Quase 30% dos brasileiros entre 16 e 24 anos já namorou alguém on-line
Eles se conheceram na infância quando moravam no mesmo condomínio em Cuiabá, Mato Grosso. Nunca tiveram muita proximidade e por motivos alheios se separaram. Carolina Lima, 28 anos, mudou-se para Campo Grande com a família e Pedro Jacob, 28, passou por vários lugares, até se fixar em Minas Gerais em 2013. Ano no qual os dois se reencontraram, depois de mais de dez anos, graças à internet.
“Eu era amiguinha da irmã dele quando criança, mas só. Um dia vi o perfil dele no Facebook e decidi adicionar. Ele demorou a me reconhecer, mas aceitou. Ali começamos a conversar”, conta, entre suspiros, Carolina que hoje vive com Pedro em Porto Velho, Rondônia.
Antes do tão esperado encontro, foram vários e vários meses namorando pela internet. “Nós começamos conversando pouco. Porque eu insistia. Ele não é muito de redes sociais, mas quando vimos, estávamos conversando por horas. Foi uma época muito gostosa”, diz Carol ao MidiaMAIS.
O primeiro encontro dos dois foi em Uberlândia, a metade do caminho para os dois que na época não dispunham de muita grana. “Quando cheguei à rodoviária ele estava me esperando. O vi de longe. Não esqueço a sensação. Foi estranho no começo, nos cumprimentamos com beijo no rosto só. Passamos umas horinhas…e acabou tudo. Já éramos superíntimos e nunca mais nos desgrudamos.”
Depois disso, Carol voltou para Campo Grande, mas a cabeça e o coração estavam com Pedro que pouco tempo depois deu o ultimato: “Vou ser transferido para Porto Velho. Quer vir comigo?” “Eu senti um pouco de medo, sim. Mas no fundo, tinha a certeza de que o máximo que poderia acontecer era eu voltar para casa e fui.” Por lá, os dois vivem muito bem. Carolina encontrou um bom nicho de mercado para a sua profissão [professora] e Pedro, que é engenheiro mecânico, também está satisfeito. Sem planos de retorno a Campo Grande. Um final feliz – com todas as inconstâncias, alegrias e tristezas que essa expressão carrega – para eles.
Por mais linda, romântica, inspiradora e única que seja a história dos dois, ela está longe der ser rara. Pelo contrário, a maioria dos casais formados por “nativos digitais” surgem nas inúmeras redes sociais que pipocam por aí.
Nada incomum
De acordo com pesquisa divulgada neste mês de julho pelo Datafolha, quase 30% dos brasileiros entre 16 e 24 anos já namoraram alguém que conheceu na internet. Reflexo das mudanças de comportamentos a que estamos sujeitos desde o surgimento de avanços tecnológicos e de telecomunicações oriundos do período pós-industrial. E a internet revolucionou tudo o que conhecíamos como maneiras de encontrar pessoas e criar vínculos com elas.
O Brasil tem a quarta maior população do mundo de “nativos digitais” – aqueles jovens que cresceram na expansão da internet, segundo dados compilados pela UIT (União Internacional das Telecomunicações), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2013.
Para esses jovens extremamente conectados, nada mais natural que encontrar trabalho, lazer, esportes e também o amor, o primeiro amor, na internet. Este é o caso de Danilo Soares, 20 anos, que conheceu o seu primeiro amor em um aplicativo de bate-papo pela internet. A eleita vive longe, em Itumbiara, mas os planos são de que o encontro ocorra o mais rápido possível.
“Ela viria neste mês, mas aconteceram algumas coisas que adiaram essa viagem. Estamos muito ansiosos. Estou realmente apaixonado pela primeira vez na minha vida”, conta. Como o namoro é pela tela do computador, a família toda acompanha. “Às vezes deixamos tudo conectado mesmo durante a noite. É como se estivéssemos dormindo juntos”, explica. Quem não gosta nada disso é o irmão Igor Gabriel, 18 anos. “Dá um pouco de raiva quando quero usar o computador e ele não desliga nunca”, diz.
E quando não dá certo…
Ainda segundo a pesquisa do Datafolha, apesar de 62% dos jovens não acharem seguro conversar com desconhecidos em redes sociais, 57% já se encontraram pessoalmente com alguém que conheceram on-line. Foi o caso de Alice Matias, 23 anos. Por dois anos ela conversou e amou um rapaz pela internet. Como ele vivia longe, do outro lado do Atlântico, o encontro levou anos para acontecer. Quando aconteceu não foi exatamente como imaginou. “Eu estava apaixonada, mas quando nos encontramos não aconteceu a mesma sintonia. Acho que foi mais idealização nossa. Não sei exatamente como aconteceu. Mas restou as boas lembranças. Ainda nos falamos”, conta.
Amores líquidos
Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, vivemos tempos líquidos onde pouca coisa é feita para durar, para ser sólido. Em seu livro “Amores líquidos”, o autor reflete sobre a inconstância e excessiva flexibilidade dos relacionamentos “modernos”.
Para ele, assim como temos muita facilidade em nos conectarmos as pessoas, temos ainda mais facilidade para nos desconectarmos, seja por medo, insegurança ou qualquer outro motivo. Em muitas situações, as pessoas são tratadas como bens de consumo e acabam descartadas quando há “defeito”. Nisso tudo, o amor “romântico”, aquele que aprendemos nos contos de fada, nas comédias românticas e etc…estão cada vez mais em desuso.
A que tipo de relacionamentos tais transformações nos levarão, de fato, só o tempo dirá. Só nos resta torcer para que os amores virtuais, as mensagens eletrônicas e postagens de Facebook se tornem pequenas diante da magia, eterna, do encontro de carne e osso.