A história do sul do Mato Grosso está profundamente ligada à história do gado e do couro do boi. E como um “soldado à disposição do Estado”, a bovinocultura não só alavancou a economia como inspirou e ainda inspira artistas, sejam eles plásticos, visuais, escritores e até fotógrafos.
“O boi foi um soldado que, durante séculos, cuidou deste território. É um insumo muito importante, não só no ponto de vista do seu consumo, mas, do ponto de vista do seu trabalho como tração, com o uso do couro, do chifre, mas, fundamentalmente, o boi está ligado a nossa história. Quer dizer, a nossa história começa [com] o boi que chega aqui a partir de 1524, que vai se estabelecendo e vai dando sustentação ao Estado, no início da sua história”, afirmou ao Jornal Midiamax o historiador Dr. Eronildo Barbosa.
Artistas, escritores e poetas se ‘ancoraram’ no boi
![](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2023/08/04120423/CAPA-PADRAO-14-1.jpg)
Desta forma, o boi passou a ser tão importante que artistas regionais, escritores e poetas se ancoraram neste animal para fazer arte e contarem histórias.
“O boi é este instrumento, usado para falar de uma beleza econômica fantástica, além de que é belo o boi. Talvez, não tenha no Brasil, em nenhum Estado, que desenvolveu tanta integração em cultura, nas suas mais diversas escalas, em relação ao boi. Nós temos uma profunda relação com o boi. Em todo lugar que a gente chega tem algo que lembra o boi”, ressaltou Barbosa.
Veja o depoimento do historiador sobre o ‘ciclo do boi’ em MS:
Como exemplo, ele cita o Mercadão Municipal de Campo Grande. Fundado em 1958, o local vende artesanato, temperos, ervas, cereais, carnes, ervas de tereré e chimarrão, além de alimentos, seja com as cestas básicas ou pastelarias, por exemplo. E é só percorrer os corredores que o boi está impresso em objetos, sejam eles berrantes, sapatos, cintos, aventais, chaveiros e outros, além de quadros decorativos nas bancas ou também enriquecendo o cardápio.
Banca, na terceira geração, possui inúmeros ‘produtos do boi’
![](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2023/08/04120443/CAPA-PADRAO-15-1.jpg)
O microempresário Paulo César, de 55 anos, que há mais de uma década vende objetos de couro em uma banca no mercado, resume o boi como “muito bonito”. Bem perto dele, Ricardo Negrete, de 33 anos, cuida da banca que pertenceu ao avô e envolve toda a família, há 30 anos.
“Aqui sempre pedem algo com a foto do boi e de cavalo. Temos garrafa térmica encapada de couro e com foto do boi (R$ 250), temos a própria cabeça do animal que também sai. É mais raro por conta do preço (R$ 1,8 mil), mas, também sai. E temos também garrafa de vinho com foto do boi (R$ 90), pegador feito do chifre (R$ 25), entre vários outros objetos”, conta Negrete.
![](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2023/08/04120505/CAPA-PADRAO-16-1.jpg)
Nas proximidades, chama atenção um “pingômetro” (R$ 1,3 mil), em que a bebida é armazenada dentro de uma miniatura do boi e é possível completar com até dois litros.
Para quem gosta de objetos mais tradicionais, feitos na madeira, por exemplo, ainda é possível achar uma carroça com dois bois (R$ 899) e também “o próprio” (R$ 450), construído na resina por algum artista.
A escritora e professora universitária aposentada, Maria Adelia Menegazzo, também ressalta que, de fato, o boi é um elemento importante para a cultura de Mato Grosso do Sul, pois, foi alçado à condição simbólica de força e de prosperidade.
“Com isso, todas as atividades decorrentes do animal são passíveis de serem apropriadas artisticamente”, opinou.
‘Carro de Boi’ mostra início da ocupação urbana
![](https://cdn.midiamax.com.br/wp-content/uploads/2023/08/05165838/image-1-5.jpg)
Nas ruas de Campo Grande, há 26 anos, foi instalado o “Monumento aos Pioneiros”, mais conhecido como “carro de boi”, na Praça Nelly Martins. A artista plástica Neide Ono é quem o fez em homenagem ao fundador da cidade.
Ao Jornal Midiamax ela disse que foi um pedido do prefeito da época, Juvêncio César da Fonseca, mostrando justamente onde o carro de boi estacionou pela primeira vez. A obra, composta por peças fundidas de alumínio e metal dourado, fica na esquina das avenidas Ernesto Geisel e Fernando Corrêa da Costa, sendo restaurada recentemente.