Brasileiro pede ajuda na internet para abandonar crise espanhola
O anúncio é claro: “Olá, sou brasileiro ilegal desde 2005, estava trabalhando sem documentos, mas agora estou sem trabalho e tenho que comer e pagar o aluguel não sei como. Poderia conseguir a passagem de volta para o Brasil o mais rapidamente possível?” O pedido de ajuda feito por Fernando Montes, 31 anos, no site […]
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O anúncio é claro: “Olá, sou brasileiro ilegal desde 2005, estava trabalhando sem documentos, mas agora estou sem trabalho e tenho que comer e pagar o aluguel não sei como. Poderia conseguir a passagem de volta para o Brasil o mais rapidamente possível?”
O pedido de ajuda feito por Fernando Montes, 31 anos, no site da ONG América, Espanha, Solidariedade e Cooperação (AESCO) no início de outubro é um exemplo da situação de muitos imigrantes ilegais que ficaram sem dinheiro e não têm como retornar.
Fernando disse à BBC Brasil que tem sobrevivido em Madri com a ajuda de brasileiros com quem mora, compartilha comida e roupas, mas desde o fim de agosto não tem conseguido nem bicos.
“Fui aguentando porque no verão sempre aparece algum serviço em bares, eventos; coisas pequenas, mas sempre tem. Neste ano nem isso (apareceu), e o dinheiro acabou. Tenho que ir embora para o Brasil já. Pedi a essa ONG porque não sei a quem mais pedir.”
Em Maringá, Fernando estudou mecânica. Viajou para a Espanha animado pela presença de amigos que haviam imigrado um ano antes. Mesmo sem documentos trabalhou na construção, numa academia de ginástica, três bares e fazendo pequenos consertos como biscateiro.
“Agora deu”, desabafou. “Fracasso? Quem está duro e desesperado aqui nem pode pensar em fracasso, isso de voltar de mão abanando é pensar até demais da conta.”
Lado psicológico
O porta-voz e assessor jurídico da AESCO, Gustavo Fajardo, concorda. Lembra que os primeiros retornados comentavam muito o lado psicológico da volta forçada pela falta de oportunidades durante a crise mas, com o agravamento da situação, pesa mais o alívio de deixar para trás os problemas econômicos.
Fajardo afirma que, neste final de 2011, todos esperam uma avalanche ainda maior de pedidos de ajuda por retorno.
“Junta a crise, o fim dos períodos de trabalhos temporários no litoral e nas colheitas, e vêm aí as eleições com o PP (Partido Popular, conservador e favorito nas pesquisas) ameaçando botar mais barreiras para os imigrantes”, disse.
Essa possível avalanche de saída não atingirá toda a população imigrante, segundo um estudo do Observatório de Imigração da Universidade de Alicante.
O autor do relatório, o catedrático de Economia Aplicada Carlos Gómez Gil, acha que a falta de estabilidade legal assusta mais os estrangeiros do que a economia. E que sobreviverá a crise quem tiver documentação e qualificação profissional.
“A crise atinge a todos, estrangeiros e espanhóis. Mas não ter documentos produz um estresse adicional e instabilidade emocional. Hoje, 70% dos imigrantes na Espanha são legais e muitos investindo em formação técnica e universitária”, disse Gil à BBC Brasil.
O estudo enfatiza também que as mulheres “estão suportando melhor a situação e são os homens os que estão deixando o país, produzindo um conflito de rompimento de famílias”.
Quanto aos negócios, a crise está causando fechamento de quitandas e bares especializados em produtos latino-americanos, mas crescem os setores prestadores de serviços de transportes internacionais – de embalagens a contêineres para mudanças que cruzarão o oceano no caminho de volta.
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