Cheia de identidade, Porto Murtinho se prepara para festividades do Toro Candil em dezembro

Festival de integração começou há cerca de 70 anos, pós-guerra do Paraguai. Atualmente, está a caminho de ser tornar patrimônio cultural de MS

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Festividade ocorre em Porto Murtinho, MS. (Leandro Benites, Arquivo Pessoal)

Porto Murtinho, município a 443 km de Campo Grande, está em um momento muito importante, em que surge como articuladora da grande atividade que será exercida com a rota bioceânica. Mas, cheia de identidade e carregada de tradições, a cidade também retoma uma festa que não ocorria desde 2018, o Festival de Rua do Toro Candil, nos próximos dias 7 e 8 de dezembro.

Alta de casa decorada em Porto Murtinho. (Luis Ilara, Arquivo Pessoal)

“Este é um festival de integração, onde ocorreu pós-guerra do Paraguai, há 70 anos. Na época, as mulheres paraguaias migraram para Porto Murtinho e aqui encontraram alimento, educação e moradia e, como eram muito devotas de Nossa Senhora de Caacupé, ofereceram como promessa festejar o Touro Candil. Assim, de 60 a 70 anos para cá, isso é feito”, afirmou ao MidiaMAIS a produtora audiovisual e empresária Mara Silvestre.

Durante o período, no entanto, Mara diz que a festa “se perdeu”, porém, a tradição fez com que a festividade fosse retomada no ano de 2015. E assim seguiu até 2018, porém, nos anos seguintes não ocorreu por conta da pandemia e também a falta de recursos, em 2022. Neste ano, volta com tudo e, como dizem os munícipes, o “Toro Candil acordou de novo”.

Festa do Toro Candil retoma em 2023 após quatro anos (Leandro Benites e Luiz Ilara, Arquivo Pessoal)

“Posso dizer que, aqui, muitas famílias nunca deixaram de festejar, intimamente, minimamente, então, isso logo aflorou. Acredito que são mais de 50 casas para visitar, em que todos fazem altares. É um trabalho artesanal delas, é genuíno, é cheio de enfeites de Carnaval com papelaria e as pessoas vão colocando e inventando e aquilo que fica é uma obra de arte. Depois de tudo pronto, o Toro Candil passa nas casas na noite do dia 7 para 8 de dezembro. Ele passa com os chifres incendiados, construídos pelas famílias com taquara, cabeça de vaca, é ornamentado, é vestido, é pintado e feito com arame”, explicou Silvestre.

(Leandro Benites, Arquivo Pessoal)

Com o “chifre embebecido com saco de estopa”, é colocado o fogo e os “mascaritas” entram em ação. “É uma genuidade em Porto Murtinho, onde homens se vestem de mulheres e mulheres se vestem de homens. Os mascaritas se tornam promesseiros, teatralizam em gruídos e fazem gestos. Tudo isto surgiu desta manifestação e, nos altares das promesseiras, fazem promessas, pedidos, é um momento santo para eles”, afirmou Mara.

Após um período, saem destes imóveis e, com música alta, começa o jogo de pelota Tá Tá, com a bola também embebecida em saco de estopa com arame. “As pessoas vão de um lado a outro com o Toro Candil, penetrando entre a população, mas, não pega ninguém. Ninguém é atingido pelo fogo”, argumentou Silvestre.

Tradição é do Toro Candil e não do Boi-Bumbá

Toro Candil (Leandro Benites, Arquivo Pessoal)

Segundo Mara, que disse ter herdado todas as tradições da família, a única festa com o touro é em Porto Murtinho e isso precisa ser preservado.

“É a nossa identidade local, da comunidade e inclusive estão em busca de tornar esta festividade um patrimônio cultural e imaterial do Estado. Estão querendo fazer a festa com um boi encantado e um boi bandido, que imita Parintins e isso é descaracterização da cultura local. A nossa festa é muito bonita, desde a travessia do Toro Candil no pôr do sol até umas onze horas, meia-noite e aí começa a carreata no outro dia”, contou.

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