Projetado em 1932 e inaugurado no ano seguinte pelo engenheiro coronel Newton Cavalcanti, o Obelisco é um dos patrimônios históricos de Campo Grande. O monumento foi erguido para homenagear o fundador da cidade, José Antônio Pereira. Dos áureos tempos para os dias de hoje, são poucos os que possuem o privilégio de contar o que aconteceu naquele dia 26 de agosto e depois, quando ali se tornou ponto de encontro para “brincadeiras assombradas”.

O jornalista e turismólogo Edson Carlos Contar, de 82 anos, não estava presente, porém, os pais dele estavam, assim como todos os netos do fundador. “Meu avô, Antônio Luís, foi homenageado por ser o único filho do fundador presente ao evento. O construtor foi Manoel Secco Thomé, na época o prefeito era o Ítrio Correia da Costa”, relembrou Edson.

Registro da inauguração do Obelisco, em 1933.
Registro da inauguração do Obelisco, em 1933.

Contar não possui absoluta certeza, porém, comenta que acredita que a única foto do evento está em um álbum de Campo Grande, de 1939, sendo que a mesma imagem também foi publicada no livro A Grande Avenida, de Paulo Coelho Machado.

“A avenida terminava ali. Desde então, o Obelisco passou por quatro reformas, sempre adequando as condições de trânsito no local. Eu morava na Rua Padre João Crippa, abaixo da Sete [Rua Sete de Setembro], três quadras do obelisco…tinha um depósito na lateral e diziam ser assombrado”, comentou.

Com mais de oito décadas de história, Obelisco acompanhou desenvolvimento de Campo Grande

Durante as noites, ainda segundo o jornalista, a garota ia lá e “aceitava o desafio” de entrar no depósito. “Quem gerenciava as apostas era o meu amigo de infância, Arnaud Braga. O local era escuro total, só tinha o luar. Isso tudo nos anos quarenta, éramos meninos, época dos seis aos nove anos”, contou, aos risos.

‘Meus amigos já atravessaram o rio’, lamenta jornalista

Fotógrafo reproduziu a mesma foto acima, na Rua José Antônio, mostrando que árvores e construções quase fizeram sumir o obelisco. Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax
Fotógrafo reproduziu a mesma foto acima, na Rua José Antônio, mostrando que árvores e construções quase fizeram sumir o obelisco. Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax

Ao redor, Edson fala que havia muito mato, diferente das ruas e puro concreto das casas e edifícios no entorno do monumento. “Hoje tem um grupo que a gente fica conversando sobre estes momentos. Infelizmente, a maioria dos amigos da época já atravessaram o rio, já faleceram. Nossos últimos encontros foram em 2014, no aniversário de 75 de alguns”, disse.

Atualmente, Edson fala que, raramente, encontra algum sobrevivente. “Acontece de encontrar nos supermercados e clínicas médicas, porém, acho que sou dos mais inteiros ainda vivos, mesmo sendo fumante por 70 anos. Destes amigos, que ali brincaram no entorno do Obelisco, cerca de 15 de foram com a covid”, lamentou.

Estas pessoas, de acordo com Edson, aparecem em minhas crônicas das serestas e cinemas de Campo Grande. “Só restou um seresteiro, o Araes El Daher. No meu próximo livro devo publicar todos que saíram no Correio e revista A Gente. São bons tempos, tempos dourados como a gente dizia”, finalizou.

Detalhe do monumento inaugurado em 1933, em homenagem ao fundador da cidade. Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax