É só o fim do ano chegar que começa aquele típico embate nas empresas e grupos de WhatsApp da família: “E o amigo secreto, vai ter este ano?”. Amado por vários, odiado por muitos, essa ‘experiência social' pode render muitas histórias, risadas, mas também uma aversão completa à brincadeira.

Amigos secretos de família, por exemplo, são um evento canônico na vida de alguém. Cedo ou tarde, isso vai acontecer em algum momento. E é aí que mora o perigo. É que diferente do amigo secreto da firma, que você mantém a compostura mesmo não gostando da experiência ou do presente, no da família, as chances de uma começar – ou ‘traumas' inesquecíveis se instaurar -, é muito grande.

No caso da estudante Julia Mendes, é a segunda opção. Na época com 16 anos, ela queria o que muitos adolescentes gostam: um jogo de Xbox 360. Ou seja, as opções eram diversas e ela realmente acreditava que receberia o presente pedido, mas por fim, o tiro saiu pela culatra.

“Eu estava esperando um Fifa, Lego Marvel… Quando vi a embalagem em formato de jogo, fiquei muito feliz, ainda mais que o tio rico tinha me tirado”, relembra ela.

“Aí quando abri a embalagem era um… ‘Zumba Kids'. Eu já tinha uns 16 anos, o jogo era muito infantil e eu nem gosto de zumba. Fiquei com cara de tristeza pelo resto da noite”, conta ela rindo. Apesar disso, Julia mantém o jogo guardado como uma recordação de uma brincadeira – não muito bem sucedida – para ela, até hoje.

A experiência não foi muito diferente para André Nicolau, quando ele era criança. O publicitário explica que em sua casa sempre existiu uma piada interna de que sua mãe faz tudo para agradá-lo e sempre que ele diz ter gostado muito de algo, ela não mede esforços em comprar para ele o item em questão.

Bom, em 2005 André e sua mãe foram ao cinema assistir ao ‘2 Filhos de Francisco', longa que retrata a história da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. Na época, o publicitário tinha 11 anos. Animado com a história que tinha acabado de ver, ele saiu da sala falando para sua mãe que tinha gostado muito do filme.

É aí que chegamos ao fatídico dia de amigo secreto. “Como eu era uma criança mimada, sempre torcia para minha mãe me tirar, pra ela me dar um Playstation, um Xbox, sei lá”, conta. “Aí, finalmente ela me tirou em um certo Natal e me deu um DVD do filme ‘Dois Filhos de Francisco', relembra André.
É claro que, para uma criança no auge da sua infância, assimilar que aquilo era uma brincadeira, levou um tempo. “Foi triste”, brinca ele. “Ela já tinha feito brincadeira de dar presente falso e eu achei que era o presente falso. Quase perguntei onde estava o de verdade”.

Amigo secreto na firma

E não é apenas nas confraternizações familiares que situações como estas podem acontecer. Nas de empresas, e escola também. O servidor público, Lucas Silva, que trabalha na Câmara Municipal de uma cidade do interior do estado, também não foi muito feliz em uma de suas experiências. “Estávamos em uma confraternização e quem me tirou neste amigo secreto foi um vereador”, relembra ele. “Aí você pensa: ‘vou ganhar o presente do ano, vai ser – O – presente', conta.

Na brincadeira, o combinado era que os presentes tivessem entre R$50 a R$150. Para a pessoa que ele havia tirado, Lucas comprou três presentes e já ciente das reviravoltas que um amigo secreto pode ter, ele nem estava esperando um presente surpreendente, mas algo que pudesse usar.

“Quando chegou a hora, que eu vi que era o vereador, fiquei supercontente, pensei: ‘vou ganhar algo muito bom'”, conta ele. “Aí quando chegou a hora de eu abrir o presente, ele me deu vinho seco. Eu odeio vinho seco, pobre não se acostuma com vinha seco”, lembra ele rindo. “Ele discursou brevemente e explicou que era um vinho chileno que ele tinha comprado durante uma viagem e todo mundo falando: ‘Nossa, que chique! Ganhou um vinho importado'. E até aí tudo bem né?!”.

Mas o ‘plot twist' que Lucas não esperava era que, cinco meses depois, durante uma viagem para Curitiba, se depararia com este mesmo vinho nas prateleiras de todos os mercados, custando apenas R$20. “Ele me deu um vinho dizendo que era chileno, importado, chique e estava lá em Curitiba, por vintão. Aí eu fiquei mais p*to ainda, porque eu nem pude tomar, porque não gosto de vinho seco, dei ele pra outra pessoa”, lembra o servidor. Depois disso ele nunca mais quis participar do amigo secreto da firma. “Achei que eu fosse ganhar algo pelo menos que eu fosse usar, e no fim era algo de beber que eu nem gostava. Depois disso eu nunca mais quis participar não, porque você acaba comprando algo legal e recebe algo ruim em troca.

A professora Adriana Ribeiro passou por algo semelhante na época de faculdade, dessa vez, em uma outra vertente da brincadeira: o amigo da onça. Como ela nunca tinha participado de um, os organizadores disseram que explicariam tudo na hora, garantindo que seria muito mais legal do que tradicional amigo secreto.

Ao chegar no local, ela observou que estava lá uma ex-colega de turma. A moça havia engravidado e por isso optou em deixar o curso no meio do ano. Mas, como era muito amiga da organizadora da confraternização recebeu o convite em cima da hora. “Como elas se encontraram, a organizadora não quis deixar ela fora e convidou ela em cima da hora”, conta. Ou seja, ela não tinha presente.

Ela poderia ter apenas participando do encontro? Sim! Mas decidiu por também brincar no amigo da onça. A moça atravessou a rua, foi até uma conveniência na frente do estabelecimento que estavam e comprou uma caixa de bombom, já que não haviam estipulado valor mínimo e máximo.

Regras lidas, ficou determinado que cada um poderia trocar de presente apenas três vezes. Quando viram a caixa de bombom, todos ficaram muito nervosos, já que ninguém queria aquele presente. “Eu tinha comprado um abajur, a coisa mais linda, fiquei apaixonada por ele e em pânico de sair da brincadeira com uma caixa de chocolates”, conta Adriana.

As trocas de presente começaram e já perto do final, a professora se deparou com alguém lhe entregando o temido presente. “Eu entrei em desespero! Rapidamente consultei as regras e vi que eu podia trocar de presente mais uma vez”, lembra. “Minha colega do lado estava com caixa de sabonete no colo. Aí eu pensei: ‘entre uma caixa de bombom e uma de sabonete, fico com o sabonete'”, conta ela.

“Minha colega ficou triste. Entreguei a caixa de bombom pra ela e pedi desculpas porque assim como eu, ninguém queria aquele presente. Aí ela olhou e falou que ao menos as filhas dela iam gostar”, lembra. “Eu fiquei morrendo de dó, mas saí ao menos com os sabonetes. Eu me recusava a trocar um abajur por uma caixa de bombom”.

Mas adivinhem: a moça da caixa de bombom no fim, saiu com o abajur no colo, bem sorridente.