Os dois principais candidatos à Presidência nas eleições deste ano, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), aproveitaram a primeira semana da campanha eleitoral para fazer o tradicional corpo a corpo, uma das principais formas de chegar ao eleitor antes do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Mas ao contrário das expectativas, o tucano atrai pouca militância – apesar de ser o candidato mais conhecido – enquanto a petista contraria a tradição popular do partido e, protegida por um batalhão de seguranças, nem se aproxima dos eleitores em suas curtas caminhadas.

O corpo a corpo da candidata do PT nem deveria levar esse nome, já que ela mal conversa ou toca nos eleitores. Protegida por um cordão de isolamento humano, ela faz caminhadas curtas, de 100 a 200 metros. A militância, convocada pelo PT de cada região visitada, fica ao redor entoando gritos de guerra.

De poucos sorrisos, ela só conversa com a população local quando alguém se joga sobre os seguranças para pedir um aperto de mão ou fura o bloqueio e lhe dá um susto, como aconteceu na última quinta-feira em Bauru, interior de São Paulo. Em uma caminhada tumultuada de dez minutos, um adolescente de 15 anos precisou passar por baixo dos braços dos seguranças para abraçar a petista, que mal falou com o menino porque ele foi arrastado pelo pescoço por um dos seguranças.

Na mesma caminhada, outro eleitor quase apanhou de dois contratados pela campanha por insistir em dizer que o pagodeiro e candidato ao Senado Netinho de Paula (PCdoB) não se elegeria enquanto fizesse parte da coligação com o PT.

O cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), estranha esse novo estilo de fazer corpo a corpo adotado pela campanha petista: 

– Esse deve ser um estilo da Dilma porque não é característica do PT. Acho, no mínimo, uma atitude pouco simpática. É uma atitude que não convém a uma campanha com o perfil do PT. Deve ser uma orientação da Dilma.

O R7 procurou a coordenação de campanha petista para saber se a decisão partia da campanha ou da candidata, mas ninguém retornou contato até a publicação da reportagem.

Serra 

Enquanto Dilma “se blinda” do contato direto, é o próprio Serra quem vai atrás dos eleitores para cumprimentá-los, ouvir pedidos e até trocar conselhos. Embora também acompanhado por sua equipe e lideranças políticas locais, ele tem mais liberdade que Dilma para caminhar. Em suas andanças na primeira semana de campanha, ele fez questão de entrar em lojas para falar com vendedores, atender quem atravessasse seu caminho e até conseguiu parar em padarias para tomar o tradicional cafézinho de campanha.

Mas para aflição de sua equipe, nem sempre esse contato direto funciona como o esperado. Foi o que aconteceu em Campinas, na última quarta-feira (7), quando um fumante parou o candidato em uma praça para pedir que ele abrande a lei antifumo em vigor no Estado.

Em vez de afastá-lo, Serra ouviu o que ele tinha a dizer e, com a mão em seu ombro, frustrou o eleitor dizendo que não faria nada para acabar com a lei que ele mesmo propôs. Perdeu o voto. O baixo “quórum” até agora da campanha tucana pôde ser observado principalmente no primeiro ato político do candidato.

Na terça (6), em Curitiba, nem a presença do candidato tucano ao governo, Beto Richa, evitou que sobrassem cadeiras vazias no salão de um clube da cidade em que Serra foi convidado a discrusar. Para Ranulfo, a falta de tradição do PSDB em militância de rua e a ausência da propaganda eleitoral na TV justificam a falta de gente na campanha tucana. – O PSDB não tem militância como tem o PT. Os tucanos têm cabos eleitorais. Além disso, a campanha não está empolgando ainda. Quando a propaganda eleitoral começar na TV essas caminhadas devem juntar mais gente.