Enquanto autoridades anunciavam em Brasília um esforço para unificar a resposta à violência nos protestos no país, cerca de mil pessoas fizeram uma manifestação pacífica e “performática” no Rio de Janeiro.

O protesto entitulado “Grito da Liberdade” foi convocado por artistas da TV brasileira como Mariana Ximenes, Wagner Moura, Camila Pitanga e Marcos Palmeira por meio de um vídeo divulgado pela internet. Esses artistas, porém, não foram ao protesto.

O grupo se concentrou em frente ao Fórum da cidade por volta das 15. A passeata começou pouco antes das 17h. Não houve tumulto nem prisões.

Entre as reivindicações divulgadas em um manifesto estavam o fim das “prisões políticas”, anistia aos processados e “presos políticos”, garantia do direito à livre manifestação. Também estavam na agenda o fim da violência policial, a desmilitarização da PM e a investigação dos crimes cometidos pela polícia.

A atriz Teresa Seiblitz, que já participou de diversas telenovelas e longas metragens, disse que as dezenas de prisões ocorridas durante os protestos dos professores, há duas semanas, foi o estopim da iniciativa dos atores e atrizes para apoiar o protesto.

“Somos cidadãos, temos o direito de nos manifestar. Não é um grupo, não é um vídeo de um grupo. Eu não sou bancada pela TV Globo, e acho muito delicado isso, em vista das circunstâncias”, disse em referência às queixas dos manifestantes contra a emissora.

“Nasci em 1964, cresci com medo da polícia, e é chocante sentir isso de novo”.

“As questões são muito complexas. É claro que ali no meio tem todo tipo de pessoa, mas acho que [a tática] black bloc é um jeito de se defender da polícia”, disse.

Além dela, participaram o poeta Chacal, o escritor João Paulo Cuenca e o ator Luiz Henrique Nogueira.

Um dos organizadores do protesto, integrante dos grupos Ocupa Lapa e Reage Artista, disse à reportagem que a ideia do vídeo partiu dos próprios artistas, que procuraram os movimentos sociais.

“Nós aceitamos a ideia, e o pessoal do Mídia Ninja foi gravar com eles. A manifestação foi organizada por mais de 50 coletivos e acho que a participação deles deve ajudar”, disse sob condição de anonimato.

Para ele, a participação dos artistas – mesmo que não tenham comparecido às ruas – deve tocar as pessoas. “Eles têm uma visibilidade com o grande público, e podem falar direto com as pessoas, mesmo aquelas que não se ligam em política”.

Porém, parte dos organizadores do protesto desaprovou a participação de artistas globais no movimento.

Além do vídeo, a manifestação foi diferente pelo clima performático. Na entrada na avenida Rio Branco, após uma breve confusão na Candelária (quando um jovem foi revistado pela polícia) os manifestantes usaram mordaças e seguiram parte do percurso em silêncio.

Guiados apenas por batidas de tambor em uma melodia fúnebre, os manifestantes só retiraram as mordaças na Cinelândia, aos gritos de Fora Cabral (em alusão ao governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral).

Para o ativista Rafael Puetter, também conhecido como Rafucko e criador dos Pink Blocs (ativistas gays que fazem protestos pacíficos), um dos objetivos da manifestação no Rio foi mostrar que os protestos não vão parar.

“Tenho certeza de que as pessoas vão ficar nas ruas, embora a tendência é que os governo feche o cerco”, disse.

Resposta unificada

Em Brasília, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniu com o diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, e os secretários da Segurança Pública do Rio e de São Paulo, José Mariano Beltrame e Fernando Grella, entre outras autoridades, para discutir a violência nos protestos.

Cardozo anunciou um esforço envolvendo autoridades federais, estaduais e do Judiciário para unificar os procedimentos policiais e definir por quais tipos de crimes as pessoas flagradas realizando depredação serão indiciadas e processadas.

Até então, cada polícia vem usando suas próprias táticas para combater a violência nas manifestações.

Além disso, cada Estado vinha adotando diferentes tipificações criminais para indiciar suspeitos – nem todas elas aceitas pelo Judiciário. Segundo Cardoso, representantes do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público devem se reunir para definir por quais crimes os manifestantes radicais devem ser indiciados.

O ministro também afirmou que os diversos órgãos compartilharão informações de inteligência. Ele deixou claro que o objetivo não é investigar as manifestações ou movimentos sociais, mas somente os grupos que vêm cometendo atos violentos nos protestos.

“Não se trata de recrudescer contra manifestante, de coibir movimento social, medidas que seriam ilegais se fossem tomadas. Levamos muito tempo para conseguir isso. O que estamos falando é de situações ilícitas, abusos, violência contra pessoas. E de agir contra pessoas que praticam ilícitos penais”, disse Cardozo.

O secretário Fernando Grella, de São Paulo, defendeu um aumento da pena a agressões a policiais, seis dias após o comandante da PM Reynaldo Rossi Simões ter sido agredido por black blocs no centro de São Paulo. Afirmou também que a polícia paulista trabalha para identificar os líderes do moviemento conhecido como black bloc.

Seu colega fluminense, José Mariano Beltrame, disse que o movimento black bloc é totalmente novo no Brasil e a questão deve ser tratada com o envolvimento de outros atores e instituições.

Ele também defendeu a alteração de leis que possam facilitar a punição aos manifestantes, dizendo que “o policial precisa ter garantia de que, quando apresenta alguém [na delegacia], aquilo efetivamente terminará em ação penal”.

São Paulo

Em São Paulo, cerca de 200 pessoas fizeram uma passeata pacífica na Avenida Paulista em protesto contra o aumento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

Os manifestantes caminharam até a casa do prefeito Fernando Haddad (PT), onde gritaram palavras de ordem. O prefeito conseguiu aprovar recentemente um aumento de 20% do imposto para imóveis residenciais e 35% para os prédios comerciais da cidade.

Um suspeito foi preso por portar uma barra de ferro.