Paciente espera pelo SUS mais de três anos em MS e acaba pagando todo o tratamento
A.J.X, 47 anos, pedreiro, morador de Coxim numa casa simples que divide com a família, está sem trabalhar por conta de uma doença ainda sem diagnóstico, que o afeta há mais de três anos. Ele conta que, desde que começou “uma dor forte no peito, que se espalhou pelas costas”, não mais conseguiu trabalhar no […]
Arquivo –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
A.J.X, 47 anos, pedreiro, morador de Coxim numa casa simples que divide com a família, está sem trabalhar por conta de uma doença ainda sem diagnóstico, que o afeta há mais de três anos.
Ele conta que, desde que começou “uma dor forte no peito, que se espalhou pelas costas”, não mais conseguiu trabalhar no ofício de pedreiro. Mas a sina dele não tem só a ver com a doença implacável, que lhe abafa a voz. A.J.X não consegue ser atendido pelo SUS, embora tenha uma vida que beira a pobreza. Entrou no sistema de saúde pela porta do SUS, e hoje é um paciente particular.
Depois de passar por um atendimento no PS do Hospital Regional de Coxim, que atende 100%, foi encaminhado para a Santa Casa. “Eu estava com o ortopedista de Coxim, mas ele não deu conta e mandou para a Santa Casa” afirma, com a voz fraca. Na própria ficha do pedido do SUS há um bilhete anexado, com a data e o valor da consulta na Santa Casa, escrito por uma das funcionárias que cuidam dos encaminhamentos de Coxim.
Nesses três anos, a rotina do pedreiro varia de atendimentos de urgência feitos no PS do Hospital Regional de Coxim e os encaminhamentos posteriores, e pagos, nos hospitais Santa Casa e o Evangélico. E há exames já feitos em várias clínicas particulares de Campo Grande. Tudo pago por uma “caixinha” de familiares e amigos.
O último deles, uma cintilografia, custou R$ 720,00 numa clínica privada da capital. “Um exame de sangue foi mandado para Santa Catarina ou Paraná, não sei direito, porque aqui ninguém fazia, pelo que me disseram”, conta ele. Como não tinha mais dinheiro porque a “caixinha” faliu, o custo de R$ 350,00 foi pago pela prefeitura de Coxim.
Polêmica envolve Secretaria de Saúde de Coxim, Santa Casa e o paciente
Por duas vezes consecutivas, o pedreiro teve que pagar consultas na Santa Casa, pela chamada “tabela social”, que teoricamente atende pacientes carentes em consultas eletivas, aquelas pré-agendadas. O preço da consulta é R$ 65,00, mas se os exames solicitados pelo médico demorarem mais que 15 dias, a “tarifa social” é cobrada de novo e o preço dobra. É o que aconteceu com A.J.X. no mês passado.
Uma forte polêmica envolve o caso porque a Secretaria de Saúde de Coxim afirma que o paciente escolheu o tratamento pago por não conseguir assistência rápida, fato que A.J.X nega.
O secretário de Saúde de Coxim, Gilberto Portela Lima, em entrevista à reportagem, chegou a declarar que um exame pode demorar até seis meses para ser realizado pelo SUS nos locais conveniados, e para muitos pacientes com urgência o que resta é pagar.
A funcionária da mesma secretaria de Coxim, responsável pelo agendamento de consultas e exames em Campo Grande, garante que o paciente foi encaminhado para a Santa Casa pela “tarifa social” porque não havia outra forma de atendimento, e daí surgiu a escolha pessoal de A.J.X. Mas ele nega também, afirmando que pagar pelas consultas e exames foi a única possibilidade a ele oferecida até agora. “A funcionária da secretaria falou que em Campo Grande tudo é pago, eu não escolhi nada”, garante ele.
Todo o caso tem passado pela intermediação da Central de Regulação de Vagas do Estado. Segundo o secretário de Saúde de Coxim e a funcionária, a central estadual encaminha as demandas por vagas e exames de todo o MS, depois de agendar com os hospitais aonde os pacientes serão alocados.
Mesmo tendo um hospital regional, Coxim não tem a sua própria central reguladora, e depende da estadual. Estão começando só agora as reuniões entre prefeituras da região para montar a sua central.
Santa Casa não recebe pacientes para consultas eletivas, diz funcionária
A afirmação de que Coxim não consegue marcar consultas eletivas na Santa Casa foi feita pela funcionária que cuidou do encaminhamento de A.J.X. para a “tabela social”, depois de solicitar vaga à central de regulação do Estado.
Essa afirmação entra em choque direto com o conteúdo da entrevista do presidente da Junta Interventora da Santa Casa, Jorge Martins.
Segundo ele, a Santa Casa recebe consultas eletivas pelo SUS quando há disponibilidade, depois de consultada pela Central Estadual de Regulação.
No caso polêmico, até agora só há um prejudicado. O pedreiro tem sofrido muitas dores por causa da doença e das viagens de vans para Campo Grande. Como não pode trabalhar, a família empobreceu e, segundo ele, o seu diagnóstico é incerto até agora.
“Preciso voltar a trabalhar, a família está passando necessidade”, diz ele, olhando para o chão com tristeza.
Porta de entrada de A.J.X nos hospitais foi pelo SUS
Como todo mundo que não tem convênio de saúde na região de Coxim, A.J.X. recorreu ao Hospital Regional, construído pelo governo do Estado. O Regional é mantido pelo SUS, prefeituras locais, governo do MS e administrado pela Fundação Estadual de Saúde do Pantanal. Trata-se de uma entidade privada, sem fins lucrativos.
A característica do Hospital de Coxim, pelo que dizem moradores da cidade, é a falta de médicos especializados e exames. O novo hospital teria capacidade de ter leitos de UTIs, de acordo com o projeto inicial, mas está sem equipamentos, equipe médica e verbas de custeio para aquelas unidades intensivas.
Quando inaugurou o hospital semi-acabado, em novembro de 2009, o governador André Puccinelli prometeu que “este hospital será marco da história da saúde em toda a região norte”. Segundo a população, ficou devendo, tanto que três vezes por semana duas vans trazem pacientes da cidade para os hospitais e clínicas privadas de Campo Grande.
São quase 500 Kms ida e volta. Muitos dos tratamentos são pagos por esses pacientes porque o Hospital Estadual Rosa Predrossian e o Hospital Universitário estão lotados e igualmente com falta de médicos especializados.
Notícias mais lidas agora
- Empresário morre ao ser atingido por máquina em obra de indústria em MS
- Polícia investiga ‘peça-chave’ e Name por calúnia contra delegado durante Omertà
- Ex-superintendente da Cultura teria sido morto após se negar a dar R$ 200 para adolescente
- Suspeito flagrado com Jeep de ex-superintendente nega envolvimento com assassinato
Últimas Notícias
Em pizzaria de Campo Grande, mulher é agredida com garrafa de vidro pela cunhada
Às autoridades, a vítima disse que não iniciou a discussão e que por ser “temperamental”, a autora cometeu a agressão
Do Pantanal, Coronel Rabelo participa do Domingão do Huck neste domingo
Pantaneiro é reconhecido como transformador no mundo
Estabilidade financeira atrai candidatos no concurso dos Correios
Provas acontecem neste domingo em Campo Grande
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.