Para especialista, filmagem da desgraça alheia é ‘circo de horrores’
Em tempos de smartphones filmar cenários de tragédia tem se tornado comum
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Em tempos de smartphones filmar cenários de tragédia tem se tornado comum
Segunda-feira (12), feriado com tempo chuvoso na BR-060, logo ali na região do Bolicho Seco. Três veículos, uma aquaplanagem, uma batida violenta. Três mortos: uma criança de 8 anos, uma mulher de 27 e uma idosa de 65.
O cenário descrito acima, além de chocante, é real. Mais chocante ainda foi a atitude de alguns curiosos que estiveram pelo local do acidente que, sem esboçar qualquer sensibilidade e armados com seus dispositivos de filmagem, não perderam tempo e foram logo tentando obter o melhor registro da tragédia alheia. Quanto mais impactantes fossem as imagens, melhor!
Em tempos de smartphones super modernos, o dia a dia captado por lentes de dispositivos móveis já tornou-se comum. Mas até que ponto esses registros podem chegar? Para algumas pessoas, limite é uma palavra inexistente, e mais vale um flagra, mesmo que sensacionalista e cruel, que atitudes de solidariedade e respeito.
Para o sociólogo Paulo Cabral, a prática de fotografar, filmar e reproduzir conteúdo de cenários de acidentes, principalmente quando envolve mortes, é uma prática mórbida que revela o lado maldoso e egoísta das pessoas.
“Essa é uma prática extremamente mórbida e reflete uma indigência existencial. Pessoas que fazem esse tipo de coisa são destituídas de propósitos consistentes e tem uma vida tão rasa a ponto de achar esse circo dos horrores um grande barato”, afirma.
Segundo o especialista, outro grande problema, é o elevado número de ‘consumidores da maldade’, que chegam a sentir prazer em ver situações catastróficas. Comportamento que de acordo com ele, não é de hoje. “Isso nos remete muito ao circo romano, onde as pessoas se reuniam pelo único prazer de assistir a morte de seres humanos”, recorda.
Em uma analise do perfil dos midiáticos fanáticos pela tragédia, Paulo Cabral relata que pessoas que na maioria das vezes, pessoas que têm esse tipo de comportamento não apresentam preocupação com os envolvidos ou com seus familiares. Para eles, a prática é amoral. “Quem tem essa prática não se importa com o que o outro sente, estando bom pra ele está de bom tamanho”, explica.
O sociólogo também lembra, que o fato de ser testemunha ocular de um acidente ou situação de drama, cria um sentimento de superioridade em quem divulga as imagens. “Eles se sentem importantes no ciclo em que vivem por serem portadores do infortúnio alheio”, finaliza.
Há 6 anos trabalhando no serviço de investigação da Polícia Civil, Frank Pereira, um dos policiais que participaram do socorro no acidente da BR-060, diz que ainda se impressiona com algumas atitudes. “Ontem um motorista chegou a bater no carro da frente porque estava distraído com o celular, tentando filmar a área do acidente”, lembra.
O investigador lembra que em algumas situações, curiosos chegam ao extremo de tentar retirar os lençóis colocados sobre cadáveres, na tentativa de fotografá-los. “Quando são impedidos de fazer as imagens, muitas pessoas se revoltam e ficam bravos com a equipe policial, mas temos o dever de manter a integridade”, relata. Para Frank, esses fatos fogem à curiosidade e tornam-se questões de educação.
A polícia recomenda que em casos de acidentes motoristas não desçam de seus carros e não tentem se aproximar do local. Aglomerações além de atrapalhar o fluxo das vias, podem interferir da excelência do socorro às vítimas.
Pessoas que descumprirem a ordem de manter distância do local de acidentes, podem ser enquadradas no crime de desobediência previsto na lei, mas sabemos que em acidentes, mortes ou qualquer ou qualquer situação trágica, o bom senso sempre deve ser ativado.
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