Segundo a denúncia, as crianças e a mãe viviam em condições subumanas e apanhavam com frequência do homem, que foi preso em flagrante. Um dos filhos nunca havia visto prédio ou usado vaso sanitário e a mulher tem marcas de agressão no corpo todo.

Uma história tão horrível que chega a ser inacreditável. No Bairro Aero Rancho, em Campo Grande, uma mulher de 44 anos teria passado os 22 anos do casamento sofrendo torturas físicas e psicológicas do marido, de 58, sem ninguém interferir. Nesta quarta-feira (19), a polícia descobriu o caso após denúncia anônima.

Dos quatro filhos do casal, de 15, 11, 7 e 5 anos, três não frequentam a escola, e ninguém da família podia sair de casa sem a permissão dele. De acordo com a tenente Elka, do 10º Batalhão, que acompanhou a , as condições de vida da família eram inacreditáveis.

“Eles não possuíam água encanada, o banheiro era um buraco no chão. A mulher não tinha sabão para lavar roupa. A casa não tinha nenhuma higiene”, fala a tenente.

Ainda de acordo com o relato da polícia a família não podia comer sem a permissão do homem, não podiam sair de casa, não podiam assistir televisão ou manter contato com ninguém de fora de casa, ou sofriam agressões físicas violentas.

“A mulher disse que desde o casamento não sabe da família dela, ela não sabe nem se a mãe está viva. A opressão e a tortura psicológica que o marido mantinha sobre todos os integrantes da família era tão grande que eles não tinham como buscar ajuda sozinhos”, fala.

A polícia prendeu o pedreiro por volta do meio-dia desta quarta-feira (18) quando o homem voltou para almoçar em casa. Os policiais esconderam o carro e conseguiram prendê-lo em flagrante, que ainda afirmou aos policiais que nunca tinha batido na mulher ou nos filhos.

“Durante o exame de corpo de delito foi descoberto que ela tinha muitas marcas de violência e tortura, principalmente nas nádegas, onde ele batia nela com uma panela. O marido também arrancou todos os dentes da frente dela. Quando ela estava grávida na terceira vez ele quebrou o seu nariz. Tenho policiais com mais de 20 anos de serviço que nunca viram um caso parecido”, conta.

Vizinhos

Procurados pela reportagem vários vizinhos afirmaram que ouviam os gritos da mulher e sabiam que as crianças não podiam sair de casa, mas que não podiam fazer nada. “A gente não podia se meter”, uma vizinha disse.

Outra vizinha afirmou que sempre que podia tentava ajudar a mulher dando comida para ela e para as crianças, mas que a última briga foi causada justamente por isso. “Eu dava pão para ela e as crianças comerem e o que sobrava eles guardavam. Mas no domingo o homem descobriu o pão e bateu nela. A gente sempre ouvia os gritos de socorro”, conta.

Em outras vezes a vizinha ainda disse que a mulher ia até a casa dela, mas sempre quando o marido não estava, porque ela não podia conversar com ninguém. “Uma vez ela me trouxe uma panela suja e me pediu arroz. Ela me disse que o marido tinha feito as compras bêbado e que ela não tinha o que pôr em casa”, explica.

Ela também fala que as crianças nunca eram vistas na rua e que não conheciam coisas básicas, como suco de caixinha e iogurte. “Eu trazia para eles e eles ficavam encantados, a gente passava pelo muro e sempre quando o marido não estava em casa”.

A tenente também conta uma história parecida. “Quando estávamos a caminho da delegacia, a criança de 11 anos me disse que nunca tinha visto um prédio. Já na Depac, o mais novo, de 5 anos, disse que queria ir ao banheiro. Ele não sabia usar o vaso sanitário, ele nunca tinha visto um”, fala.

Prisão

O homem, que não tem passagem pela polícia, foi preso e está detido em uma das celas da 4ª Delegacia de Polícia Civil.

 A mulher e as crianças foram encaminhadas para um abrigo. “As crianças falaram para a mãe que este Natal vai ser diferente, vai ser bom porque o pai está preso”, conta a tenente.

O caso será investigado pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).