Para muitas pessoas a gravidez é apenas ‘coisa de mulher’ e até os tempos atuais, muitos homens fogem de algumas responsabilidades, da criação dos filhos até tarefas domésticas, pela construção cultural do estereótipo masculino, o ‘ser homem’ o ‘machão’. No entanto, essa realidade tem mudado lentamente e os homens ido para a luta entender os anseios de suas parceiras e enfrentando seus próprios medos. A demonstração dos sentimentos por parte do homem, se abrir e mostrar seus medos, ajuda na vazão de uma energia, que se não descarregada pode levar a violência.

O naturólogo e terapeuta Thiago Koch vivenciando todas as mudanças da esposa no período da gravidez e vendo que não existiam lugares que falavam com o homem sobre o assunto, criou um curso e workshop que tratam do homem paterno. “Precisava ampliar o meu repertório para conseguir lidar com tudo que estava acontecendo”, comenta Thiago.

Desde a gravidez, até o puerpério, o pós-parto, o curso também é uma preparação para uma nova formação do próprio homem. “Não é só para quem vai ser pai, se trata das transformações da minha parceira e também dos meus próprios processos como homem”, explica. O curso e workshop atuam de forma presencial, sobre a gestação e partos para homens. “São meios para que eles vivenciem a paternidade desde a gestação, do vínculo com o filho, entendendo as transformações para torná-lo mais empáticos”, diz.

O pós-parto também é abordado. “Poucos homens conhecem e sabem lidar com essa fase que acontece com a mulher, porque ninguém fala disso para os homens. É uma nova configuração familiar, novas demandas, sentimentos e emoções a flor da pele”.

“Criamos um cenário de acolhimento, onde os homens se sintam seguros para trocar experiências, medos, o que é raro para nós [homens]. Levo estudos com fundamentação teórica para termos conhecimento de um cenário que nunca vamos vivenciar, mas que podemos preencher um pouco desta lacuna”, complementa Thiago.

Os resultados não vêm apenas com as mudanças no ‘ser pai’, mas também no ser humano. “Muitos me procuram para dizer que estão vendo o mundo de outra forma, se relacionando com a parceira de outra forma e se tornando pró-ativo”, revela.

O designer Yan Queiroz, 25 anos, foi um dos alunos do curso. “Tinha muita vontade de fazer. Depois que minha esposa engravidou, já no 6º mês, ganhei o curso de presente dela”, conta Yan.

Os desafios da paternidade e o 'novo homem' em busca de espaço
Yan conta que se tornar pai foi fundamental para crescimento pessoal (Foto: Arquivo Pessoal)

“O principal é se reconectar como masculino ferido. Entender como que a masculinidade atrapalha e se você não estiver bem, você pode se abrir, se mostrar vulnerável”, revela Yan. “Não só para a paternidade, mas para vida, essa figura do machão estereótipo do homem, da força, isso não existe de fato”, complementa.

Padrasto de uma menina de seis anos e pai da Anna Lua, de apenas três meses, Yan afirma que se mostrando vulnerável, aprendeu a se conectar com a esposa. “A gente deixa muito essa coisa da gestação para a mulher, mas temos que fazer parte disso, vestir a camisa, nos tornarmos homens melhores e mais presentes”, destaca.

“Via muitas rodas para falar de parto, de gestação, relatos das mães sobre o assunto, mas onde estão os companheiros nesses lugares. Encontrar pessoas que estão buscando a mesma coisa, me trouxe um pouco de paz também”, finaliza.

Falando em parceria, o papel do homem dentro de casa também é fundamental. O jornalista e empresário campo-grandense, Ludyney Moura, afirma que foge um pouco das tarefas domésticas, mas que tira de letra na criação do Caio, de um ano e meio, e da Manuela, de 3 anos e 10 meses. “A maioria acha que é coisa só da mulher, que ela tem que passar por isso sozinha, mas se torna muito benéfico para a família o homem passar junto”, afirma.

Ludyney conta que a esposa optou pelo parto normal, mas toda a família era contra, por vários medos. “Fomos estudar juntos sobre o assunto e o único apoiador fui eu. Acabou que ela teve o parto que ela sempre sonhou. Acredito que se eu tivesse desistido, ela também teria”, pontua.

O jornalista comenta que dentro de casa é participativo. “Eu que limpo as crianças, ela faz a comida e eu dou, acredito que ter companheirismo é fundamental”, diz. “Já ouvi muitas vezes que ‘isso é coisa de mulher’, mas é coisa dos dois”, completa.

Ludyney conta que Caio e Manuela tem uma criação muito parecida. “Eles são muito diferentes, mas tento criar os dois de uma forma parecida, com princípios e se respeitando. É uma construção, e meu filho vai ser assim. A paternidade mudou tudo que eu pensava sobre tudo”, finaliza.

Mas como isso ajuda no combate a violência?

O psicólogo Willian Souza reafirma que o homem tem uma dificuldade grande em demonstrar sentimento, o que gera uma sobrecarga, principalmente nas mudanças que a paternidade impõe. “Quando a gente tenta não demonstrar, acaba abrindo uma possibilidade para ‘somatizações’, e isso acaba levando para agressividade, para a violência”, destaca.

Para o combate a todos esses problemas, o psicólogo enfatiza que se abrir, mostrar seus medos é a melhor saída. “Demonstrar sentimento, através do diálogo ou de se reconhecer sofrendo, já é simplesmente uma forma de você dar uma vazão a uma carga de energia muito grande que precisa ter uma vazão”.