Neste Dia Internacional do Orgulho LGBT, comemorado anualmente no dia 28 de Junho, o MidiaMAIS separou 9 personalidades de que fizeram ou fazem parte desta comunidade que merece a visibilidade que conquista cada vez mais e que há de ser celebrada. 

O Dia Internacional do Orgulho LGBT foi criado em referência à Rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969, quando gays, lésbicas, transexuais e drag queens protestaram contra uma ação violenta de policiais nova-iorquinos que queriam fechar um bar que reunia a comunidade. Entre Cantores, advogadas, ativistas, artistas, pesquisadores, humoristas e misses, confira alguns dos perfis de destaque da comunidade em MS: 

Ney Matogrosso

Ney de Souza Pereira, mais conhecido como Ney Matogrosso, não poderia ficar de fora dessa lista. Nascido em Bela Vista-MS, 1 de agosto de 1941, teve a infância e a adolescência marcadas pela solidão, pois se sentia incompreendido pela família e diferente dos outros meninos. Ao completar 18 anos assumiu sua homossexualidade, e decidiu deixar a casa de sua família para ingressar na Aeronáutica. 

Ex-integrante dos Secos & Molhados (1973-1974), foi o artista que mais sobressaiu do grupo após iniciar sua carreira solo com o disco Água do Céu – Pássaro (1975) e com suas apresentações subsequentes. É considerado pela revista Rolling Stone como a terceira maior voz brasileira de todos os tempos e, pela mesma revista, trigésimo primeiro maior artista brasileiro de todos os tempos. 

Embora tenha começado relativamente tarde, das canções poéticas e de gêneros híbridos dos Secos e Molhados ele passou a interpretar outros compositores do país, como Chico Buarque, Cartola, Rita Lee, Tom Jobim, construindo um repertório que prima pela qualidade e versatilidade. Em 1983, completava dez anos de estreia no cenário artístico e já possuía dois Discos de Platina e dois Discos de Ouro, inclusive pela enorme repercussão da canção “Homem com H” de 1981.

Cris Stefanny

Cristiane Stefanny Vidal Vanceslau teve seus primeiros passos políticos engajados em 2001, quando foi convidada a participar do VIII ENTLAIDS – Encontro Nacional de Travestis e Transexuais que atuam na Luta contra a AIDS, em Cabo Frio – RJ, com participação de mais de 200 pessoas travestis e transexuais de todo o Brasil. Foi nessa ocasião que Cris Stefanny, como é mais conhecida, se encantou e quis se aprofundar sobre direitos humanos, educação, saúde, combate à violência, entre outros.

Foi fundadora e coordenadora Geral da Associação das Travestis e Transexuais de MS – ATMS (2001), Presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA (2012-2016), Coordenadora do Fórum de ONGs/AIDS de MS – FONGAIDS (2007-2015), fundadora e presidente do Fórum LGBT/MS (2012-2015).

Em 2015, foi a primeira pessoa travesti a assumir um cargo público no executivo em MS – 2015. Foi presidente do Conselho Estadual LGBT, líder comunitária e presidente da Associação de Moradores do Bairro Residencial Búzios.

É idealizadora e organizadora da Parada da Cidadania LGBT e Show da Diversidade em Campo Grande e atual Coordenadora de Políticas e Assuntos para Diversidade Sexual – LGBT por meio da Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos de Campo Grande – MS.

Marcia Zen 

Márcia Gomes de Moraes, conhecida como Márcia Zen, foi uma importante ativista da saúde pública e direitos humanos, ocupando destacados cargos no âmbito estadual e nacional junto às instâncias de controle social no SUS. Participou da fundação da ART TB Brasil, em agosto de 2019, trazendo a realidade do Centro-Oeste para este fórum nacional. 

Eleita no XX ENONG, ocupou nos últimos anos a Coordenação Executiva da ANAIDS. Participou também da Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (CNAIDS), além de ter atuação junto a população LGBT e na estratégia de Redução de Danos ao uso de álcool e outras drogas.

Nos esportes, Marcia se destacou como jogadora de futsal feminino, sendo campeã da Copa Morena em 1989. Aos 56 anos, em 23 de abril de 2021, Márcia foi vítima de uma AVC e faleceu na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. 

Amanita Muscaria

Amanita Muscaria é ganhadore da sétima edição da corrida das drags, atual Pantanal super star e eterna rainha do reino Fungi; além de dividir o corpo e mente com  Leonardo Bueno, estudante de arquitetura, pintor e muralista. A vida como drag começou há um ano e pouco, logo após o início da pandemia. 

“A minha vontade de fazer Drag veio quando comecei a ver minha habilidade de pintura, e também a necessidade de explorar as possibilidades do meu ser, muitas vezes me via circulado de drags talentosíssimas (como minhas mães Drag, as Milan's), mas não me identificava com a estética de ninguém, isso me fez tomar a coragem pra ser minha própria inspiração”, explica. 

