O desequilíbrio entre os cardumes nos rios da Grande Dourados está se acentuando com a infestação de bagres africanos que comem com uma ferocidade incomum alevinos de outras espécies e se reproduzem rapidamente.

Há menos de um ano eles começaram a aparecer nos rios Ivinhema, Dourados e Brilhante e tem sido pescados cada vez com maior freqüência e em grande quantidade.

É um siluriforme originário das bacias do nilo e de algumas regiões tropicais da África (Clarias gariepinus) . Introduzido no Brasil na década de 80 na aqüicultura comercial sob os argumentos de boa conversão alimentar, rusticidade, e precocidade.

De fato o peixe não escolhe comida, agüenta altos índices de poluentes, baixos níveis de oxigênio dissolvido, cresce rápido (conversão de 3:1). Como se tudo isso não fosse o suficiente ainda consegue “andar” (arrasta-se com ajuda das nadadeiras peitorais) e “respirar” (tem a capacidade de usar ar atmosférico para complementar uma oxigenação deficiente) fora da água, fazendo uso dessa capacidade para mudar de endereço toda vez que o córrego ou lago em que está não é satisfatório.

Esse predador noturno causou uma invasão silenciosa em rios e lagos do Sudeste. Rios como o Guandu, Tinguá, Iguaçu, Macaé, assim como suas bacias hidrográficas estão infestadas de bagres africanos em diversas fases de crescimento, prova irrefutável de sua capacidade reprodutiva fora de suas águas nativas. E chegaram rapidamente à Grande Dourados.

Nas bacias hidrográficas do Sudeste ele já é considerado a 2ª causa da acentuada diminuição das populações nativas de crustáceos, peixes e moluscos.

Assim como vários organismos equivalentes, não houve um estudo de impacto ambiental adequado antes do início da importação de matrizes, assim o lobby importador foi mais forte.

O problema começou quando se iniciou o processo de venda do produto final, já que sua aparência, um peixe branco pálido e cujo sabor ninguém conhecia, fazia os apreciadores de peixe escolherem outras espécies. O resultado não tardou a aparecer e centenas de criadores frustrados com a experiência resolveram esvaziar os tanques para voltarem a engordar os pacus, tambacus, tilápias, e outros. Os peixes foram para os córregos, vivos e com alta capacidade reprodutiva.

 Um grupo local pescou dias atrás uma grande quantidade no Rio Dourados. Eles são mais encontrados em lagoas e nas “bocas do rio”. A carne é bem apreciada, parecida com a do Pintado.