Pelas mãos dos homens, jovem é morta e idosa vive com deficiência após agressões

O Midiamax constatou que as mulheres são as maiores combatentes desse tipo de violência

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O Midiamax constatou que as mulheres são as maiores combatentes desse tipo de violência

Pelas mãos dos homens, jovem é morta e idosa vive com deficiência após agressões

Elas foram brutalmente violentadas, uma em 2007, outra em 2012 e o terceira este ano. A crueldade praticada pelas mãos dos homens, que teoricamente deveriam protegê-las, causou grande comoção na população campo-grandense. No entanto, o apelo às autoridades não foi o suficiente para frear a agressão gratuita que ainda hoje assola o nosso meio.

“Quero justiça de verdade e não penas alternativas aos culpados, pois fui vítima de um crime que poderia ter custado minha vida. Se hoje estou aqui e ainda proporciono um pouco sossego é porque alguém viu minha importância à sociedade e lutou por mim”, disse a idosa durante audiência.
 
A alusão humana e o relato acima são fictícios, claro, mas caberiam perfeitamente nas entrelinhas dos verídicos inquéritos policiais que envolvem nossas vítimas. 
 
A primeira é uma centenária conhecida popularmente como jatobá, agredida em agosto de 2007, na praça Memorial Paulo Freire, no bairro Chácara Cachoeira em Campo Grande. Alunos da escola Paulo Freire, que utilizavam o ambiente para atividades recreativas descobriram, por acaso, que a árvore estava secando e avisaram a diretora. “Foi quando entramos em contato com a Sema (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) para pedir ajuda e ficamos sabendo que o jatobá havia sido envenenado”, relata a educadora Adelina Spengler.
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A bióloga Noelina Marques Dias, foi primeira a chegar ao local e percebeu que se tratava de algo criminoso, pois haviam perfurações que só poderiam ter sido feitas com auxílio de algum instrumento. “Os furos, uns quatro ou cinco, tinham a circunferência exata de brocas de furadeira e exalavam um cheiro de química, o que depois ficou comprovado”.
 
De acordo com a especialista, o tratamento para eliminar a substância tóxica foi feito à base de adubo, cálcio, fósforo, potássio e muita, mas muita água. “Isolamos um raio de três metros de diâmetro, do tronco, e começamos a hidratar dia e noite, inclusive com um caminhão pipa de plantão no local. Era possível ver o produto químico sair junto com a água, enquanto a árvore liberava sua resina natural”.

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Depois de algumas semanas o velho jatobazeiro, com idade estimada em mais de 150 anos, já dava sinais de recuperação, no entanto jamais voltaria a ser frondosa como antes e ficaria para sempre com as marcas do atentado que sofreu. Hoje, 10 anos depois, pelo menos 40% de sua circunferência é deficitária, já a outra parte, por incrível que pareça, continua dando frutos e servindo de abrigo aos pássaros que ali se alimentam e constroem seus ninhos. “Mesmo com o pouco que sobrou, ela continua contribuindo com o equilíbrio do meio ambiente”, exalta com águas nos olhos a ferrenha defensora da natureza Noelina.

 

 

 

Autoria
 
Não demorou muito para a suposta autoria do atentado ao jatobá vir à tona. Um jardineiro responsável pela manutenção da praça, que prestava serviços à escola, revelou ter visto dois homens da vizinhança envenenar a árvore. “A informação que conseguimos é de que foi o dono da residência mais próxima da árvore quem ordenou o envenenamento porque a árvore fazia sombra em sua piscina, além das folhas que caiam no quintal”, conta Adelina.
 
Ela lembra que o caso foi parar no Juizado Especial Criminal de Pequenas Causas onde o suposto autor negou o crime, no entanto durante audiência concordou em compensar o dano com doações de 15 mudas de palmeiras. “Meu sonho era formar uma alameda de palmeiras na praça. Até foi feita a doação de 10 mudas, mas assim como o valente jatobá, apenas um exemplar vingou”. 

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No período em que nossa equipe esteve no memorial, para gravação das entrevistas, duas cenas nos chamaram atenção. A primeira: o barulho de uma furadeira vindo exatamente da mesma casa onde morava o suposto autor do envenenamento atrapalhava nosso diálogo; A segunda: o som vindo do alto da copa da árvore. Era a resposta da natureza com o João de Barro construindo sua morada na parte vigorante do jatobá.    
 
