Alguém aí lembra do drama de cortar bandeirinhas para festa junina?

Memória afetiva veio à tona esta semana, quando iniciou o mês de junho e começamos a falar das antigas tradições nestas festas.

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Bandeirinhas em uma escola particular de Campo Grande. Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax

Pensa em um drama. Agora pensa no drama dobrado e acho que ainda é pouco. Só quem teve que cortar dezenas, até centenas de bandeirinhas para festa junina da escola, sabe do que eu estou falando. E a professora era exigente: “Quero coloridas, do mesmo tamanho, passar uma camada de cola no barbante. E tem que ser a Tenaz porque é da boa”. No dia de levar, outro drama. Era medo de rasgar, de amassar tudo…lembrança raiz de quem tem 30 anos ou mais. Alguém aí se lembra?

A memória afetiva veio à tona esta semana, quando iniciou o mês de junho e houve a reunião de pauta no MidiaMAIS. Vamos falar de festa junina, das tradições, fazer um calendário de eventos, até que alguém dispara: “Será que ainda tem aquela festa junina raiz mesmo, que a gente cortava as bandeirinhas…lembra o drama que era? E o correio elegante? O pau de sebo? As fogueiras? O título de Rei e Rainha da festa? A barraca do beijo? E por aí vai…

No meu lugar de fala, já que participei de muitas festas juninas e estou nessa faixa de idade, vou dar o meu depoimento. “Estudei na Mace a vida inteira e minha avó era bem pertinho ali, na rua Joaquim Murtinho, então eu sempre fazia as bandeirinhas em casa e levava a pé na escola. Lembro que estendia o fio de barbante em uma mesa comprida que minha avó costurava, passava a cola e ia colocando as bandeirinhas. Feitas de papel celofane, sempre tinha uma que rasgava e eu morria de ódio porque tinha que cortar tudo de novo, no tamanho igual”. 

Eu, na festa junina da escola aos 10 anos. Agora, em 2021, levando a filha na festa junina da escola. Foto: Graziela Rezende/Arquivo Pessoal

Outro drama era a quadrilha, que dançávamos na quadra, entrando pela rua Rui Barbosa. “Minha avó uma vez fez um vestido acetinado. Tinha o coletinho, a coisa mais linda. Era para um desfile. O meu irmão mais velho foi mais simples, com o típico bigodinho, calça, camisa xadrez e chapéu. Só que fiquei tão tímida que abaixei a cabeça e andei em linha reta no desfile. Ele não, todo desenvolto, sorriu, fez graça com o chapéu e ganhou. Depois, inventaram tipo “uma menção honrosa” e bateram palmas para a roupa mais bonita, a minha no caso. Que micooo! Mesmo assim, amo festa junina e hoje não perco uma, levo minha filha em todas”. 

Fotógrafo participava de todas as festas juninas e vivenciou muitos perrengues

Repórter fotográfico ‘batia ponto’ em todos as festas juninas da escola. Foto: Montagem/Jornal Midiamax

Cheio de memórias desta época festiva, o repórter fotográfico Marcos Ermínio, de 35 anos, também se lembra dos perrengues com as bandeirinhas. Aluno da escola Duran Rimoli, no bairro Silvia Regina, região oeste da cidade, ele fala que também era obrigado a fazer as bandeirinhas e se lembra das exigências da professora. 

“No meu caso, eu fazia na quadra da escola. A professora também falava dessa cola e dava um papelão com os moldes, mandando a gente cortar e usar uma tesoura sem ponta. Era ruim porque a gente queria a outra, mas ela não deixava. No ensino fundamental eu participei de tudo: fazendo bandeirinha, dançando quadrilha, pescarias, lembro até de uma rifa que a gente tinha que comprar para ajudar o Rei e a Rainha da Festa. Quem arrecadasse mais ganhava e, no final, a gente que era da mesma turma ganhava um passeio. Era muito legal”, contou. 

