A participação de estrangeiros na dívida pública interna superou pela primeira vez a barreira de 10%. Segundo dados divulgados hoje (23) pelo Tesouro Nacional, os investidores internacionais detinham, em agosto, 10,06% da dívida mobiliária (em títulos) interna. Isso corresponde a R$ 150,6 bilhões.

Tanto o percentual como o montante voltaram a bater recorde no mês passado. Em julho, os investidores não residentes no Brasil tinham 9,54% da dívida pública interna (R$ 141 bilhões). Em agosto de 2009, esse número era de 6,36% (R$ 85,8 bilhões).

Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, o perfil do aplicador estrangeiro mudou depois da concessão do grau de investimento ao Brasil e da crise financeira mundial. “Até 2007, os investidores estrangeiros eram mais voláteis e retiravam os recursos do Brasil em momentos de crise. Agora, eles estão mais interessados em aplicações de longo prazo, o que não traz grande impacto em momentos de instabilidade.”

O interesse dos estrangeiros por aplicações de longo prazo, ressaltou Garrido, pode ser comprovado pelo tipo de investimento. “Atualmente, metade das NTN-F de 10 anos em circulação está nas mãos dos estrangeiros”, explicou. A NTN-F é um título prefixado com juros definidos no momento da emissão. Os investidores internacionais têm preferido as NTN-F com vencimento em 2021.

De acordo com o coordenador, o perfil dos investidores externos está mais diversificado, com a participação de fundos de pensão, seguradoras, fundos soberanos e até pessoas físicas que aplicam nos papéis do governo brasileiro. “Desde que o Brasil ganhou o grau de investimento [garantia de que o governo não dará calote na dívida pública], houve a entrada de novos aplicadores no país.”

Garrido disse ainda que a tendência de aumento da participação dos estrangeiros na dívida interna brasileira continuará nos próximos meses, talvez até nos próximos anos. Segundo ele, a elevação é gradual e consistente. “Os bons fundamentos da economia brasileira e o grau de investimento continuarão a atrair os aplicadores internacionais.” No entanto, ele evitou comentar se o fato de o Brasil ter uma das taxas reais de juros mais altas do mundo também atrai investidores externos.

A elevada presença de investidores estrangeiros na dívida interna pode trazer risco para um país caso os aplicadores decidam se desfazer dos papéis em momentos de crise econômica. O coordenador afirmou, porém, que ainda não há riscos para o Brasil. “Na velocidade em que os estrangeiros estão entrando e com o perfil das aplicações, o Tesouro Nacional está tranquilo.”

Ele destacou ainda que o percentual de investidores externos no Brasil é menor que o de países como o México, que tem pouco mais de 15% da dívida interna nas mãos de estrangeiros, e dos países do Leste Europeu, com cerca de 20%. “Ainda há espaço significativo para o aumento da participação de estrangeiros sem perigo.”