Noelina explica que, bem ali debaixo da árvore, as cascas que já estavam em decomposição potencializaram o processo do solo devido a quantidade de água e ajudaram 22 sementes a germinar, “o que permitiu com que surgissem novas mudas e com elas a esperança de vida entorno do jatobá”.
 
Para despertar a consciência ecológica nas crianças a escola criou projetos de educação ambiental como o Guardiões da Praça e o Criança e Natureza, que contou com o apoio de entidades locais e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). Este último, de 2011, distribuiu mudas de espécies nativas às mamães nas maternidades da cidade, além do plantio de ipês, feito por alunos, no Parque das Nações Indígenas. Hoje já são mais de 800 mudas plantadas e devidamente identificadas.
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A capa do jornal Correio do Estado, de 01 de setembro de 2007, trazia em destaque a investigação do crime pelo MPE-MS (Ministério Público Estadual) e Polícia Civil e a mobilização de consciência com as crianças. A imagem foi feita pelo fotógrafo Valdenir Rezende, que afirma ter ido ao local por diversas vezes. Com 37 anos de profissão ele relata já ter registrado inúmeros casos de violência ao meio ambiente, no entanto nenhum com tanto destaque como o do jatobá. Ele ficou surpreso ao ver a imagem atual do jatobazeiro. “Realmente é triste ver uma árvore como esta, toda mutilada. Quando ocorreu o crime, mesmo sem as folhas, era possível ver como a copa ainda era cheia”, lamenta.  

 

A segunda vítima  

Na rotatória do cruzamento da Via Parque com a Avenida Mato Grosso está a segunda vítima: o ipê. Mesmo sendo uma das espécies mais reverenciadas por sua beleza exuberante e símbolo da Capital, não escapou dos maus tratos. Em novembro de 2012, ainda em fase de crescimento, sequer teve a chance de sua primeira florada: sofreu uma poda radical que o deixou quase todo ‘pelado’. 
 
O jornalista Luca Maribondo foi um dos primeiros internautas a postar em sua time line um desabafo. “…um ipê foi totalmente desgalhado e desfolhado… Esse é o cuidado com o ambiente em Campo Grande”, trazia a primeira parte do post que atingiu 440 compartilhamentos.
 
Na ocasião, fotos da árvore causaram repercussão nas redes sociais e chamaram atenção não só da população, mas também das autoridades. A delegada da Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e Proteção ao Turista) à época, Rôzeman de Paula, hoje na Corregedoria da Polícia Civil, lembra das manifestações populares e do empenho de sua equipe na resolução do caso. “Me lembro que no mesmo período havia um outro caso na cidade, de homicídio por sinal, no entanto o do ipê era um dos mais discutidos. Trabalhamos incansavelmente para esclarecer esse crime. Ouvimos testemunhas, fomos atrás de imagens que pudessem revelar o autor, enfim, tudo o que foi possível. A própria Prefeitura, que é responsável pelo serviço de podas, na época afirmou que não havia autorizado”. 
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Passaram-se quase cinco anos, a árvore se regenerou e virou notícia novamente.  Porém, todo esforço por parte da polícia e o incansável apelo popular foram em vão. Recentemente o ipê foi removido pela própria Prefeitura durante a execução das obras de reordenamento do tráfego no local. Durante o lançamento das obras o prefeito Marquinhos Trad (PSD) disse que o levantamento apontou a necessidade da retirada de 30 árvores e que seriam replantadas outras 250 para compensar. Já a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), por meio de sua assessoria, não quantifica o número de árvores retiradas e informa que “como medida compensatória, em período adequado, também será realizado o plantio de 125 mudas de espécies variadas na mesma região”. Porém, não esclarece os locais exatos onde serão plantadas.
 
O caso nunca foi elucidado. Após três meses de investigações o inquérito foi concluído sem culpados. Tudo levava a crer que o motivo para a desfolhagem completa da árvore fosse a visibilidade prejudicada de um painel de publicidade, como dizia o post de Luca: “totalmente desgalhado e desfolhado para permitir a visão de um desses horrendos painéis eletrônicos de publicidade ao ar livre”. Outro protesto, um cartaz ao pé da árvore anunciava: “Aquele outdoor me mutilou. Buzine pela vida!”    