O nome vem de um cogumelo, e os fungos não são animais e nem plantas, possuem seu próprio reino e são seres que transitam entre múltiplos gêneros, então toda a arte se baseia nessa pluralidade. Segundo Amanita, existe um equilíbrio muito deliciando entre ela e Leonardo, os dois têm momentos de brilhar e descansar. 

“Como eu comecei a produzir no período da pandemia, vivo em uma montanha-russa de sentimentos, em alguns momentos eu tenho um amor enorme pelo que produzo e em outros eu não quero nem ver e nem pensar em nada do que faço. Além disso, estou em uma fase em que não faço ideia de qual é  minha identidade de gênero, isso mexe com minha autoestima, já que o mundo lgbtqi+ ainda tem seus padrões estéticos bem fortes, ainda mais em Campo Grande. Muitas vezes eu vejo que existe um padrão até para estar fora do padrão, uma exigência estética para quem se identifica como não binário e afins”, explica. 

“Por sorte eu encontrei um círculo de amizade onde trocamos nossas vivências, isso nos ajuda a entender que cada um tem sua forma de ser  e se expressar e que nossa resistência e importância artística está no existir e viver o dia a dia. Vejo que até a relação com a minha família fica mais forte nos meus momentos de descoberta, a uns dias atrás estava conversando com minha mãe e explicando o que era cada letra do lgbtqi+, e enquanto falava para ela sobre, eu percebi que eu também estava aprendendo e que aquele momento era muito importante. Jamais imaginei que um dia sentaria com minha mãe para falar sobre meu gênero e ela ouviria, isso já é uma conquista enorme que o meu eu, mais novo, jamais sonharia. Eu espero que minha arte continue evoluindo e deixe sua marca em todos que ela alcançar e que todes os grupos da nossa sigla recebam a atenção necessária, somos dignos de amor, carinho, amizade e reconhecimento. Sintam-se orgulhosos o ano todo de serem coloridos em um mundo tão cinza”, finaliza.

Aparecido Reis 

Aparecido Francisco dos Reis é professor e pesquisador referência em sexualidade e gênero na UFMS. Nascido e criado na roça até 18 anos, começo a trabalhar aos 13 ao lado dos irmãos. Na casa em que morava tinha nem eletricidade, nem tv. Se mudou para São Paulo aos 20 anos, nos anos 80 tinha, no auge da epidemia da SIDA e eu não, nem sabia o que fazer naquela situação. 

“Acredito que ninguém sabia, era muito difícil, tinha vontade, mas me repreendia, tanto pelo medo de saberem de mim e pelo medo da AIDS. Era uma época muito difícil para quem era gay, essa altura da vida eu já tinha certeza do que eu era, mas mesmo assim, o ambiente não era propício, todo mundo falava mal de gay. Era muito triste ser gay. Isso era motivo de preconceito, chacota e agressão”, relata. 

Se assumiu homossexual por volta dos 28 anos, nos anos 90 quando estudava na Federal de São Carlos, quando as coisas foram mudando, a sociedade foi se tornando democrática, e houve mais aceitação, fruto da luta  do movimento LGBT.

Há quase 30 anos de trajetória como professor Universitário, mas apenas em 2006, entrou por concurso na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Sempre foi pesquisador, terminou o doutorado em 2001 e desenvolve pesquisas desde então. O primeiro artigo no campo foi sobre violência e homofobia em MS, nesse período conheceu e desenvolveu parcerias com os movimentos LGBT em Campo Grande. 

Com a experiência, conheceu várias lideranças importantes, o quê ampliou o leque de possibilidades de projetos em comum. Foram vários: projetos de extensão, qualificação de pessoal para lidar com temática LGBT, palestras, seminários. Iniciou em 2013 com colegas e alunos da UFMS, o Sigesex: Simpósio de Gênero e Sexualidade, que já está na 4ª edição e reúne pesquisadores do país inteiro. 

“É um trabalho importante, pois abriu o espaço acadêmico para pesquisas sobre grupos de pessoas que historicamente foram oprimidos, massacrados, expulsos de casa. LGBTs sofrem violência em todos os lugares: na família, no trabalho, na rua, na escola e mesmo na universidade, tivemos que agir várias vezes para conter agressões a alunos homossexuais. Muitas vezes, eu tomava conhecimento de alunos sofrendo homofobia de professores, de colegas”, frisa Cido. 

“Apesar disso, o ambiente universitário tem mudado para mais aceitação da diferença. A presença de LGBT's assumidos tem sido cada vez maior em todos os cursos e também na pós-graduação como pesquisadores, não somente de questões relacionadas aos LGBT's, mas com pesquisas em outras áreas, como saúde, educação, biologia, química, física, etc. Tenho orgulho de contribuído para essa mudança”, finaliza.

Orlando Beraldo

Homossexual assumido, o publicitário campo-grandense Orlando Beraldo faz sucesso com vídeos hilários e já tem 1 milhão de seguidores na rede social Tiktok. Um vídeo que postou está com 21,6 milhões de views, o que o deu grande projeção na rede.

“Comecei em janeiro 2020 depois de um canal no Youtube com duas amigas e tivemos a ideia de fazer um vídeo criando um TikTok para cada um, para ver como seria essa nova rede social. Gravamos e criamos os perfis e começamos a postar”, explica o criador.

