Seu parceiro é perigoso? Delegada fala sobre como identificar riscos de violência na relação amorosa
Duas tragédias chamaram à atenção do público, principalmente o feminino nesta semana que passou, o assassinato da arquiteta Eliane Nogueira e o desaparecimento de Eliza Samúdio
Arquivo –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
Duas tragédias chamaram à atenção do público, principalmente o feminino nesta semana que passou, o assassinato da arquiteta Eliane Nogueira e o desaparecimento de Eliza Samúdio
Na última semana Mato Grosso do Sul acompanhou de perto dois casos de mortes violentas de mulheres cujos parceiros são os principais suspeitos. Em Minas, um jogador de futebol está envolvido na morte com requintes de crueldade de Eliza Samúdio, com quem teve um relacionamento extraconjugal. Em Campo Grande, uma arquiteta faleceu incendiada e o próprio marido está na mira das investigações.
Casos extremos, os dois episódios colocam em alerta profissionais que trabalham com políticas públicas voltadas para proteção da mulher. Apesar da gravidade dos casos ganhar espaço na mídia, as situações de risco para mulheres envolvidas em relacionamentos perigosos são mais comuns do que se imagina.
Em Campo Grande, a delegada Suzimar Batistela, há dez anos trabalhando na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), fala um pouco sobre como as mulheres podem identificar riscos com parceiros violentos e escapar de relacionamentos que podem se tornar perigosos e ainda, de tragédia:
Midiamax – É possível para as mulheres identificarem riscos em um relacionamento que pode chegar a extremos de violência?
Delegada – Pelo histórico de atendimentos aqui na Delegacia, infelizmente vemos que geralmente as mulheres não conseguem perceber as situações de risco real porque há o envolvimento emocional e, em alguns casos, outros fatores como a dependência financeira, atrapalhando uma análise objetiva do relacionamento.
Midiamax – E o que seria uma análise objetiva quando se avalia um relacionamento potencialmente perigoso?
Delegada – A mulher tem que se atentar para os antecedentes do parceiro. Na maioria das vezes, homens que já possuem um histórico de agressão estão mais propensos a praticar violência contra as parceiras. Há um ciclo que em muitos relacionamentos perdura longos períodos, e expõe a mulher a uma tragédia constantemente. Esse ciclo começa com a tensão, que são os atritos, as desavenças, ou seja, as diferenças. Em seguida, essa tensão evolui para agressão, que pode ser verbal ou física. Geralmente, após a agressão, o casal parte para a reconciliação. É quando o homem promete que nunca mais vai agredir, a mulher aceita as desculpas, e voltam para o estágio inicial.
Midiamax – E como é possível diferenciar desavenças leves nos relacionamentos entre casais dos casos que ofecerem perigo para um dos parceiros?
Delegada – Existem relacionamentos que duram décadas nesse ciclo tensão – agressão – reconciliação. E em todo tempo, a mulher está sempre em situação de risco. Mesmo quando não há casos extremos, como um homicídio, crimes estão sendo cometidos pelos parceiros. Desde a injúria, até uma agressão física, uma lesão corporal, são casos de polícia e os parceiros devem ser responsabilizados por eles.
Midiamax – Mas isso não tornaria qualquer desavença entre um casal em caso de polícia?
Delegada – É exatamente nesta imagem equivocada que as mulheres se expõem mais ao risco. Temos aqui casos de mulheres que chegam com marcas físicas causadas por dez, vinte anos de agressão contínua. Algumas chegam com maxilar que já foi quebrado, cicatrizes de facadas, e ainda tentam justificar os parceiros, dizendo, por exemplo, que são bons homens mas ficam violentos “quando bebem”.
Conflitos são normais nas relações humanas, e fazem parte dos relacionamentos de casais, mas devem ser resolvidos sem violência, sem crimes. E crime não é apenas o assassinato. Se toda vez que brigam, o marido diz que vai matar a mulher um dia, faz outros tipos de ameaça, está cometendo um crime e tem que responder por isso. Não é porque “é o pai dos meus filhos”, como muitas mulheres dizem, que ele deve ficar acima da lei.
Midiamax – Então uma forma de coibir a evolução das agressões seria denunciar sempre?
Delegada – Se não for o caso de terminar a relação, que é muito difícil para muitas por causa do envolvimento afetivo, e principalmente por causa da dependência financeira, para as mulheres com menos condições de se proverem economicamente, qualquer abuso tem que ser imediatamente levado ao conhecimento da polícia. É para isso que existe uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher. Nós tratamos os casos de acordo com cada situação.
Em algumas ocorrências, uma conversa séria com o agressor parece tranquilizar o casal, mas temos estrutura, inclusive, para proteger vítimas em situação de risco em abrigos sigilosos. Há uma série de medidas protetivas que podem ser adotadas.
Midiamax – E para quem está entrando em um relacionamento? Atualmente, com hábitos como o “ficar”, está muito comum relações se tornarem uniões estáveis muito rapidamente. Há um meio de as mulheres, principalmente as mais jovens, identificarem o perigo antes de tornar a relação mais séria?
Delegada – Para as mais jovens o problema é exatamente este. Atualmente há muita facilidade nos relacionamentos. Até pela independência financeira das mulheres, muitos relacionamentos são facilitados, partindo direto de uma “ficada” para uma união estável, com o casal convivendo na mesma casa praticamente sem se conhecerem. Os riscos são enormes. Volto a lembrar que os antecedentes de um homem devem ser observados. Além disso, é preciso conviver certo tempo com uma distância segura para identificar índoles violentas, por exemplo.
Midiamax – Esses riscos são maiores para algum perfil específico de mulher?
Delegada – A incidência maior dos casos de violência é maior nas classes sociais menos favorecidas, mas em outras faixas da sociedade também acontecem os mesmos tipos de problema. Os riscos são os mesmos. O que acontece é que, com maior poder aquisitivo, geralmente as mulheres partem para outras soluções, vão atrás de terapia, ou partem direto para uma separação.
Midiamax – Seria possível resumir uma “dica” para mulheres avaliarem o grau de risco que enfrentam nos relacionamentos, ou de como escapar de homens potencialmente violentos?
Delegada – Antes de se envolver com um homem, é preciso conhecer ele bem, e isso leva algum tempo. Os antecedentes sempre são importantes, e os sinais durante a convivência também. Qualquer ameaça deve sempre ser levada a sério, pois não sabemos se de repente ela será concretizada. Qualquer tipo de agressividade deve ser observada e a mulher deve tomar medidas imediatas, seja procurando ajuda, ou terminando a relação. Além disso, homens que se alcoolizam, que usam bebidas alcoólicas, ou drogas, oferecem mais risco.
Notícias mais lidas agora
- Empresário morre ao ser atingido por máquina em obra de indústria em MS
- Polícia investiga ‘peça-chave’ e Name por calúnia contra delegado durante Omertà
- Ex-superintendente da Cultura teria sido morto após se negar a dar R$ 200 para adolescente
- Suspeito flagrado com Jeep de ex-superintendente nega envolvimento com assassinato
Últimas Notícias
Do Pantanal, Coronel Rabelo participa do Domingão do Huck neste domingo
Pantaneiro é reconhecido como transformador no mundo
Estabilidade financeira atrai candidatos no concurso dos Correios
Provas acontecem neste domingo em Campo Grande
Homem procura a delegacia após ser roubado ao final de relação sexual
Fatos ocorreram entre a Av. Quatorze de Julho e a Travessa Guia Lopes, na Capital
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.