Arte colaborativa: a resistência dos artistas para fazer cultura

Como uma forma de resistência, artistas buscam novos caminhos para fazer a arte acontecer. 

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Como uma forma de resistência, artistas buscam novos caminhos para fazer a arte acontecer. 

Para movimentar a cultura, fazer as coisas acontecerem e efetivamente formar um público que gosta e consome arte, os artistas têm se juntado e trabalhado de forma colaborativa. Como uma forma de resistência, a colaboração entre eles faz com que não desistam e mesmo sem recursos e/ou patrocínios, buscam novos caminhos para fazer a arte acontecer.

Presidente do Fórum Municipal de Cultura de Campo Grande, Airton Raes Fernandes, diz que não apenas em Campo Grande, mas em todo o Mato Grosso do Sul, os artistas que lutam pela legitimidade de sua arte e produzem de forma independente, sem recursos públicos, têm procurado formas colaborativas de trabalhar. “As pessoas têm buscado formas colaborativas para alcançar seus objetivos dentro do meio artístico. Uma das características da arte é o questionamento ao status quo e encontrar alternativas a ele”, diz.

Um dos coreógrafos do Dançurbana e integrante do Espaço Movimente, Marcos Mattos, diz que o local tem exatamente esta pegada: a de unir vários grupos de dança de forma que troquem experiências e façam atividades coletivas para juntar dinheiro para projetos maiores. “Na realidade o Movimente é um espaço que funciona como uma rede de produtores de companhias de dança. E além de ter os grupos, funciona como uma escola de dança também”, diz.

Marcos diz que eles não deixam de participar de editais públicos, mas não ficam na dependência do público para se desenvolverem. “A gente trabalha muito com projetos com incentivos públicos. Mas isso não é a motivação para a criação dos trabalhos. Oferecemos oficinas, workshops. Vendemos trabalhos para instituições privadas, espetáculos, apresentações. A gente cria um curso todo ano, que é um curso de férias. Ai nesse curso a gente vende produtos personalizados, garrafinha, bolsa, camiseta e vamos arrecadando dinheiro”, diz.

O produtor de audiovisual Hélton Pérez também sempre atuou de forma colaborativa. “Sempre me ofereci para fazer esses trabalhos. O que eu chamo de “Ação entre Amigos”. Muitas vezes apenas fazia, sem nem cogitar ir atrás do recurso. Era bora (sic) ir fazer um filme, e a gente ia”, diz.

Após alguns anos fazendo filme assim, ajudando os amigos, sem recurso, e pagando as contas com outras atividades, Hélton diz que começa a colher os frutos do trabalho. “Foram dez anos de trabalho até que a grana começasse a entrar. O investimento para montar a produtora veio de outros trabalhos se não a produção de filmes. Mas agora com a produtora já montada e a experiência desses anos todos, as coisas estão começando a acontecer”, diz.

Ele revela que ainda faz outras atividades para pagar contas e pontua que é preciso estar estudando e se aperfeiçoando sempre: ainda não temos know-hall para viver só de cinema. Estamos batalhando para isso. Sinto que é preciso melhorar a qualidade, não só do meu trabalho, como do que tem sido feito em Mato Grosso do Sul, para justificar investimentos maiores.

O diretor de teatro e ator Vitor Samúdio, do Mercado Cênico, diz que essa também é uma das formas que o grupo encontrou para se manter. “Alguns grupos trabalham de forma colaborativa. Nós trabalhamos assim, de forma mais coletiva”, diz.

Mas para ele, além da ajuda mútua, é preciso criar mecanismos de formação de plateia. “Sem público não há arte. A gente tem se preocupado em formar plateia. Porque quando chega um momento de dificuldade financeira a gente só conta com quem compartilha do nosso trabalho. O que faz o trabalho ser bem focado. Tem que formar público, ter pessoas que gostam de arte, que consomem arte. E para o público que o artista trabalha”, diz.

Agora, no carnaval, por exemplo, o Mercado Cênico, está mais uma vez a frente do Capivara Blasé, bloco de carnaval que leva as antigas marchinhas e o jeito de brincar a festa como antigamente. “No carnaval fizemos o bloco do carnaval – o Capivara Blasé. Fizemos vários prés-carnavais para juntar dinheiro e por o bloco na rua. Muita gente ajudou e muita gente compareceu para conseguirmos essa sustentabilidade”, diz.

Outro bloco, o Evoé Baco, do Grupo Teatral Imaginário Maracangalha, também se formou da mesma forma: com a ajuda de todos. “Vamos fazendo eventos e juntando dinheiro. Um artista faz o som, o outro a iluminação, o outro as fotos. E assim vamos trabalhando”, diz.

Uma das atividades mais promissora do grupo, o Sarobá, também funciona assim. O evento que é um sarau conta com a colaboração de várias artistas, conta Fernando Cruz, diretor do Grupo Teatral Imaginário Maracangalha. “É uma Ocupação Artística de Linguagens Integradas. No Sarobá temos música, dança, teatro, literatura, audiovisual, escambo, cultura da infância e gastronomia. Em cada evento buscamos trazer artistas e coisas diferentes. É um mutirão cultural”, diz.

Assim como a aglutinação de várias artes, a organização é feita por várias pessoas. “Os próprios atores do grupo e nossos comparsas organizam”, diz, sobre os amigos de fora que participam da ação.

Outro projeto do grupo que mostra essa resistência é a Temporada do Chapéu. Com performances, intervenções e teatros de ruas, a proposta, que é ligada à Rede Brasileira de Teatro de Ruas, leva para a periferia, para as praças e diversos outros locais a arte do riso e do drama. “As pessoas ficam encantadas. Na periferia as pessoas chegam com as cadeirinhas para assistir, elas querem consumir arte”, finaliza.

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