“Senti muita pena do ipê ter ido embora porque, além de linda, era poética e um símbolo da nossa cidade. Porém as pessoas cuidam pouco. Quando eu era criança vivia muito entorno disso, pois fui criado no interior do Paraná, num ambiente parecido com Campo Grande, e no quintal da minha casa tinha muitas árvores como mangueira, pé de goiaba e um série de jaboticabeiras. Eu sempre tive essa relação porque gosto e não porque sou um ‘ecochato’. Ver um espaço, à beira de uma avenida como a Mato Grosso, todo arborizado é muito bom. O ar é mais puro”, comenta Luca. 

Para Rôzemam, o que dificultou a apuração do caso foi a falta de provas e ainda a suspeita não de um, mas dois possíveis autores. “Ali haviam dois painéis, um de cada lado da rotatória. Portanto, a população ‘jogou a culpa’ apenas em um, mas não podíamos concluir a investigação sendo que não dava para saber o real culpado. Fomos ao aterro sanitário para ver se achávamos o dono do caminhão amarelo descarregando, pois ele foi visto em plena nove horas da manhã subindo a rotatória para fazer a poda, mas não encontramos. Tivemos acesso a um vídeo, mas novamente sem sucesso porque as imagens não identificavam o autor”. Meses depois ela deixou de exercer a função como titular.
 
Mas o Executivo teria como preservar o ipê mesmo com as obras? Tecnicamente a resposta seria sim, pois hoje já existem máquinas, chamadas de transplantadoras, que fazem a transferência de uma localidade para outra, como ocorreu em Curitiba, capital do Paraná, no ano passado, quando algumas árvores que, assim como em Campo Grande, dificultavam a visibilidade de um painel artístico e foram deslocadas com raiz e tudo. Clique aqui e veja o vídeo 

 

O crime se repete

 

Há cerca de dois meses a comerciante Simone Vilela da Silva, 26, achou estranho que as folhas, que faziam sombra aos clientes em seu ponto de caldo de cana, estavam caindo. Ela percebeu que havia algo estranho, mas não imaginava que a árvore havia sido envenenada com as mesmas características do jatobá: fizeram um buraco e colocaram veneno dentro. Ela não perdeu tempo e acionou a polícia. “Isso só pode ser para prejudicar a gente. Por isso liguei imediatamente para a polícia”. A garaparia fica na Avenida Afonso Pena entre as ruas Calógeras e 14 de Julho.
 
Mas não foi apenas Simone que teve as vendas prejudicadas. Na banca vizinha, de capinhas para celulares, que antes era bastante ‘fresquinha’, agora fica exposta ao sol no período da tarde. Isso porque o oiti em frente ao negócio também sofreu atentado e parte dele já está comprometido. Após denúncia, a alternativa encontrada pelo vendedor Rodrigo Rodrigues, 33, para frear a ‘onda’ de ataques foi fixar cartazes com os dizeres: “Fui covardemente envenenada. O Ministério Público e Prefeitura já estão avisados. Envenenar árvore é CRIME. Por favor compartilhe no seu Facebook e WhatsApp. DENUNCIE”.  Segundo ele “foi a solução encontrada para chamar atenção das autoridades”.
 
Deu certo, pois depois da manifestação escrita não demorou muito para os técnicos da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) chegarem ao local. Conforme assessoria de imprensa da Prefeitura, foram envenenadas três árvores com aproximadamente 8 anos e que já apresentavam sinais de definhamento como a queda de folhas.
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A suspeita é de quem tenham sido abertos buracos com o uso de furadeira no tronco das árvores por onde houve a injeção de defensivos agrícolas usados no campo para o controle de pragas. A partir da constatação do problema houve aplicação de antídotos na base de adubos e calcário dolomitico que fornece cálcio e magnésio para a planta. Os resultados deste tratamento têm sido positivo e as árvores têm apresentando sinais de recuperação. Se nada fosse feito, em algumas semanas os oitis estariam definitivamente comprometidos e teriam de ser arrancadas. Por se tratar de envenenamento, em canteiro central, e caso não haja a identificação do autor, a Semadur não tem como autuar.
 
