Em 2024, Cultura foi marcada pela 14 de Julho bombando, shows nacionais e adiamento de festivais

Confira a retrospectiva dos principais assuntos que movimentaram a cultura em 2024, na Capital

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14 de julho
Rua 14 de julho durante fechamentos no 2º semestre (Reprodução, Edflydrone)

Não dá para negar que em 2024 o cenário cultural de Campo Grande foi bastante movimentado. A cidade recebeu artistas renomados nas edições do MS ao Vivo, realizados no Parque das Nações Indígenas, enquanto feiras culturais se expandiram e outras foram criadas. Houve, também, revitalização e inauguração de prédios destinados à cultura na capital.

Contudo, não há como fazer uma retrospectiva do cenário cultural de Campo Grande em 2024 sem começar pelo que pode ser considerado o principal assunto do ano: uma espécie de “renascimento” da Rua 14 de Julho, que voltou a ser tornou um novo marco popular da capital com a abertura de bares.

Ao mesmo tempo em que os bares da 14 atraem um grande público e animam as noites, a questão ainda divide opiniões de comerciantes, frequentadores e do poder público da cidade.

Bares da 14 de Julho criaram novo cenário cultural em Campo Grande

Há quatro meses, o Jornal Midiamax publicava matéria sobre o contraste entre a 14 de Julho e demais pontos ‘culturais’ de Campo Grande. Isso porque a via foi revitalizada por um custo milionário, tornando-se até cartão postal da cidade. Por outro lado, outras obras, igualmente milionárias, não tiveram a mesma sorte – como a Orla Ferroviária.

Assim, em contraste com locais que não vingaram como centros de lazer, a 14 de Julho surge como um ponto de reunião e expressão cultural. O movimento se concretizou ao longo do ano, de forma orgânica e natural, ou seja, sem uma estratégia de ativação pensada e planejada. E logo atraiu público o bastante para encher a rua, como um grande bloco carnavalesco.

Com as atrações da via atraindo cada vez mais público, a Prefeitura decidiu testar o fechamento da via no feriado de aniversário de Campo Grande, comemorado no dia 26 de agosto. A estratégia foi anunciada um dia após o Jornal Midiamax publicar matéria especial sobre a importância da ocupação ordenada.

Após o teste de fechamento da rua, a Prefeitura também oficializou o local como Corredor Gastronômico, Turístico e Cultural.

Público recorde e problemas

Contudo, o fechamento da Rua 14 de Julho não foi apenas flores. Logo nas primeiras edições do fechamento, o público aumentou consideravelmente. Comerciantes e frequentadores do local sentiram falta de policiamento garantidas pela Prefeitura em reunião.

Rua 14 de julho
Rua 14 de julho (Guilherme Cavalcante, Midiamax)

Outra questão levantada foi a proliferação de ambulantes, que viram uma forma de lucrar com o novo ponto cultural da cidade. Além disso, a sujeira no local foi alvo de reclamações, já que também faltou estrutura no local, como banheiros químicos.

“Isso vai desagradar os lojistas que abrem de manhã. Havia um ponto próximo a Antônio Maria Coelho onde as pessoas urinavam no chão. Não acontece isso nos dias normais, então precisamos de reforço nisso para evitar ocorrer”, pontuou um empreendedor.

Comerciantes revelam preocupação com horário estendido de Natal

Outra preocupação dos empresários que têm comércio na Rua 14 de Julho é com relação ao horário estendido na véspera de Natal. É de conhecimento de todos que nos dias que antecedem feriados como Natal, os lojistas operam em horário especial para atender os clientes que deixaram as compras para última hora.

Contudo, há comerciantes preocupados com a nova vizinhança. Segundo eles, as atividades de compras não combinam com a programação de lazer que a rua oferece aos fins de semana.

Luzes de Natal na Rua 14 de Julho (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

“Eu acredito que vai ficar ruim. Até mesmo porque a gente nem terminou de fechar e eles já começam a botar as cadeiras. E é outro tipo de público. O pessoal vem para beber, para fazer barulho, não é para comprar. Quem vem para comprar, às vezes, não acha vaga, aí já vê aquela ‘muvuqueira’, disse uma comerciante.

Empresários avaliam fechamento como problemático

Embora a ideia tenha sido, inicialmente, bem recebida pelos empresários, os proprietários dos bares da Rua 14 de Julho, contudo, afirmam que o fechamento da via às sextas-feiras e aos sábados não foi benéfico. Além da infraestrutura e segurança, a concorrência desleal de ambulantes com os empreendimentos fez a matemática não chegar.

