Demóstenes avisou Cachoeira sobre operações contra caça-níqueis
Relatório da Polícia Federal mostra que o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) informava com antecedência o empresário Carlinhos Cachoeira sobre operações feitas pelo Ministério Público contra o grupo do contraventor. Segundo o inquérito, no dia 20 de junho de 2011, o senador avisou Cachoeira de uma ação de combate ao jogo ilegal. “Eu fui […]
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Relatório da Polícia Federal mostra que o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) informava com antecedência o empresário Carlinhos Cachoeira sobre operações feitas pelo Ministério Público contra o grupo do contraventor.
Segundo o inquérito, no dia 20 de junho de 2011, o senador avisou Cachoeira de uma ação de combate ao jogo ilegal. “Eu fui informado é que o MP (Ministério Público) Federal aí em Goiás vai fazer operação junto com o MP Estadual, é, em cima de caça-níqueis viu? Parece que tem, eles tinham uma investigação independente, independente mesmo daquela outra que foi para a Justiça Federal, certamente eles vão usar a PF né, então você fica de olho aí”, disse Demóstenes.
“Quem te falou?, perguntou Cachoeira. “O de sempre, disse o senador, que acrescentou: “bom, ele falou, eu num sabia que eles tinham investigação, então ele num sabe o tamanho que é né, chamaram pra fazer operação, possivelmente eles já tem tudo pronto né”, disse. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, é irmão do senador. Ele nega saber de irregularidades e diz ter rompido com o senador por conta do caso Cachoeira. Encerrada a conversa com Cachoeira, Demóstenes telefonou para o delegado da Polícia Federal Fernando Byron, apontado como informante do esquema ilegal.
“O MP Federal avisou que o Estadual que vai ter uma operação, cê tá sabendo?”. “Não, não. Vou ver”, respondeu o delegado, Segundo a investigação, Byron, que trabalhava em Goiânia, era consultado por Cachoeira toda semana para saber sobre as atividades da PF na região. O jornal tentou entrar em contato com o delegado, mas não obteve sucesso.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina.
O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão. Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo.
Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria.
O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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