Vinte anos após queda de Collor, ex-cara-pintada relembra protestos em Campo Grande

Há duas décadas, jovens foram para as ruas gritar “Fora Collor”. Na capital de Mato Grosso do Sul, sindicatos ligados à área da educação e movimento estudantil lideraram protestos.

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Há duas décadas, jovens foram para as ruas gritar “Fora Collor”. Na capital de Mato Grosso do Sul, sindicatos ligados à área da educação e movimento estudantil lideraram protestos.

Exatamente duas décadas atrás, em 29 de setembro de 1992, a Câmara aprovou o pedido de impeachment de Fernando Afonso Collor de Mello. Ele foi tirado da presidência após uma onda de protestos no Brasil inteiro com as pessoas usando preto e de cara pintada.

Na capital de Mato Grosso do Sul, estudantes do segundo grau (atual ensino médio) e universitários comemoraram a queda do primeiro presidente eleito pelo voto direto após o período de governos militares com a sensação de vitória. Foram eles que pintaram os rostos e protestaram nas ruas de Campo Grande.

Embora por aqui a mobilização tenha sido menor do que em outras capitais, os cara-pintada, como ficaram conhecidos, relembram o momento histórico com misto de orgulho e decepção. As manifestações em Mato Grosso do Sul foram organizadas basicamente por movimentos ligados à educação, como os sindicatos de professores, grêmios e outras entidades estudantis.

“Na época a gente estava mobilizado na luta em defesa de qualidade no ensino, melhor qualificação e remuneração para os professores, e contra o abuso nas mensalidades das escolas particulares. Quando a queda do Collor se tornou um objetivo, nós fomos para a rua e integramos o movimento”, relata o ex-cara-pintada Mauro Napoleão.

Em 1992, ele era presidente do Grêmio Estudantil da Escola Arlindo Lima e membro da direção da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Agora, aos 42 anos de idade, é técnico de informática e diz que sente orgulho por ter participado do momento histórico.

“A minha geração queria ser protagonista da própria história. A gente não tinha nada dessas facilidades que os jovens de hoje têm, como as redes sociais, ou celular, mas tínhamos muita vontade de participar, de fazer alguma coisa”, relembra.

Napoleão conta que em Campo Grande o movimento foi basicamente organizado pelas lideranças ligadas ao meio da educação. “Eram os sindicatos dos profissionais da educação, os professores, os grêmios, a Une e a Ubes, que agitavam os jovens na época. Mas a gente já vivia uma efervescência cultural. Nós tínhamos na época Legião Urbana, Camisa de Vênus, Titãs, todos fazendo o rock nacional em clima de questionamento”, diz.

Sobre as mobilizações, o ex-cara-pintada diz que muita coisa se perdeu por falta de estrutura. “A gente não tinha nem como fazer foto dos movimentos. Hoje em dia qualquer jovem tem um celular até para filmar. A gente tinha que fazer nossas faixas manualmente, chamar a galera sem Facebook, essas coisas”, compara.

Para ele, enquanto facilita a circulação das informações, a tecnologia também desmobiliza os jovens. “Hoje em dia é muito fácil denunciar, reclamar. Com poucos cliques você pode enviar uma mensagem para duas mil pessoas de uma só vez. Mas, ao mesmo tempo, esse excesso de informação não tira mais o jovem mais de casa”, diz.

Questionado sobre os rumos que a política brasileira tomou nestas duas décadas após os cara-pintada, Napoleão diz que escândalos como o do Mensalão, envolvendo tanto políticos da situação quanto da oposição, mostram a necessidade de uma reforma política.

“Com o impeachment do Collor, a gente mostrou que o mal feito podia sim, ser punido, que o erro podia ser cobrado pelo povo. É uma pena que ele voltou ao cenário político, pois ainda há brechas na legislação. Mas o recado foi dado e as pessoas estão mudando”, avalia.

Collor voltou à vida política em 2000, quando concorreu a prefeito de São Paulo e perdeu a eleição. Em 2002 foi derrotado na tentativa de ser governador de Alagoas, mas, em 2006, foi eleito senador em uma campanha de apenas 28 dias.

Em 2010, tentou novamente o governo do Estado, mas não chegou ao segundo turno, vencido pelo governador reeleito Teotônio Vilela contra Ronaldo Lessa.

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