“Investimos em atrações, temos alvará, pagamos aluguel, energia elétrica dos freezers, somos fiscalizados e tudo mais. Essas coisas têm custos. É completamente desleal um ambulante estacionar o carro ali e vender as mesmas coisas que a gente a um preço bem menor”, pontuou ao Jornal Midiamax um dos empresários.

Em recente audiência pública, a secretária Municipal de Cultura e Turismo, Mara Gurgel, disse que este foi um pedido dos próprios comerciantes. Porém, a Prefeitura percebeu que, desta forma, precisaria de mais estrutura para garantir a segurança dos frequentadores do local.

“A própria população quis que continuasse o fechamento da Rua 14 de Julho, mas temos que ser responsáveis. Percebemos que o fechamento triplicou [o número de frequentadores], ou até mais que isso, um público que a gente não seguraria. Em cima disso, os comerciantes locais solicitaram a abertura novamente. Nós fizemos isso. O fechamento não foi pensado no projeto. Ele foi pensado quando houve uma demanda dos comerciantes locais”, apontou.

Toda a situação, a propósito, levantou debate sobre o que explica a enorme procura pelo local. Novidade? Carência de mais locais de entretenimento pela cidade? Essa é uma discussão que provavelmente deve atravessar 2025.

Reinauguração do Centro Cultural José Octávio Guizzo

Após oito anos fechado, o Centro Cultural José Octávio Guizzo reabriu as portas, em Campo Grande. A reinauguração aconteceu em abril deste ano. A reforma estava prevista para ser entregue em 2023, contudo o volume de chuvas atrasou a finalização da obra.

Dentre as mudanças realizadas no espaço, destacam-se instalação de ar-condicionado, manutenção na parte hidráulica e elétrica, salas equipadas para artes, implementação de teatro de bolso e áreas de acessibilidade.

Centro Cultural José Octávio Guizzo. (Divulgação)

“No Centro Cultural houve uma reforma total, completa, banheiros, instalações elétricas, hidráulicas. Houve troca de todo o mobiliário, acústica, sonorização além de uma ampliação dos camarins e tudo equipado para atender com acessibilidade”, relatou a arquiteta responsável pela obra, Cláudia La Picirelli de Arruda.

O emblemático Centro Cultural fica localizado na Rua 26 de Agosto. Ele abriga um dos maiores teatros da Capital, o Teatro Aracy Balabanian, que também passou por revitalização.

Inauguração da Casa de Cultura

Em setembro deste ano também ocorreu a inauguração da 1ª Casa de Cultura de Campo Grande. O espaço é dedicado às múltiplas linguagens artísticas. Para isso, o Exército Brasileiro cedeu o prédio Mello e Cáceres, localizado na Avenida Afonso Pena, 2270

Desde 2018, o prédio abrigava o centro cultural do Sesc. Contudo, em março deste ano, após a conclusão da reforma do Sesc Teatro Prosa, a entidade decidiu encerrar suas atividades no edifício centenário. Assim, atualmente o local conta com estrutura completa para oferecer suporte aos artistas da Capital.

Prédio militar onde funciona a Casa de Cultura é marco da modernização da cidade decorrente da mudança de regime em Campo Grande (Reprodução, PMCG)

MS ao Vivo recebe artistas renomados em 2024

Como fazer uma retrospectiva da cultura em Campo Grande sem falar dos shows do MS ao Vivo? O projeto movimentou o cenário cultural da capital, trazendo cantores renomados para se apresentarem gratuitamente no Parque das Nações Indígenas.

Neste ano, o projeto iniciou-se no mês de março, com show de Tetê Espíndola e Projeto Elllas. Em abril, foi a vez de Falamansa e Canaroots agitarem o parque das Nações, com muito forró e reggae.

Em maio, Toni Garrido e Gideão Dias, com Bibi do Cavaco, se apresentaram no evento. E no mês seguinte, Zeca Baleiro, Chico César e Jerry Espíndola trouxeram repertórios de MPB aos palco do evento.

O segundo semestre de 2024 contou com shows de Diogo Nogueira (julho), Lenine (agosto), Marina Sena (setembro), Jota Quest e Dora Sanches (outubro) e Dudu Nobre (novembro) – este, em substituição de Alcione, artista que inicialmente estava confirmada na temporada.

