Redução de IOF tem pouco efeito no câmbio e dólar sobe 0,26%

A medida anunciada hoje pelo governo, que reduz o prazo de incidência do Imposto sobre Operações (IOF) para captações externas para 180 dias, teve pouco efeito para o mercado de câmbio. Após o anúncio, o dólar chegou a cair frente ao real, mas retomou o movimento de alta com a divulgação do dado melhor que […]

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A medida anunciada hoje pelo governo, que reduz o prazo de incidência do Imposto sobre Operações (IOF) para captações externas para 180 dias, teve pouco efeito para o mercado de câmbio.

Após o anúncio, o dólar chegou a cair frente ao real, mas retomou o movimento de alta com a divulgação do dado melhor que o esperado do índice de atividade no setor de serviços dos Estados Unidos. O dólar comercial subiu 0,26%, fechando a R$ 2,2840, enquanto o contrato futuro para julho recuava 0,06% para R$ 2,296.

A medida anunciada hoje pelo governo visa incentivar as captações de curto prazo de empresas e bancos no mercado externo para melhorar o fluxo cambial e ajudar a conter a pressão de alta do dólar. Analistas avaliam que a ação mostra uma preocupação do governo com a velocidade da alta da moeda norte-americana, que já sobe 1,92% no mês.

Para os analistas, a medida teve pouco efeito para o câmbio, uma vez que a maior parte das operações de captações externas são realizadas para prazos superiores a 360 dias, que oferecem uma oportunidade de arbitragem mais interessante, entre as taxas das linhas lá fora, normalmente atreladas à Libor de 180 dias contra a taxa do cupom cambial. Para se ter uma ideia esse spread estava em 0,7%. O anúncio da medida levou a uma queda das taxas de cupom cambial.

A taxa do Forward Rate Agreement (FRA) de cupom cambial mais curto – espécie de “termômetro” da liquidez no mercado físico ou da expectativa para ela – caía 10,60% , negociando a 0,59%. Já a taxa para o contrato para janeiro de 2015 , recuava 6,48% para 1,01%.

Analistas questionam a disposição dos bancos para tomar linhas lá fora hoje é menor com a mudança do cenário externo, diante da expectativa de normalização da política monetária americana, e o aumento da posição vendida em dólar no mercado à vista dos bancos, que encerrou maio em US$ 14,342 bilhões.

Para diretor de câmbio da corretora NGO, Sidnei Nehme, a oferta de hedge por meio de contratos de swap cambial já não tem o mesmo efeito sobre o câmbio, uma vez que a demanda hoje está mais concentrada no mercado à vista que no futuro. “A medida é um sinal marcante de que o governo está preocupado com o fluxo. A questão é será que esse dinheiro vem?”

O fluxo cambial ficou negativo em US$ 813 milhões em maio, depois de dois meses consecutivos de superávit. O resultado foi impactado pelo déficit de US$ 2,735 bilhões na conta financeira e de um superávit de US$ 1,922 bilhão na conta comercial.

No ano, o fluxo cambial está positivo em US$ 4,028 bilhões, resultado bem inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando estava positivo em US$ 10,755 bilhões. “O governo busca com essa medida a incentivar os bancos a trazerem dólares para suprir a demanda no mercado local”, destaca Nehme.

“A questão é que você tem um momento delicado para a inflação, com o Banco Central interrompendo o ciclo de alta da taxa Selic, e uma valorização mais forte do dólar pode não ajudar”, afirma Tony Volpon, diretor executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura, lembrando que a medida veio logo em seguida ao fato de o BC ter aumentado o volume de contratos de swap cambial no leilão de rolagem ontem, em que passou a renovar 10 mil contratos de swap, que tinham vencimento para 1º de julho.

Hoje, o BC rolou mais 10 mil contratos que venciam em julho, movimentando US$ 495,1 milhões. Se mantiver o mesmo ritmo até o fim do mês, o BC terá concluído a rolagem de US$ 8,750 bilhões do lote total, deixando vencer US$ 1,310 bilhão.

No entanto, dúvidas sobre a continuidade do programa de intervenção no câmbio e um cenário de maior aversão a risco no mercado externo, no entanto, continuam impulsionando a retomada da demanda por hedge.

Analistas já veem o câmbio agora se estabilizando em outro patamar entre R$ 2,25 e R$ 2,30. “O BC aproveitou a melhora do cenário externo para reduzir a posição em swaps cambiais no mês passado. Porém, o ambiente favorável que se verificou para mercados emergentes em março e abril está mudando e a tendência agora é de alta do dólar. O que de fato poderia ter impacto para suavizar esse movimento seria o anúncio da prorrogação do programa de intervenção pelo BC”, afirma o executivo da tesouraria de um banco estrangeiro.

Hoje o BC vendeu todos os 4 mil contratos de swap cambial ofertados no leilão com programa de intervenção, cuja operação somou US$ 198,8 milhões. Lá, o dado melhor que o esperado do índice de atividade do setor de serviços do Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), que avançou de 55,2 pontos em abril para 56,3 pontos em maio, acabou ofuscando o número mais fraco que o esperado da criação de emprego no setor privado nos Estados Unidos, levando a uma alta da moeda americana frente às principais divisas emergentes. O Dollar index, que acompanha o desempenho da divisa frente a uma cesta com as principais moedas, subia 0,19%.

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