Até então, os amigos postavam vídeos do dia a dia ou que já tinham gravados no celular, quando o publicitário foi surpreendido pela viralização de um vídeo, que de um dia para o outro teve 30 mil visualizações. Desacostumado com o grande potencial da rede, Orlando começou a explorar mais a rede e a dar mais atenção a postagem e conteúdo. Curiosamente, faz aniversário nesta segunda (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT.

“Para mim o Dia do Orgulho não poderia ser mais perfeito né?! Nascer no Dia do Orgulho só me dá mais alegria e certeza de que estou no caminho certo, que não há nada de errado em ser quem eu sou. E tenho esperança, sim, do nosso país um dia ser um lugar seguro pra nós LGBTQIA+ vivermos e sairmos de nossa casa sem medo do que vamos encontrar na rua”, ressalta.

Nanda Ferraz

Fernanda Ferraz, ou Nanda Ferraz, tem 26 anos e é atualmente a Miss Mato Grosso do Sul Trans 2021. Também trabalha efetivamente na Prefeitura de Corumbá-MS, como agente comunitária de Saúde. Formada na área de Educação Física, também é rainha de bateria de um escola de samba da cidade branca, a Gres Caprichosos de Corumba.

Sempre gostou de participar de concursos de beleza e de Carnaval, mas infelizmente viver só como modelo hoje é apenas um sonho. “Temos muitos gastos e pouco apoio, porém graças a Deus sou abençoada e tive pessoas que acreditaram em mim e me ajudavam. Trabalhar na prefeitura da minha cidade como concursada foi uma grande vitória, pois ainda temos poucas pessoas trans no mercado de trabalho, e no começo foi difícil, pois eu tive minha transição nesse período, então passei por alguns constrangimentos, que com paciência e posicionamento melhoraram cada vez mais” conta.

Para a Miss T 2021, o Dia Internacional do Orgulho LGBT sinaliza a sociedade que existimos e deixa claro que não queremos tomar lugar, força uma aceitação, e sim apenas respeito e igualdade. O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+, a inclusão no mercado de trabalho é muito difícil, não há oportunidade e mesmo assim resistimos, lutamos. Me orgulho em falar que, mesmo sendo uma minoria, ainda mais acredito que lá na frente haverão pessoas LGBT+ trabalhando pela sua capacidade profissional e não por como ela é, se veste ou se sente”, ressalta. 

Alanys Matheusa

A jovem Alanys Matheusa ganhou notoriedade nacional em 2019 após ser destaque na revista Intercept Brasil como a primeira mulher trans negra a se tornar advogada em Mato Grosso do Sul.

Alanys conquistou uma bolsa de 100% do Prouni em uma universidade da capital Campo Grande e passou na prova da OAB ainda enquanto estudava. A formatura da jovem aconteceu no fim do ano passado. A jovem já estava além de outras mulheres trans e travestis, que já tem como desafio a conclusão do Ensino Fundamental e Médio.

“Minha mãe me disse que eu tinha que me manter firme, porque haveria muitos momentos difíceis na vida. Ouvir seu conselho me levou à universidade. Estou terminando na condição de única negra da turma”, disse em entrevista na ocasião a jovem que ainda sonhava em ser juíza.

Um ponto fora da curva e destaque da comunidade, a mulher trans, negra e periférica moradora do teve uma parada cardiorrespiratória no dia 14 de Junho. Posteriormente, foi criado em Campo Grande o Coletivo Negro Alanys Matheusa, em homenagem à jovem e à luta.

João Rosa 

João Rosa é um dos primeiros artistas que possui um trabalho autoral de pagode LGBT no país. Nascido em Campo Grande e irmão do também cantor Karan, integrante do Atitude 67, o rapaz inovou e tenta vencer a barreira da homofobia no cenário musical. Ao lado de Gabeu, filho do artista Solimões, da dupla Rionegro & Solimões, lançaram a parceria musical “Tô torcendo pra ser Dengue”, unindo o pagode autoral LGBT com o Queernejo.

Dedicado e apaixonado pela profissão, João começou como cavaquista em 2011, aluno de quem ele classifica como “mestre”, Luis Café. Entre 2012 e 2013, ele fez parte do grupo Dom Brasileiro, mas precisou trocar a Cidade Morena para cursar Ciências Sociais na USP, em São Paulo. Por ter a música no sangue, João colaborou como compositor e hit gravado por Gabriel Elias, num feat com Onze:20, e voltou às rodas de samba inclusivas a comunidade LGBT chamada “As Sambixas”.

“Acredito muito no trabalho que eu fiz, fala do tema de uma maneira para cima, muito de coração. Fala de uma maneira singela e isso faz toda a diferença para você transmitir uma mensagem. Existem pessoas que, por conta do preconceito, não vão querer ouvir. Está tudo certo porque nenhum artista do país faz música para todo mundo. Minha música fala sobre uma realidade que muitas pessoas LGBT passam de diferentes formas. É sobre como você enxerga sua forma de amar no mundo.”