescarias. “No meu caso, eu fiquei de costa para mata, é uma coisa que eu já evito. Agora pesco de caiaque justamente para eu tá no meio do rio”, disse.
Outro ponto, é a percepção da natureza. Para o influencer, é necessário estar atento aos barulhos ao redor.