Fiéis bebem água que ‘sai do túmulo’ de menina de 7 anos no Santo Amaro em Campo Grande
Fátima Aparecida Vieira morreu em 1979 e atrai fiéis em busca de milagres no Dia de Finados
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Já é tradição em Campo Grande visitar em todo feriado de Finados o túmulo de Fátima Aparecida Vieira, a menina que faleceu aos 7 anos de idade em 1979 e ganhou fama de milagreira. Símbolo da crença popular da Capital Morena, “Aparecidinha”, como é conhecida, é buscada por moradores de todas as regiões que se deslocam até o cemitério Santo Amaro, na Avenida Presidente Vargas, por fé e devoção.
Com fama de santinha, a garotinha atrai visitantes em sua “morada” obituária desde que seu mausoléu começou a jorrar água, pouco tempo depois que foi enterrada, em 1979. Ao redor da sepultura, a população levava flores, brinquedos, e cartas com pedidos, mas, por causa da pandemia, segundo populares, não é mais permitido depositar esses objetos ali. No entanto, a água que mina da terra continua a ser ingerida pelos campo-grandenses.
Segundo a crença, o líquido é milagroso. Há até fila para beber e armazenar um pouco da água que sai da cova de Fátima. “Venho todo dia de finados. Até hoje, tudo que eu pedi pra ela, ela me atendeu. Hoje eu venho aqui por uma dor que tenho no braço e tenho certeza que eu vou ser curada, que no próximo dia de finados, se eu estiver viva e voltar aqui, não vou ter mais essa dor. Confio que ela vai interceder junto a Deus pela minha saúde pra tirar essa dor do meu braço”, disse Oracy Gonçalves de Souza, de 61 anos, ao Jornal Midiamax.
No local, Oracy estava acompanhada da filha e da sobrinha, e enfatizou sua devoção. “Começou quando a gente ficou sabendo dos milagres que já tinham acontecido através dela. Eu falo que é a fé, se você tiver fé, vir aqui e pedir para ela, ela vai interceder. Tem mais de 20 anos que eu venho aqui. Sempre fui atendida. Eu tenho fé, vou sair daqui hoje curada já”, disse ela, que é assistente administrativa.
Oracy rememorou a história de Fatinha para o Midiamax e confirmou a crença sobre a água milagrosa, que espalhou por seu braço dolorido. “Dizem que [a água] sai dali [do túmulo]”, confirmou sobre o que se acredita a respeito da origem do líquido.
O diarista Valdemir Dias foi até o Santo Amaro acompanhado da esposa, Ana Cláudia, e da pequena filha do casal, Sara Helena. Ele faz questão de passar pelo túmulo de Fatinha e conhece a história da menina há aproximadamente 5 anos.
“Nunca fiz nenhum pedido, mas nós acreditamos, é uma fé inexplicável. Ela era uma pessoa de grande devoção, e ainda Fátima Aparecida, com esse nome. Venho todo ano. Sinto uma energia grandiosa, uma energia divina. É muito bom estar aqui, é uma pessoa que tinha tudo pra crescer e mesmo assim ajuda muita gente”, disse Valdemir ao MidiaMAIS, enquanto a esposa orava em frente ao jazigo da menina. A crença já está sendo repassada para a filha, Sara, que acompanha os pais no ato de fé.
Enquanto estávamos no local, muitos moradores passaram pela sepultura, mas poucos toparam falar com a reportagem. Discretos em sua fé, devotos chegavam, faziam suas orações, acendiam velas em um altar montado especialmente para Fátima, onde uma escritura agradece seus milagres. Por fim, os fiéis bebiam e espalhavam a água que sai do túmulo pelo corpo na crença de receber alguma graça. Famílias, pessoas com câncer, dores em geral, e enfrentando as mais variadas adversidades.
Cercado por misticismo, o ambiente também é de emoção e se destaca no maior cemitério de Campo Grande. Ninguém se espanta ou tem receio da água que sai da terra onde restos mortais estão enterrados. E, apesar da situação, a água milagrosa é considerada adequada para consumo, segundo a administração do cemitério.
A tradição, movida e alimentada pela fé, faz com a cultura perdure e se propague ao longo de mais de quatro décadas em Campo Grande. Apesar do tempo, muita gente não conhece e sequer faz ideia da existência da história da santinha milagreira da Capital.
O que aconteceu?
Os mais antigos contam que Fátima Aparecida Vieira, a menina Fátima, morreu ao acender uma vela enquanto rezava para Nossa Senhora. A própria família da menina confirmou a história. “Ela era uma menina de muita fé, muito devota de Nossa Senhora”, explicou a devota Oracy à reportagem. Ano após ano, com pandemia ou sem pandemia, o túmulo de Fátima é um dos mais procurados na cidade.
No passado, Paulo Eduardo Vieira, irmão de Fátima, relatou que a menina chegou da escola dizendo que deveria, por orientação da professora, acender uma vela à Nossa Senhora Aparecida para sair bem em uma prova. Enquanto a família estava reunida na varanda, Fátima pediu a bênção da mãe e entrou em casa para tirar o uniforme. Em seguida, ela se trancou no quarto e dediciu fazer a “lição”.
De repente, os familiares começaram a ouvir gritos vindos do quarto e correram para ver o que estava acontecendo. Trancada no cômodo, Fátima não conseguiu abrir a porta e passou a chave por baixo para que a família conseguisse destrancar. Ela então teria saído correndo, com parte do corpo queimado, se ajoelhou e pediu perdão a Deus e à mãe pelo que havia feito, segundo o relato do irmão.
Fátima ficou três dias internada na Santa Casa e, apesar dos ferimentos, aparentava estar bem. Sua morte foi uma surpresa e se tornou uma das mais fortes histórias cercadas de religiosidade e misticismo na Capital sul-mato-grossense.
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