O campo-grandense Luciano Lavarda, de 35 anos, decidiu se mudar para Aquidauana em 2021 devido à pandemia. Lá, ele se descobriu na profissão da qual fugiu por 30 anos: a de motorista de táxi.

Como conta Luciano, ele é a terceira geração de taxistas na família e até brincava com a esposa falando que na vida ele faria de tudo, menos trabalhar com táxi. Só que a vida, irônica como é, não permitiu que ele fugisse do “destino” por muito mais tempo e, há 1 ano, é nessa andança que ele se encontra feliz.

Só que, como nem tudo são flores, Luciano conta que a forma dos consumidores fazerem viagens mudou muito, tanto em Campo Grande, como no interior, com a vinda dos aplicativos. Em Aquidauana, segundo ele, essa mudança é ainda mais expressiva e muitas pessoas evitam solicitar táxi por achar que pagará muito mais caro do que em uma viagem por aplicativo. Por isso, para que seus clientes não tenham tanto receio de ligar e marcar uma corrida com ele, Luciano se autointitulou táxi/Uber.

E aqui é importante esclarecer que essa é uma das muitas estratégias testadas por ele na intenção de atrair novos clientes.

Mensagens no carro são tentativas para conseguir novos clientes

“Uma vez coloquei um adesivo atrás do carro falando que o porta-malas era tão grande que cabiam dois corpos, mas isso não pegou muito bem na cidade. Então mudei e coloquei ‘se tiver edredom pode trazer porque o ar-condicionado é bem gelado'”, conta.

“Outra vez coloquei: ‘O transporte é muito rápido, mas não tão rápido pra te matar’, mas esse também não pegou muito bem”, relembra.

Vendo que a estratégia precisava ser outra, lá foi Luciano para a internet, na tentativa de ter novas ideias para atrair mais clientela. Foi aí que o novo texto surgiu.

“Faço corrida pra todos os lugares.
Se quiser contar teus chifres e problemas, eu escuto e dou conselho.
Levo até a residência do seu namorado (a), ficante, amante, ex, cliente, sigilo total.
Se quiser fazer ciúmes pro ex, digo “tchau, vida” no final da corrida.
Levo pro motel, casa das primas, matagal, construção abandonada, não ligo pros seus fetiches, EU QUERO É GANHAR DINHEIRO. Até espero, só não participo.
Pra seguir marido ou esposa que te mete chifre, faço 20% de desconto, porque eu gosto de ver é a confusão, separo a briga se ele (a) te bater.
Aceito pix, dinheiro e cartão.
Se precisar, parcelo em até 10x com taxa da máquina!”

Ele conta que há 2 meses tem publicado essa mensagem nos grupos de WhatsApp e que, desde então, novos clientes têm aparecido, querendo solicitar viagem.

“Tem bastante gente que comenta e tira sarro quanto eu posto. Mas eu notei que aumentou o número de cliente. Tem pessoas que ligam pra mim que nunca foram clientes minhas”, conta.

“Serve de terapia e eu nem cobro”

Provavelmente você deve estar se perguntando: será que depois da divulgação, alguém já se interessou pelos serviços extras? A resposta é “ainda não, no máximo um motel”. Mas não é por isso que Luciano não tem causos para contar.

“Teve o caso de uma mulher que estava indo atrás do marido. Ele falou pra ela que estava em um churrasco com os amigos do futebol, mas ela ligava e ele não atendia. Fiquei rodando com ela no carro em volta do campo, e ela não viu ninguém. O cara tinha mandado a localização, mas não dava certo”, conta. “Acho que ela cansou de ficar no carro, desceu e foi procurar de casa em casa. Nunca mais tive notícia”, lembra.

Outra história que ele conta é de uma mulher que pediu a corrida de Aquidauana para Campo Grande, depois de uma briga com o marido.

“Ela foi reclamando dele pra mim a viagem inteira. Eu aconselhei, conversei com ela e deixei ela na rodoviária. Ela falou que ia pra São Paulo. Não deu 5 minutos ela me ligou de volta falando que queria voltar”. Luciano afirma que o casal voltou depois desse dia e até hoje vê os dois andando juntos pela cidade.

“Serve de terapia. A pessoa conversa comigo e eu nem cobro”.