Artuzi exigia pagamento mínimo de 10% para direcionar licitações a empresas escolhidas por ele, diz Eleandro Passaia. Delegado diz ter provas contundentes do crime

O superintendente regional da PF, José Rita Martins Lara, agradeceu o empenho de todos os agentes envolvidos na ação policial que cumpriu dezenas de mandados de prisão e desarticulou um suposto esquema de fraudes em licitações públicas na prefeitura de Dourados, além de corrupção ativa e formação de quadrilha.

O delegado que cuida do inquérito, Bráulio Cézar Galloni, disse que as investigações começaram em maio deste ano, depois que o jornalista Eleandro Passaia – à época chefe de comunicação da prefeitura – procurou a para denunciar o suposto esquema. Passaia teria informado ao delegado que desde o início da gestão Artuzi havia indícios de desvios de verba nas licitações municipais. O jornalista acusou ainda o prefeito de escolher pessoalmente as empresas que sairiam vencedoras dos certames.

Galloni disse que há provas contundentes que comprovariam os crimes. Artuzi exigia pagamento mínimo de 10% para direcionar as licitações, mas havia casos em que a propina chegava a 50%. O dinheiro, de acordo com o delegado, seria destinado ao pagamento de vereadores. Parte dos recursos desviados ia direto para o bolso do prefeito, acusa o delegado. “É o ponto final no esquema”, disse Galloni. Na residência do prefeito, os agentes federais encontraram R$ 145,8 mil em espécie.

O promotor Paulo Zeni disse que a Operação foi respaldada por autorizações judiciais concedidas pela juíza Terezinha Thomás, da 1º Vara Criminal de Dourados.

Delator do esquema

Passaia está sob escolta policial e já recebeu diversas ameaças de morte desde a manhã de hoje. Após a coletiva de imprensa, Eleandro Passaia concedeu entrevista a diversos veículos de comunicação que acompanham o caso em Dourados. O jornalista procurou esclarecer que não fazia parte de nenhum esquema de corrupção: “não sou bandido arrependido”, disse.

As gravações feitas por Passaia, que tinha cargo de confiança na prefeitura de Dourados, foram feitas em conjunto com a PF. Ele afirma que nunca pegou dinheiro fruto de desvios, e que apenas participou de uma transação ilegal de R$ 15 mil com uma empreiteira, para ajudar nas investigações.

“Se eu quisesse, poderia pegar até R$ 70 mil por mês para entrar no esquema”, disse Passaia. O jornalista contou que ficou indignado com um episódio que, segundo ele, envolveu o prefeito Ari Artuzi e o Hospital Evangélico de Dourados. O prefeito teria recolhido R$ 100 mil da instituição, e repassou R$ 10 mil para sua esposa, Maria Artuzi, fazer uma operação plástica. Naquela mesma semana, afirma Passaia, uma criança morreu no Hospital Evangélico em conseqüência de uma operação mal-sucedida.

Passaia acusa o prefeito Ari Artuzi de recolher no mínimo R$ 500 mil por mês com o esquema. Como exemplo, o jornalista citou a GWA, empresa que atua no transporte escolar na região de Dourados. Ele disse que eram feitos repasses mensais de R$ 60 mil.

Ônus e bônus

Apesar de ser o pivô da crise na prefeitura de Dourados, Passaia tem sido aplaudido e festejado por populares. Ele anunciou que irá publicar um livro na próxima semana relatando o suposto esquema de corrupção. Perguntado se considerava-se um traidor, o jornalista respondeu: “Eu é que me sinto traído porque acreditei no Artuzi, um homem de origem humilde e com promessas”.