Enquanto médicos do Texas mantêm Marlise Muñoz viva contra sua vontade, profissionais da Califórnia lutam para que a família da menor Jahi McMath aceite desligar seus aparelhos – dois casos antagônicos que reabriram recentemente o debate nos Estados Unidos sobre a morte cerebral.
A família de Marlise Muñoz, uma texana de 33 anos, deu por certa sua morte há algumas semanas. Em novembro ela sofreu uma embolia pulmonar na cozinha de casa, e foi declarada em situação de morte cerebral. A mulher, que é paramédica, sempre se opôs a se manter viva de forma artificial.
No entanto, um médico do hospital de Fort Worth se negou a desligá-la: Marlise estava grávida de 14 semanas e a lei texana, como em outros 20 estados, não permite que esse tipo de procedimento seja realizado em situações como essa.
A lei, aprovada em 1989 e modificada em 1999, estabelece que ninguém pode suspender um tratamento para manter a vida artificialmente se a paciente está grávida.
O centro médico, o John Peter Smith Hospital, considera que está aplicando a lei, embora algumas pessoas acreditem que há diferenças legais entre as pacientes em estado vegetativo ou em coma e as que estão em situação de morte cerebral, como é o caso de Marlise.
A família pede que os aparelhos sejam desligados, tanto por convicção quanto pelo desejo que Marlise expressou em conversas sobre este tema há alguns anos.
O pai da paciente, Ernest Machado, declarou ao jornal “The Dallas Morning News” que seguramente o feto sofreu a mesma falta de oxigênio que Marlise.
A família lançou uma campanha “Apoio à família Muñoz” para pedir que seja escutada a vontade dos pacientes e de seus parentes, assim como para conseguir fundos para custear a batalha judicial.
Enquanto no Texas a família insiste em deixar a paciente morrer, na Califórnia, onde se debate outro caso de morte cerebral, a pressão é pelo não desligamento.
Um centro médico enfrentou nas últimas semanas a família de Jahi McMath, uma menina de 13 anos que foi declarada com morte cerebral e cujos pais, que conseguiram tirá-la do hospital, insistem em mantê-la conectada a um respirador.
O advogado da família informou nesta quinta-feira através de sua conta no Twitter que a menina está estável e sua saúde melhorou.
A menor foi operada no começo de dezembro para tratar de um problema de apneia do sono, uma intervenção sem aparente complicação, mas que terminou derivando em uma declaração de morte cerebral três dias depois, possivelmente por uma parada cardíaca.
Em carta pública dirigida à família, o Children’s Hospital & Research Center afirmou que Jahi tinha sofrido uma “morte total”, e que a situação de morte cerebral tinha sido confirmada tanto por dois médicos do centro como por um terceiro profissional e um juiz.
“Não quero que a desliguem do respirador artificial porque realmente sinto que pode acordar”, justificou a mãe, Nailah Winkfield, em entrevista à rede “CNN”. “Sinto que se trata de uma semana difícil para ela e acabam de lhe dar um pouco mais de tempo, então será capaz de despertar”.
Foi iniciada então uma luta da família contra o hospital para evitar que os médicos a desligassem e para tirá-la da unidade.
Finalmente, e por ordem judicial, no domingo passado o hospital teve que transferir a menor ao escritório legista do condado, já que legalmente foi declarada morta. E por sua vez, o condado a entregou à família.
Em entrevista coletiva, o advogado e os familiares não detalharam para onde levaram Jahi, mas destacaram há “médicos envolvidos”, segundo informou o “Los Angeles Times”.
A família, que criou uma grande polêmica, contou com o apoio de Terri’s Network, a fundação de Terri Schiavo, uma americana que se manteve conectada e em estado vegetativo durante 15 anos.
Em apoio à família californiana, a fundação escreveu em seu site: “Da mesma forma que no caso de Terri Schiavo, as pessoas com lesões cerebrais graves são tratadas como cidadãos de segunda classe, frequentemente lhes negam o tratamento, a atenção e o amor”.