Mas, ao falar da vestimenta, um “quase trauma” veio à tona. “Minha mãe pregava retalhos na calça jeans e minha tia sempre queria pregar um coração na bunda e eu nunca deixava. Só que uma vez ela deu uma gravata de crochê e eu tive que usar. Não teve jeito. Eu fazia bigode também, todo ano. Na oitava série lembro que fui o noivo e dancei com a filha da diretora, pensa na responsabilidade. Nessa vez, minha mãe teve que providenciar um girassol para colocar no bolso da camisa. São lembranças maravilhosas”, comentou. 

O estudante de medicina, Flávio Dias, de 33 anos, nem mora no Brasil mais, porém, se lembra muito das festas juninas da Escola Estadual Abadina Faustina Inacio, em Camapuã, região norte do estado. 

“Já fiz muita bandeirinha na festa junina, isso me faz recordar muito a infância. Essa era a maior festa da minha escola, que era também a maior da cidade, então outros alunos frequentavam e a professora mobilizava todo mundo pra ajudar. Ela tinha tanto bandeirinha no papel de seda como nos jornais para cortar e misturava tudo para deixar bem bonito e chamativo. Depois, a gente ajudava na fogueira. Era um momento de união e alegria”, relembrou. 

Alunos fazendo bandeirinha, em escola estadual de Corumbá. Foto: Redes Socias/Reprodução

A servidora pública Janaina Gomes, de 36 anos, mora em Brasília atualmente, porém, já participou de muitas festas juninas na capital sul-mato-grossense. “Aqui onde estou, devo confessar que uma das melhores coisas é que aqui as festas juninas começam em maio e vão até julho mesmo, todo final de semana tem uma para ir. Tem festas nas igrejas, cheias de comidas gostosas e com brincadeiras, do jeito que eu amo. Da minha época de escola, lembro das comidas também e da montagem das bandeirinhas na sala de aula e no ginásio onde a gente apresentava as danças”, argumentou. 

Cadê a barraca do beijo, o correio elegante, a cadeia e o pau de sebo?

Foto: Internet/Reprodução

A psicóloga Iara Brandalise, de 37 anos, fala que não se lembra das bandeirinhas e ressalta que não vê festas juninas como antigamente.

“Nunca mais vi festas com a barraca do beijo, o correio elegante, a cadeia que prendiam a gente sem nenhum motivo e tinha que pagar para sair e o pau de sebo. O nome já fala: era um pau bem alto e cheio de sebo. Aí as pessoas ficavam tentando subir, era bem grudento mesmo. Não lembro o que tinha lá em cima, só sei que ganhava um prêmio para quem conseguisse chegar ao topo. Eu tinha a mania de subir no final, quando um monte de gente já tinha tentado”, brincou. mesmo.  

Quer preparar uma festa junina raiz? Veja o que não pode faltar…

  • Mesa recheada de comidas típicas: arroz carreteiro, milho cozido, quentão, canjica, amendoim, paçoca, pé de moleque, entre outros.
  • Quadrilha: dança típica
  • Pescaria
  • Correio elegante
  • Música nordestina
  • Cadeia
  • Corrida de saco
  • Boca do Palhaço
  • Pau de sebo
  • Rabo do burro
  • Noivo e noiva

Origem das festas juninas

Conforme historiadores, as origens da festa junina estão diretamente relacionadas a festividades pagãs realizadas na Europa, na passagem da primavera para o verão, momento chamado de solstício de verão. Desta forma, essas festas buscavam afastar maus espíritos e qualquer praga que pudesse atingir a colheita. Isso tudo ocorria no solstício de verão, no hemisfério norte, exatamente no mês de junho.

Chegada da festa junina ao Brasil

Último Arraial de Santo Antônio (Foto: Divulgação/PMCG)

O começo da festa junina no Brasil remonta ao século XVI. Nessa época, as festas juninas eram tradições bastante populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e, por isso, foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização. Aqui era chamada de festa joanina, em referência a São João, mas, ao longo dos anos, teve o nome alterado para festa junina, em referência ao mês no qual ocorre, junho.

O crescimento da festividade aconteceu sobretudo no Nordeste, região que atualmente possui as maiores festas. Atualmente, a maior festa junina do país acontece na cidade de Campina Grande, localizada no estado da Paraíba, com a presença de milhões de pessoas.

E aí? Bora curtir o “arraiá”?

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