O funcionário administrativo Vitor Rodrigues, 30, trabalha no HRMS ( de Mato Grosso do Sul). Cerca de um mês atrás, após a saída da empresa Cardiocec, que prestava serviços na área de cardiologia, Vitor assumiu a função de perfusionista, cargo essencial para a realização de cirurgias cardíacas.

Por ser o único perfusionista do HR, sua carga horário aumentou, mas o salário não. 

Desfunção

Além de estar cansado com as horas excessivas, Vitor se preocupa por ser o único perfusionista do HR. “E se acontecer de um dia eu ficar doente?”, indaga. O enfermeiro conta que aceitou a proposta de assumir o cargo para não deixar o hospital na mão.

Por ser graduado em enfermagem, Vitor pode exercer a função de perfusionista, assim como qualquer graduação na área da saúde e biologia, conforme informa o Conselho Federal de Biomedicina.

Como o Hospital depende totalmente de Vitor, o funcionário está sobrecarregado e se ele não for trabalhar um dia, o HR teria que transferir a cirurgia cardíaca para outro hospital apto a realizar a mesma. Vitor recebe salário de funcionário com carga de quarenta horas semanais e está trabalhando oito horas por dia, fora o plantão à noite, o que extrapola em muito sua carga horária. “Estou praticamente pagando para trabalhar”, ressaltou.

O chefe da linha cardíaca do HR, que não quis se identificar, enviou três vezes documento solicitando que tomassem uma providência. “As direções técnica, administrativa e geral já estão cientes da situação”, conta. Até agora nada foi feito. “Estamos assumindo papéis que não são nossos”, explicou.

A assessoria de imprensa do HR se limitou a declarar em nota que o quantitativo de servidores do hospital é suficiente para atender a demanda e que foi instaurada sindicância para apurar irregularidades referentes às cirurgias cardíacas e que caso sejam identificadas quaisquer irregularidades, os responsáveis serão penalizados.

O perfusionista

Segundo o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o perfusionista tem que manter o paciente com suporte artificial de vida (coração, pulmão e rim artificial) por meio de uma máquina que é temporariamente capaz de substituir as funções do coração e dos pulmões, oxigenando o sangue e bombeando-o através do sistema circulatório.

O Dr. Wander Ribeiro dos Santos, biomédico especialista em circulação extracorpórea, conta que há 15 anos o perfusionista era conhecido como “a pessoa que toma conta da bomba”. Após descobertas da grande importância da circulação extracorpórea, passou-se a exigir melhor formação dos perfusionistas e a necessidade da presença dos mesmos durante uma cirurgia cardíaca.

A profissão foi regulamentada em maio de 2011, após aprovação do Projeto de Lei 1587/07. Um perfusionista recebe, em média, R$ 5.344,96, para trabalhar 40 horas por semana.