Dia dos pais. A data é móvel mas ninguém esquece. Pais encaram a responsabilidade de ser pai e mãe ao mesmo tempo.

Um cartão de argila. Foi assim que o jovem Elmesu, foi o primeiro a comemorar o Dia dos Pais, na Babilônia, há mais de quatro mil anos. A homenagem começou mesmo em 1909, com a norte-americana Sonora Louise Smart Dodd, filha do veterano da guerra civil John Smart. Ele ficou viúvo quando sua mulher teve o sexto bebê e viu-se forçado a cuidar sozinho dos filhos. Sonora Louise escreveu às autoridades, que concordaram com a ideia. A rosa foi escolhida para simbolizar essa homenagem: vermelha para os pais vivos e branca para os mortos.

Esta história é um pouco parecida com um pai, que mora no Jardim Itatiaia, em Campo Grande. Há um ano e meio, João dos Santos, de 45 anos, precisou encarar um desafio: com a morte da mulher, precisou se tornar pai e mãe ao mesmo tempo da filha Beatriz Amanda dos Santos, hoje com 13 anos.

Depois de oito meses ele começou a superar a perda da mulher e passou a dividir as responsabilidades da paternidade com as tias da menina. João conta que encarar a vida a dois, sem a participação da figura da mãe não foi fácil para nenhum deles, mas com o tempo o entrosamento entre pai e filha está cada vez maior e mais cúmplice. “ Tive que me acostumar com a ideia, não foi fácil não encarar isso, quem mais me ajudou foi a minha própria filha, ela é uma filha educada e muito carinhosa, comenta.

A ideia de assumir a paternidade sem a presença da figura materna pode ser até, aparentemente, tranquila. Mas, para quem precisa encarar essa dupla paternidade de uma hora para outra, ainda não é algo nada fácil para a maioria dos homens.

“Todos os dias levanto as 5h30 e faço o café da manhã, levo minha filha para a escola e depois sigo para o meu trabalho. Ela sai da escola e vai para a casa da babá que é de minha confiança. Ela também é cuidada pelo avô e pelas tias, irmãs da mãe, que mora próximo da casa que Beatriz passa a tarde. E às 17h passo la e pego a minha filha”, alega João.

Todos os anos a filha traz cartões da escola para presentear o pai. Neste ano Beatriz chegou da escola e já entregou para o pai uma taça do Flamengo, para o pai tomar vinho. Hoje no dia dos pais, os dois pretendem fazer um almoço em casa e passar o dia juntos.

Muitos pais estão arregaçando as mangas e decidindo cuidar sozinhos de seus próprios filhos, após a separação do casal. O publicitário Carlos Eduardo Leandro, de 45 anos, tem dois filhos: Renato Rodrigues Leandro e Silva, de 16 anos e Kayque Rodrigues Leandro da Silva, de 15 anos. Os três moram juntos há mais de nove anos, no bairro Vivendas dos Bosque.

“Eu sempre fui um pai presente, desde o gravidez eu acompanhava tudo, exames, nascimento. Na verdade sempre quis ter filhos e fui percebendo com o passar do tempo que os meus meninos iriam acabar morando comigo. Eu procuro criar um lar feliz com meus filhos. Eles são os meus companheiros e isso me ajuda muito. É muito prazeroso e muito gostoso ser pai. Não precisei entrar na justiça para ficar com meus filhos, conversei com a mãe deles e decidimos que os meninos iam visitar a mãe nos feriados da escola, no final do ano. Em feriados prolongados. Ela mora em São Paulo (SP) e entramos no consenso”.

Para o pai do Renato e Kayque o mais difícil foi aprender a lidar com as mudanças. De repente, precisou estar atento ao que antes era papel quase exclusivo da mulher. Mais que isso, precisou ser paciente e entender que os filhos eram apenas adolescentes tentando lidar com uma nova vida sem a presença da mãe. “Tive que ficar mais presente na vida dos meus filhos e ficar mais dentro de casa, muitas vezes lavando, passando e até cozinhando. Tudo é um molde novo e um novo caminho. Tem que cuidar e verificar se a comida está sendo servida na hora certa, verificar o andamento na escola”.

Lidar com mudanças é a parte mais difícil, porém a melhor parte é poder tomar um café da manhã ou almoçar todos juntos. Acordo bem de manhãzinha e preparo o café da manhã, quase todos os dias almoço com eles e conversamos bastante. Outro lado bom é abrir a porta do quarto e ver os meus filhos dormindo. Durmo com a plena convicção que tenho dois homens do meu lado e fico feliz de perceber que sempre estive ao lado deles. “Ser um pai para mim é ser amigo na extensão mais exata da palavra amigo”, disse o publicitário.

Carlos Eduardo conta que os três já estão bem integrados. Ele estabelece regras e impõe algumas normas, principalmente com horários de chegada das conhecidas baladas que os filhos freqüentam no final de semana. Hoje no dia dos pais ele pretende passar o domingo em casa com os filhos.

As boas exceções existem e estão fazendo crescer a lista dos homens/pais que resolvem assumir não só o lar como os cuidados com os filhotes. Wilson Jordano, de 39 anos, está no momento a procura de um novo emprego. Ele mora há mais de uma ano com os três filhos no bairro Santa Mônica. São eles: Fernanda Claro Jordana, de 14 anos, Gabriel Carlos Jordano, de 11 anos e Lucas Claro Jordano, de 7 anos.

Jordano alega que é o primeiro a levantar e o ultimo a deitar, por causa dos cuidados que têm com os três filhos. “Sou o primeiro a ficar de pé e o ultimo a ir dormir, e grande a preocupação. Já levanto e preparo o café da manhã para ele irem para a escola. Lavo todas as roupas. As tarefas de casa os três acabam me ajudando, não fica tudo para mim”.

“Eu converso abertamente com os meus filhos, tento explicar para eles como é o mundo, a necessidade que faz ter um estudo. Falo para eles que é preciso aprender a se cuidar. Fico cuidando tudo, a alimentação, os estudos, a amizade. Coloco algumas normas e regras dentro de casa”, disse. 

Segue o relato do pai: “Muitas vezes ele acha engraçado as cobranças que os próprios filhos acabam fazendo perante o comportamento do pai. “A minha filha já está uma mocinha e tenho que ficar cuidando as amizades que ela tem . Ela também acaba me controlando, fica de olho nos meus telefonemas. Tudo o que eu converso com ela, é cobrado depois. Ela alega dizendo que eu não deixo ela fazer tudo o que quer . As vezes é complicado as coisas. Muitas vezes tenho que me reeducar, e conversar bastante com ela e explicar muitas coisas. É nessas horas que eu percebo que tenho que ser pai acima de tudo. Eu durmo com os meus dois meninos no mesmo quarto e esses dias atrás percebi que um deles estava um pouco quieto, tristinho. Era de madrugada. Passei a mão no braço dele e estava queimando de febre. Tive que correr para um Posto de Saúde e comprar remédios. É engraçado quando frequento a reunião dos pais na escola. Os professores compreendem que sou pai e mãe. E lá esta eu e uns outros três pais que estão na mesma situação que eu”, finaliza.

O primeiro Dia dos Pais foi comemorado no dia 19 de junho de 1910, na pequena cidade de Spokane, nos Estados Unidos. No Brasil, o Dia dos Pais é comemorado no segundo domingo de agosto. O publicitário Sylvio Bhering, inspirado pela comemoração norte-americana, propôs em 1953 a celebração do Dia dos Pais. O primeiro Dia dos Pais foi em 14 de agosto de 1953, dia de São Joaquim, patriarca da família Bhering.