 Sem autorização é crime 
 
Campo Grande conta com pouco mais de 153 mil árvores nas vias urbanas (passeio público, nas praças e canteiros de avenidas), segundo levantamento realizado no final de 2009 por meio do Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU).
 
Realizar uma poda radical ou remover uma árvore sem autorização do órgão competente é considerado crime ambiental. De acordo com o MPE-MS (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul), a Lei 9605/98 prevê penalidades que vão de três meses a um ano de detenção, além de multa, dependendo do caso.
 
De acordo com dados da Decat, a média de crimes ambientais urbanos em Campo Grande é de 11 casos/ano. Neste ano já foram cinco. E quando se trata de repressão nesse tipo de crime são elas, as mulheres, que batem de frente como já percebemos. Marilda do Carmo Rodrigues Ferreira, que tem 30 anos de Polícia Civil e está há 6 meses como delegada titular da Decat, acredita que, assim como nos casos de violência doméstica – tema que trabalhou quando esteve na Delegacia da Mulher em Corumbá/MS – atualmente há um enfrentamento maior por parte da sociedade e consequentemente mais denúncias. “Acredito que este número não seja exatamente de casos reais. Por isso é importante que o denunciante faça o registro para que seja instaurado um Termo Circunstanciado de Ocorrência”.

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Ela ainda adverte sobre a prevenção, tanto para quem contrata, como para quem realiza o serviço, para não acarretar em outros crimes. “É muito importante estar atento em todas as etapas desse procedimento. Tivemos um caso no qual o indivíduo ocorreu em três crimes em um só momento, pois praticou a remoção sem autorização, utilizou motosserra sem licença e ainda fez o descarte de forma irregular. Portanto, além da detenção e de responder judicialmente, perdeu os equipamentos e pagou uma multa altíssima”.
 
De acordo com dados da Semadur no período de janeiro a junho deste ano foram expedidas 60 multas. Para os casos de podas e remoções irregulares elas variam entre R$ 456,46 à R$ 15.824,22. Também estão previstos os casos de compensação ambiental.
 
Como fazer?
Quem deseja solicitar uma poda ou remoção deverá comparecer no protocolo geral da CAC (Central de Atendimento ao Cidadão) e solicitar a abertura de processo.  Um fiscal realizará a vistoria e somente após o laudo expedido será autorizado a realizar a poda ou a remoção da árvore. O prazo médio para autorização é de 45 dias e somente o proprietário ou a pessoa com a autorização por escrito e assinada pelo proprietário pode solicitar a abertura do processo. São exigidas cópia do documento pessoal e comprovante de residência, além do requerimento (fornecido na hora para preenchimento) solicitando o pedido para poda ou remoção.

 

Mudas que mudam

 
Iniciativas como os projetos ambientais às crianças vão muito além do simples fato de se plantar uma árvore. Na zona rural, por exemplo, a função da planta afeta diretamente a vida urbana, como explica o engenheiro ambiental Fernando Garayo, coordenador de meio ambiente e qualidade da Águas Guariroba.
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“O número de árvores existente numa região tem uma relação direta com o volume e qualidade de água que ali se encontra. A perda de uma árvore, numa área de mata ciliar por exemplo, acarreta em problemas na retenção do solo e resulta em processos erosivos dizimando as nascentes e consequentemente menos água aos rios e problemas à cidade. Sem contar que há uma diminuição do escoamento superficial das águas da chuva também”.
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De acordo com Garayo, projetos pedagógicos podem contar com o apoio do viveiro de mudas da empresa, com capacidade de produção de 50 mil/ano, onde são cultivadas espécies nativas do Cerrado, cerca de 30. “A maior parte da nossa produção serve para auxiliar produtores rurais na preservação de áreas de mananciais onde estão as bacias dos córregos Lageado e Guariroba que abastecem nossa região. No entanto, há muitas parcerias para preservação na área urbana também”. Desde 2006, quando iniciaram as atividades do viveiro na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) Los Angeles, já foram doadas mais 300 mil mudas. Este ano já somam 12 mil mudas. 

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