Após a reportagem sobre o pagamento de um ressarcimento a um contribuinte com um cheque pessoal do diretor-presidente do Detran-MS, Carlos Henrique dos Santos Pereira, o inquérito original do caso, de 2009, foi retirado da Defurv (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículos).
Santos Pereira afirma que resolveu pagar com dinheiro do próprio bolso R$ 5.184,00 pelo sumiço de um carro furtado do pátio do órgão estadual e garante que não recebeu o dinheiro de volta dos cofres públicos.
O acerto foi feito com um cheque da conta pessoal de Santos Pereira emitido em 14 de dezembro de 2009. Segundo ele, a intenção foi ajudar o dono do automóvel com o pagamento ‘por fora’ dos trâmites burocráticos convencionais.
O proprietário do carro ainda garante que teria sido feita uma suposta adulteração na numeração do motor do automóvel, que ele comprou novo de uma concessionária na qual trabalhava. O fato não é citado nem esclarecido no processo da Corregedoria de Trânsito do Detran-MS.
Com relação ao inquérito policial sobre o furto, o relatório final da investigação 32/2009 da Corregedoria se limita a informar, com um despacho, que o procedimento foi “encaminhado à Defurv e apurado conforme IP 237/2009-Defurv”.
Na Delegacia Especializada, a informação é de que logo após a publicação da notícia a Corregedoria de Trânsito do Detran-MS requisitou os originais de todo o inquérito para “providenciar fotocópias”. O titular da Defurv, delegado Alberto Vieira Rossi, disse que não se pronunciaria oficialmente sobre o caso.
Segundo o delegado adjunto, Geraldo Marin, como o inquérito não se encontra na Delegacia e a investigação é antiga, não havia no momento como saber qual o desfecho exato das investigações, nem se houve indiciamentos.
Proibido de falar
A reportagem esteve na manhã desta quinta-feira (10) na Corregedoria de Trânsito do Detran-MS. Lá, a informação de que o inquérito referente ao carro furtado dentro do pátio do órgão estadual teria sido retirado da Defurv foi confirmada. Mas o processo também não estaria no setor porque teria sido levado diretamente para a DGPC (Diretoria Geral de Polícia Civil).
Quando a reportagem questionava sobre os motivos para as originais do inquérito terem sido requisitadas, o servidor que atendia à equipe foi interrompido, chamado a uma sala fechada, e proibido de falar sobre o caso. “Infelizmente, não posso me manifestar mesmo sobre esse assunto. Agora é só com a diretoria”, explicou quando voltou.
Segundo Santos Pereira, a solicitação não partiu da presidência, mas sim da Corregedoria.
Sem opção
O diretor-presidente do Detran-MS garante que não foi ressarcido pelo valor e que tomou a decisão de pagar com dinheiro próprio porque se compadeceu com a situação de Gerson Luiz de Souza Almeida, proprietário do automóvel que foi furtado enquanto estava apreendido no pátio do órgão em Campo Grande.
O contribuinte, no entanto, afirma que teria assinado o acordo diretamente com Santos Pereira porque não tinha opção.
“No final das contas, para tirar meu carro de lá, tive que assinar um acordo que o advogado do Detran-MS colocou na minha frente. Eles me falaram que iam utilizar o orçamento da Oficina Mantovani, que acho até que era de um amigo do Santos Pereira. Estipularam o custo do conserto em R$ 9.600 reais, descontaram os débitos do documento do carro e o Santos Pereira me deu um cheque com a diferença”, relata.
O diretor do órgão nega qualquer tipo de pressão ou constrangimento. “Foi tudo feito com a aceitação e autorização do proprietário. Tudo está documentado porque não há nada a esconder”, afirma.
Adulteração
“No exame metalográfico feito antes de me devolverem o carro, ficou registrado que tinham acrescentado um número na marcação do motor. Mas tenho certeza de que o motor é o mesmo, e ninguém fez nada para regularizar a situação. Quando eu for transferir o carro, certamente terei mais essa dor-de-cabeça”, reclama Gerson.
Segundo Santos Pereira, o carro somente foi entregue para Gerson após laudo pericial completo.
No entanto, ninguém soube informar se a devolução foi feita na Defurv ou pelo próprio Detran-MS. O delegado-adjunto da Defurv diz que, mesmo que o bem tenha sido entregue diretamente no órgão estadual, sem passar pela Delegacia Especializada, o procedimento não seria anormal.