Manter a fé em meio aos momentos de medo e incertezas requer muita resiliência e esperança naquilo – ou naquele – que não vemos. Receber um diagnóstico que quase te sentencia a uma vida de vulnerabilidade abre os olhos para a pequenez humana, que desconsideramos muitas vezes ou esquecemos que existe.

Para a enfermeira Elyzer Maria, a vida mudou num piscar de olhos, mas o momento de tempestade gerou tantas reflexões e autodescobertas, que só seguir em frente não bastava. A história precisava ser contada, para que outras pessoas se sentissem acolhidas, entendidas e esperançosas. Neste propósito, surgiu o livro ‘À Espera de Um Milagre'.

Tudo começou em 2020. Era um dia como qualquer outro na rotina de Elyzer, quando ela percebeu uma mancha vermelha no seu colo, bem próxima ao pescoço. No começo não houve preocupação, mas, com a persistência da vermelhidão em sua pele, a enfermeira buscou uma dermatologista, na expectativa de que um remédio ou uma pomada pudessem reverter a situação.

E foi o aconteceu. A médica que atendeu Elyzer recomendou o uso de uma loção e explicou que ela precisaria voltar para uma nova consulta caso a mancha vermelha permanecesse.

Neste meio tempo, ela viajou de para Maceió com a família e na volta, percebeu que havia muitas outras manchas espalhadas por todo seu corpo. Não doía, não ardia e nem coçava, mas ela sabia que aquilo não era normal e buscou um novo dermatologista. Na consulta, veio o primeiro possível diagnóstico: lúpus, uma doença inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos.

Uma biopsia foi solicitada, outros dermatologistas e reumatologistas foram consultados, mas nada de um diagnóstico preciso ser definido. Neste ponto, Ely já tinha dificuldades de mexer os braços e pernas. Ela foi internada às pressas e novas investigações foram feitas.

Após uma semana de internação, enfim veio o resultado: se tratava de uma e autoimune, a dermatomiosite, que compromete a pele e todo o sistema muscular do paciente.

Tratamento

Agora que os sabiam do que se tratava, o tratamento ficou ainda mais intenso. Ely passou a ser medicada com imunossupressores e corticoide. Em uma única semana ela teve infecção de urina, 13 cálculos renais e seus fígados e pâncreas ficaram completamente comprometidos. Após uma cirurgia, a enfermeira foi mandada para casa. Os médicos já não tinham mais o que fazer por ela.

“Mesmo sentindo muita dor, eu pegava os poucos minutos que eu aguentava para ir em frente a um espelho. Eu me olhava e falava: ‘Eu sou mais que vencedora'”, conta.

Depois de um tempo foi necessário que ela voltasse ao hospital para a introdução de sonda. Essa era a única maneira dela conseguir se alimentar. Ela já não falava, não conseguia beber água, não tomava banho sozinha e nem andava. Ela, que antes era uma mulher cheia de vida, se viu completamente dependente do marido e dos filhos.

Sem muitos meios para lidar com a doença de Ely, os médicos recorreram a pulsoterapia intravenosa, que aliviaria os sintomas. Como explicado pela equipe, o tratamento deveria surtir efeito em uma semana e que, de forma geral, era muito bem recebido pelos pacientes. Infelizmente, Ely era uma exceção. O tratamento, por mais intenso que fosse, não teve resultados.

Apesar de tantas respostas negativas ao tratamento e tantas incertezas sobre sua recuperação, uma coisa ela não abria mão: sua fé em Deus.

Ely conta que um dia estava deitada, quando ouviu muito claramente uma voz dizer “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos, agindo eu, quem impedirá?”. Em seu coração, havia a certeza que era Deus falando com ela. E então, Ely, que precisava de ajuda para tudo, se levantou e começou a andar pelo quarto.

“Retirei a sonda e daquele dia pra cá, a minha vida foi mudada e transformada pela minha fé e pelo amor e bondade de Deus”, lembrou.

“Eu não aceitava ficar em cima de uma cama, me lamentando. Eu queria mudança, eu queria minha saúde de volta, queria trabalhar, queria voltar a viver”, conta Ely.

Atualmente, ela não precisa mais de medicamentos, voltou a ter sua independência e vive ainda mais cheia de vida. “Tudo mudou pra mim. Eu dou valor a um canto de pássaros, a natureza me encanta, o carinho das pessoas próximas, minha família está muito mais unida… Ganhei carinho de pessoas que eu nem conhecia, de dentro e de fora do Brasil. Tudo mudou. Há mais encanto, há mais vontade de viver”, pontua.

À Espera de Um Milagre

Assim que ela foi se recuperando, sentiu uma necessidade de compartilhar tudo o que havia enfrentado. E rapidamente, seu testemunho atingiu pessoas de diversos países que tinham recebido o mesmo diagnóstico e estavam mais esperançosos com a cura de Ely.

“Ajudo essas pessoas dizendo: ‘ame a vida, procure um tratamento e tenha fé, porque a fé é libertadora, ela te abre uma porta de possibilidades, ela te faz enxergar além do problema”, explica.

O livro ‘À Espera de Um Milagre' será lançado no dia 10 de fevereiro, na Rua Zeca Atanásio, 330, Residencial União II. O endereço é a casa de Ely. O local foi escolhido como forma de gratidão àqueles que se reuniam ali para, juntamente com ela, formar uma corrente de oração, buscando o fortalecimento espiritual.