Existem dores que nem o tempo consegue curar. Para Lediane Silveira, de 38 anos, elas se expressam na saudade interminável que sente por Isaac, filho nascido morto devido problemas de saúde durante a gestação. Em questão de minutos, Lediane conheceu e se despediu de Isaac na própria sala de parto. Com a dor estampada no peito, foi na escrita onde a mulher encontrou seu ‘bote salva-vidas' para aceitar o destino concedido em sua vida.

Lediane mora em e trabalha como auxiliar de educação inclusiva. Ao lado do companheiro, Juraci da Silva Junior, 31 anos, descobriu a em abril deste ano. Ao MidiaMAIS, ambos afirmam ter sido uma surpresa, visto que, no passado, eles já haviam se casado e tiveram filhos com outras pessoas. Lediane teve três, enquanto Juraci, dois. Isaac, então, seria fruto de um amor que acabara de nascer no coração do casal, um elo para unir ainda mais a família.

A conexão entre pais e filho era tão grande, que casal só descobriu o sexo do bebê na hora do parto. No entanto, nome já estava escolhido há meses.

Isaac não precisou de ultrassom

Segundo Lediane, antes de descobrir a gestação, ela havia sonhado que seria mãe de um menino. Tempos depois, Juraci sonhou com o nome Isaac. O casal começava a se preparar para a chegada da criança quando as complicações começaram.

A mulher passou mal e foi internada no dia 2 de julho, em Campo Grande. Entre exames e acompanhamento médico, o que restava era uma mistura de medo com esperança.

“Ele mexia, no ultrassom estava tudo certo. Toda vez que a médica vinha e escutava o coração, era uma esperança”, recorda.

Casal
Casal foi pego de suspresa com a gestação(Foto: Nathalia Alcântara)

A situação começou a se agravar quando a gestante passou a perder líquido amniótico – responsável por envolver o bebê e que possui funções importantes. No dia 19 de agosto, Lediane não tinha mais nada do fluído dentro da bolsa. Apresentando riscos de saúde à mãe e ao bebê, restavam duas escolhas: tentar o parto ou fazer o aborto induzido.

Lediane optou pelo parto. Mesmo com todo o esforço, Isaac não resistiu e saiu da barriga já sem vida. Ele tinha quatro meses. Foi assim que, em poucos minutos, a mulher conheceu e se despediu do filho na sala de parto.

“Eu tenho a imagem dele na cabeça. A mãozinha dele de ladinho, cabeludo demais. O olhinho fechado. Era um anjinho”, diz Lediane, emocionada.

Escrita deu apoio para a mãe  

Nesse meio tempo em que esteve internada e vivia constantemente chorando de medo, Lediane recorreu à escrita para se acalmar. Num simples diário, ela relatou os dias passados na unidade de saúde. Foi com a escrita que ela encontrou uma forma de se comunicar com Isaac, mesmo antes de ele ter partido.

“Eu estava sentada no vendo filme quando me veio de escrever uma carta pra ele [Isaac]. Peguei meu caderno e comecei a escrever para ele, mesmo sem saber o que aconteceria horas depois”.

Confira alguns trechos da carta:

“Oi meu lindo bebê, hoje quero deixar registrado alguns momentos que mamãe passou para que hoje aqui no hospital ainda, eu e você lutássemos juntos para que você, como um bebê Guerreiro, vença e que possamos concluir nosso milagre.

Hoje estamos indo para mais ou menos quatro meses que papai do céu nos enviou você. Eu e papai ficamos aqui com muito medo, no início assustados e até passou pela nossa cabeça que não era hora. Porém, em Janeiro, em uma oração no quarto, o revelou à mamãe que enviaria a nós um menino.”

Em seguida, ela relata os momentos vividos no hospital:

Diário
Escrever ajuda a externalizar sentimentos (Foto: Nathalia Alcântara)

“Faz 16 dias que estamos aqui internados tomando medicamentos e muito soro para que fique tudo bem com você e com a mamãe. O papai vem todas as noites, dorme em uma cadeira dura para cuidar da mamãe e vai trabalhar no outro dia muito cansado, porém todos os dias era um dia vencido, eu e o papai sabemos que tudo faz parte do Milagre […] acreditamos que você é um propósito […] mamãe lembra de tudo que eu e o papai passamos para estarmos até aqui, e agora lutando por você, nosso bebê, nosso pacotinho nosso “bichinho”, nosso guerreiro. Estamos aqui ansiosos para esperar a sua chegada, mas aguarda só mais um pouquinho. Tudo vai passar logo e estaremos bem na nossa casinha, no seu cantinho!”

Até que, por fim, ela se despede de Isaac após notícia do falecimento:

“Nosso bichinho, tão cansadinho, resolveu se desembrulhar. Tão pequenino e tão machucadinho, não resistiu. Então, você nasceu com mais ou menos 420g e com mais ou menos 19 semanas, muito pequenino. Todos os dias mamãe escutava seus batimentos quando a médica passava e era sempre como mais um dia de vitória, dia de esperança […] suas mãozinhas e pezinhos eram lindos, seus olhos fechadinhos, dormindo imaginamos que iria ser como da mamãe! Infelizmente você não conseguiu tanto ser forte, cansadinho você nos deixou.

Ah Isaac, você estava sendo muito esperado […] sabemos que você está com papai do céu e está protegido. Te amaremos eternamente”, conclui a carta.

“Tenho saudade do que não pude ter com ele”

É o que afirma Lediane. Após a partida de Isaac, o que ela mais sente falta são das coisas que não conseguiu viver ao lado dele. Após pouco mais de um mês desde o parto, ela afirma já ter aceitado que ele veio ao mundo com um propósito diferente. Enquanto alguns dias são melhores que outros, a saudade é sempre a mesma.

Lediane
Para a mulher, saudade de Isaac é diária (Foto: Nathalia Alcântara)

“Está sendo bem difícil porque, como mãe, nunca tinha passado por isso. Tem horas que vem imagens dele, algum vazio dentro de mim. É como se tivesse tirado de você. Fico pensando nele correndo, o primeiro aninho. Estou no processo ainda de aceitação, porque esquecer eu nunca vou esquecer”, lamenta.

Questionado sobre qual era, então, o propósito de Isaac, o casal afirma ser o amor. “A gente aprendeu muito com ele nesses últimos meses”.

Ainda assim, ambos têm certeza de uma coisa: Isaac continuará eternamente vivo no coração dos seus pais.


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