A cantora Marina Sena durante edição de setembro do MS Ao Vivo (Reprodução, FCMS)

Adiamento de festivais

Dois eventos grandes, os festivais Campão Cultural e América do Sul não ocorreram neste ano, sendo adiados para 2025.

A previsão é de que o “3° Festival Campão Cultural – Edição 2024” aconteça entre 6 e 15 de fevereiro de 2025, visto que o Carnaval deve ocorrer no começo de março. As categorias são: teatro, dança, circo, música, artes visuais, moda, cultura Geek, literatura, audiovisual e cultura de rua.

O Festival valoriza a herança cultural de Mato Grosso do Sul, com expressões artísticas de diversos tipos. As apresentações acontecem em vários pontos de Campo Grande, de forma gratuita. A primeira edição foi realiza em 2021, e a segunda em 2022.

Já a FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul) decidiu adiar o FAS (Festival América do Sul Pantanal), de novembro deste ano, para maio de 2025. Agora, o festival acontecerá entre os dias 22 e 25 de maio.

Campão Cultural foi adiado e deve ser realizado em fevereiro de 2025 (Divulgação, FCMS)

De acordo com a organização do evento, a alteração de data evita conflito com outros eventos de grande porte e intervenções urbanas. Os bombeiros e brigadistas, por exemplo, ainda mantêm equipes em atuação na prevenção e combate a incêndios na região. Dessa forma, a nova data permitirá que o festival aconteça com o máximo de segurança.

O intenso calor em novembro, com temperaturas mais altas em Corumbá, também poderia prejudicar a experiência dos participantes e afetar a saúde de todos os envolvidos. A realização do festival em maio, quando o clima é mais ameno, proporciona uma condição mais adequada para o evento.

Além disso, o FAS poderá retornar às datas tradicionais de realização, pois já havia se consolidado no primeiro semestre do calendário cultural da região. Assim, retomar as datas em maio fortaleceria a identidade do festival, permitindo maior preparação por parte dos artistas e parceiros.

Expansão e fortalecimento das Feiras Culturais

Em 2024, as feiras culturais fizeram sucesso entre os campo-grandenses. Inicialmente, as mais requisitadas eram Feira da Bolívia e Feira do Bosque da Paz. Esta, mesmo enfrentando resistência dos moradores da região, se expandiu e se fortaleceu durante este ano.

O sucesso foi tanto, que as feiras culturais caíram no gosto da população de Campo Grande. Assim, outras feiras surgiram, nos moldes das pioneiras. Em 2024, houve a criação da Feira Mixturô, em maio; da Feira Borogodó, no mês de junho; do Mercado Sankofa, em outubro; entre outras, como a Ziriguidum, que completou um ano em setembro.

As feiras culturais unem empreendedorismo, economia criativa e gastronomia, aos fins de semana de cada mês. Assim, os eventos são ótimas opções de lazer em família para os campo-grandenses.

Feira Ziriguidum completou um ano em 2024 (Foto: Kaike Andrades/ Transgrafias ? Reprodução)

Atrasos em editais de fomento da cultura

Em fevereiro de 2024, o governador Eduardo Riedel (PSDB) anunciou que o FIC (Fundo de Investimentos Culturais) seria de 14 milhões, liberados sempre no primeiro quadrimestre do ano. A agenda foi nomeada de ‘MS Cultural’.

Contudo, o primeiro edital do FIC de 2024 foi publicado no início de dezembro, somando oito meses de atraso. Assim, o edital para pessoa física foi divulgado no dia 5 de dezembro, revelando um investimento de R$ 8,2 milhões. Já para proponentes com cadastro de Pessoa Jurídica, o edital foi publicado no dia seguinte, com um montante de R$ 2,8 milhões para promoção de atividades em todo o Estado.

Atrasos também ocorfreram nos investimentos municipais na cultura. Após dois anos sem lançamento de editais, a Prefeitura de Campo Grande publicou edital do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais de Campo Grande) e Fomteatro (Programa de Fomento ao Teatro).

O investimento somou R$ 4 milhões, divididos em R$ 3,2 milhões para o FMIC e R$ 800 mil para o Fomteatro. O valor estava abaixo das reinvidicações dos artistas da capital, que pediam R$ 6 milhões.

Em outubro deste ano, artistas da capital também se reuniram em frente ao prédio Memorial Apolônio de Carvalho para protestar contra o atraso de 6 meses no cronograma de pagamentos da Lei Paulo Gustavo em Mato Grosso do Sul.

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