‘Soldado à disposição’: boi alavanca economia há cinco séculos em MS e é inspiração para artistas
A história do sul do Mato Grosso está profundamente ligada à história do gado e do couro do boi. E como um “soldado à disposição do Estado”, a bovinocultura não só alavancou a economia como inspirou e ainda inspira artistas, sejam eles plásticos, visuais, escritores e até fotógrafos. “O boi foi um soldado que, durante […]
Graziela Rezende –
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A história do sul do Mato Grosso está profundamente ligada à história do gado e do couro do boi. E como um “soldado à disposição do Estado”, a bovinocultura não só alavancou a economia como inspirou e ainda inspira artistas, sejam eles plásticos, visuais, escritores e até fotógrafos.
“O boi foi um soldado que, durante séculos, cuidou deste território. É um insumo muito importante, não só no ponto de vista do seu consumo, mas, do ponto de vista do seu trabalho como tração, com o uso do couro, do chifre, mas, fundamentalmente, o boi está ligado a nossa história. Quer dizer, a nossa história começa [com] o boi que chega aqui a partir de 1524, que vai se estabelecendo e vai dando sustentação ao Estado, no início da sua história”, afirmou ao Jornal Midiamax o historiador Dr. Eronildo Barbosa.
Artistas, escritores e poetas se ‘ancoraram’ no boi
Desta forma, o boi passou a ser tão importante que artistas regionais, escritores e poetas se ancoraram neste animal para fazer arte e contarem histórias.
“O boi é este instrumento, usado para falar de uma beleza econômica fantástica, além de que é belo o boi. Talvez, não tenha no Brasil, em nenhum Estado, que desenvolveu tanta integração em cultura, nas suas mais diversas escalas, em relação ao boi. Nós temos uma profunda relação com o boi. Em todo lugar que a gente chega tem algo que lembra o boi”, ressaltou Barbosa.
Veja o depoimento do historiador sobre o ‘ciclo do boi’ em MS:
Como exemplo, ele cita o Mercadão Municipal de Campo Grande. Fundado em 1958, o local vende artesanato, temperos, ervas, cereais, carnes, ervas de tereré e chimarrão, além de alimentos, seja com as cestas básicas ou pastelarias, por exemplo. E é só percorrer os corredores que o boi está impresso em objetos, sejam eles berrantes, sapatos, cintos, aventais, chaveiros e outros, além de quadros decorativos nas bancas ou também enriquecendo o cardápio.
Banca, na terceira geração, possui inúmeros ‘produtos do boi’
O microempresário Paulo César, de 55 anos, que há mais de uma década vende objetos de couro em uma banca no mercado, resume o boi como “muito bonito”. Bem perto dele, Ricardo Negrete, de 33 anos, cuida da banca que pertenceu ao avô e envolve toda a família, há 30 anos.
“Aqui sempre pedem algo com a foto do boi e de cavalo. Temos garrafa térmica encapada de couro e com foto do boi (R$ 250), temos a própria cabeça do animal que também sai. É mais raro por conta do preço (R$ 1,8 mil), mas, também sai. E temos também garrafa de vinho com foto do boi (R$ 90), pegador feito do chifre (R$ 25), entre vários outros objetos”, conta Negrete.
Nas proximidades, chama atenção um “pingômetro” (R$ 1,3 mil), em que a bebida é armazenada dentro de uma miniatura do boi e é possível completar com até dois litros.
Para quem gosta de objetos mais tradicionais, feitos na madeira, por exemplo, ainda é possível achar uma carroça com dois bois (R$ 899) e também “o próprio” (R$ 450), construído na resina por algum artista.
A escritora e professora universitária aposentada, Maria Adelia Menegazzo, também ressalta que, de fato, o boi é um elemento importante para a cultura de Mato Grosso do Sul, pois, foi alçado à condição simbólica de força e de prosperidade.
“Com isso, todas as atividades decorrentes do animal são passíveis de serem apropriadas artisticamente”, opinou.
‘Carro de Boi’ mostra início da ocupação urbana
Nas ruas de Campo Grande, há 26 anos, foi instalado o “Monumento aos Pioneiros”, mais conhecido como “carro de boi”, na Praça Nelly Martins. A artista plástica Neide Ono é quem o fez em homenagem ao fundador da cidade.
Ao Jornal Midiamax ela disse que foi um pedido do prefeito da época, Juvêncio César da Fonseca, mostrando justamente onde o carro de boi estacionou pela primeira vez. A obra, composta por peças fundidas de alumínio e metal dourado, fica na esquina das avenidas Ernesto Geisel e Fernando Corrêa da Costa, sendo restaurada recentemente.
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