Protesto contra censura chama para novos atos e tem provocação a deputados
Ruas do centro chegaram a ser temporariamente interditadas
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Ruas do centro chegaram a ser temporariamente interditadas
Eram por volta das 11h da manhã de sexta-feira (15) quando artistas campo-grandenses iniciaram performance artística na Praça Ary Coelho. O objetivo era sensibilizar populares, a partir de uma intervenção lúdica, a respeito da apreensão da obra ‘Pedofilia’, integrante da série ‘Cadafalso’, da artista mineira Alessandra Cunha, a ‘Ropre’.
Para os artistas, as críticas tecidas à obra durante última sessão da Assembleia Legislativa tiraram-na de contexto, de forma que a tela – que visaria denunciar a pedofilia como uma agressão decorrente do machismo e do falocentrismo – fosse considerada apologia ao crime.
de acordo com nota divulgada ontem (14) pelo Fórum Municipal de Cultura de Campo Grande
As provocações eram claras contra o trio de deputados que efetivaram, na manhã de quinta (14), denúncia na DEPCA (Delegacia Especializada de Apoio à Criança e ao Adolescente) por meio de um boletim de ocorrência, baseado em suposta infração do artigo 218A do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Os parlamentares são Paulo Siufi (PMDB), Herculano Borges (SD) e Coronel Davi (PSC).
Um santinho, com autoria de um artista não identificado, parodiava a obra de Alessandra Cunha colocando os deputados como os opressores originalmente retratados na obra como homens nus com penis voltados a uma criança.
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Manifestações
Convocada às pressas, a manifestação desta manhã chegou a interromper o fluxo das Ruas 14 de Julho, 13 de Maio e Afonso Pena, e chegou a ter pequena intervenção policial a fim de ordernar o fluxo de veículos. De acordo com o grupo, o ato foi apenas um de vários que devem ocorrer nos próximos dias – para domingo (17), que é o último dia de exibição de ‘Cadafalso’ no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul), está marcado para às 15h uma intervenção lúdica, poética e pacífica na área externa do museu, onde a obra apreendida estava em exibição.
O presidente do Forum Municipal de Cultura de Campo Grande, Vitor Hugo Samúdio, pontuou que além do ato deste domingo, o grupo deve agir também na Assembleia Legislativa.
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“Estamos definindo os próximos passos, mas é certo que precisamos fazer algo com os deputados. Precisamos chegar a eles, a fim de fazer um debate e, se necessário, um enfrentamento, para que eles percebam que o que fizeram foi censura. Chegar em uma exposição e apreender uma tele é inconcebível em 2017”, aponta.
Artista visual e fotojornalista, Elis Regina é um dos nomes que têm trabalhos eternizados no Museu da Imagem e do Som de Mato Grosso do Sul. Presente no protesto, ela revelou revolta com a ação dos parlamentares.
“Estamos um momento muito estranho no Brasil. Me sinto chocada que a liberdade de expressão seja negada por pessoas que não entendem nada de arte, que nem sequer frequentam museus. Essa obra é uma denúncia e o trabalho da artista é importante, porque traz as pessoas para refletirem sobre uma situação que muito vivem”, pontua a artista.
Classificação etária
Os parlamentares foram procurados pela reportagem e afirmaram não se sentirem agredidos pelas acusações e pelos ataques feitos por integrantes da classe artística e afirmaram que podem, sim, receber a categoria a fim de conversar sobre o imbróglio que nasceu em torno da exposição. O deputado Coronel David (PSC), no entanto, mostrou-se irredutível em relação a seu posicionamento.
“A gente não vive numa sociedade democrática? Numa sociedade com pluralidade de sentimentos e de posicionamentos? Eu tenho o meu e não vou mudar. A Assembleia é a Casa do Povo, eles podem procurar o presidente da Casa, mas eu tenho liberdade de ter meu posicionamento, e isso atende às pessoas que represento”, pontuou o parlamentar.
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O deputado Paulo Siufi (PMDB) afirmou que sua denúncia junto a DEPCA não tem relação com a diligência que culminou na apreensão da obra. “O problema era a faixa etária, que não proibia menores de 18 anos de terem acesso às imagens. Muitas escolas visitaram a exposição e tenho relatos de pais que estão revoltados”, declarou Siufi. “Mas no momento em que o museu mudou a classificação, para mim ficou suficiente, por mais que a questão do incentivo à pedofilia identificado pela polícia seja algo a ser melhor esclarecido”, aponta.
Siufi também negou que os deputados tenham intenção de que as obras que futuramente venham a ser expostas no Marco tenham que ser submetidas aos deputados, conforme circulou nas redes na manhã desta sexta (15). “Não é verdade. Já existe a curadoria para isso. O que queremos é que o catálogo das obras seja distribuído e que nós possamos divulgar e ter conhecimento”, apontou.
O deputado Herculano Borges (SD) afirmou que tem interesse no diálogo com os artistas e que sua intenção com o registro do BO também era de que houvesse alteração da classificação indicativa. “Na minha avaliação, a ação foi bem sucedida, pois a classificação mudou. Não vejo problema de conversar e de escutar a categoria, mas acho que aquele momento a nossa decisão foi correta”, disse o deputado. “Espero que sirva de alerta para que em outras situações futuras não deixem as exposições sem limite de idade”.
Depoimentos e investigação
Foram marcados para esta sexta-feira (15) depoimentos com responsáveis pela exposição, dentre os nomes, o da diretora do Marco, Lucia MontSerrat Bueno. Porém, a oitiva foi remarcada porque a diretora não passou bem de saúde.
À reportagem, Bueno havia declarado na quinta (14) que fechar a exposição ‘Cadafalso’ estava fora de cogitação e que era preciso reconhecer que durante a temporada, os jovens que tiveram acesso à exposição foram mediados e conduzidos ao contexto educativo e à crítica social das obras de Alessadra Cunha. “Neste tempo tivemos debates muito ricos sobre a proposta da exposição, que é justamente denunciar estas violências. Não entendo como isso pode ter sido interpretado como apologia”, aponta.
A reportagem procurou o titular da SECC (Secretaria estadual de Cultura e Cidadania), Athayde Nery, a fim de repercutir o posicionamento do governo, mas até a publicação não conseguiu contato. Todavia, Nery divulgou vídeo na tarde da sexta, no Facebook da Secc, no qual destaca que toda e qualquer obra exposta no Marco passa por edital e por crivo de curadores especializados na área, que analisam a obra e o artista. A SECC também divulgou que a obra ficará em poder da secretaria, e não mais da DEPCA, porém, continuará fora das paredes do Marco.
Também no fim da tarde de sexta, o Ministério Público Estadual liberou posicionamento no qual afirma não haver apologia a crime na obra ‘Pedofilia’, de Alessandra Cunha. Confira o vídeo com o depoimento de Athayde Nery na íntegra abaixo:
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