Transformação no modo de vida da sociedade tem sido a grande vilã que motiva o aumento nos casos de obesidade. Na década de 80, conta o médico nutrólogo Sandro Trindade Benites (foto), o excesso de peso atingia entre 5 e 6% da população; hoje em dia, esse volume saltou para 30%. A cirurgia ainda é meio mais eficaz de combater a obesidade mórbida

O excesso de peso afeta ao menos a metade dos brasileiros e, ainda assim, a obesidade não é tratada como uma doença nem por especialistas em saúde, afirma o médico nutrólogo Sandro Trindade Benites, um dos responsáveis pelo TOI (Tratamento de Obesidade Infantil), um programa que funciona desde 2003 no Hospital Regional, em Campo Grande. O médico, em entrevista concedida ao Midiamax na sexta-feira, disse que a obesidade possui uma gravidade que não tem forma aguda, que machuca sem causar dor e que é traiçoeira por não causar sintomas. Pior que tudo isso: não tem cura. Ele cre num tratamento contínuo e, segundo o médico, a cirurgia é um meio mais eficaz para atacar a obesidade mórbida. “Isso ao menos daqui uns dez anos”, disse o médico, que aponta os princípios tidos por ele como básicos no atendimento a seus pacientes. O diálogo.

Midiamax – O que leva o desenvolvimento da obesidade?

Sandro Benites – Hoje nós estamos vivendo uma epidemia de excesso de peso. Até a década de 80, no mundo, cerca de 5% a 6% das crianças tinham excesso de peso. De repente, de 20 a 30 anos pra cá, ou seja, uma geração passou e hoje 30% das crianças sofrem com o excesso de peso. Hoje mais da metade da população do Brasil tem excesso de peso, ou seja, tem alguma coisa que está acontecendo. Fator primordial: uma genética privilegiada. O tempo moderno é o ambiente. É que nós não temos muita noção de tempo. O ser humano esta na terra há quatro milhões de anos. De repente nos últimos 100 anos surgiram tantas comodidades, tanta transformação, que a gente não se deu conta. Por exemplo: durante quatro milhões de anos, o ser humano, para sobreviver, tinha que caminhar, de caçar, acender fogo e pescar. Era natural gastar energia. E de repente, de 100 anos pra cá, surgiu o carro. Nós nascemos com o carro. Hoje nós achamos que é natural ter carro. Para ir à padaria nós vamos de carro. De repente isso gerou uma falta de gasto de energia. Antigamente quem sobrevivia era quem tinha a capacidade de armazenar gordura e quem não tinha essa capacidade tinha menos chance de sobreviver. De repente em 100 anos muda-se o ambiente. Antigamente era um privilégio para quem tinha capacidade de armazenar gordura, hoje isso é um tormento, ninguém quer ganhar. Sempre foi privilégio ganhar peso, hoje é raríssimo você ver, mas existem, pessoas que comem muito e são extremamente sedentárias e não armazenam e nem nunca vão desenvolver a capacidade de armazenar gordura. Essa capacidade é nata.

Midiamax – Mas o motivo existe, esse de a pessoa não ter capacidade de armazenar a gordura?

Sandro Benites – Não se sabe o porquê, mas tem gente que nunca desenvolve. Tem pessoas que começam a ganhar peso depois da puberdade, outras depois que casam. Tem mulheres que começam a ganhar peso depois do primeiro filho, outras mulheres começaram a ganhar peso depois do quarto filho. Tem mulheres que tem cinco filhos e continuam magras. Tem gente que ganha peso depois dos 25 anos. Tem pessoas com 40 anos que não tem essa capacidade de armazenar gordura. Então, não é uma coisa simples, tem que ter uma genética privilegiada, e tem que ter um ambiente favorável. O ambiente favorável nós já temos. A grande maioria das pessoas tem essa capacidade de armazenar gordura, isso envolve a modernização, a globalização. A indústria visa o lucro, e para obter lucro tem que vender, para vender tem que ser gostoso e o que dá o sabor são a gordura e o carboidrato simples. Então a gente acaba comprando a gordura que mais dá o lucro que é a gordura trans, que é produzida em escala industrial, que é mais gostosa, mais crocante, e a gente acaba comprando, porque o maior estímulo para um ser humano se alimentar é o paladar, a gente sempre vai atrás do que é mais gostoso. Se você colocar em sua geladeira, um abacaxi e do lado um bolo de chocolate, você vai escolher o bolo de chocolate com certeza. Não vai existir, ou vai ser muito raro, ‘disque verdura saudável’ ou, ‘disque frutas deliciosas, entregamos na sua casa’, mas vão ter milhões de disque pizzas, sanduíches. Essa epidemia e essa modernização trouxeram o consumo. Hoje as crianças não são criadas pelas mães e antigamente nunca foi assim. Na nossa geração e na geração de nossos pais, isso mudou. O ser humano precisa de muito pouco para sobreviver, muito pouco! Basicamente para sobreviver você precisa de um abrigo, atenção (afeto) e alimento. Com o consumismo atual, o salário de uma pessoa na família não é suficiente, então a mulher e o marido têm que trabalhar para poder bancar essa sociedade de consumo. Então os filhos não têm a atenção necessária que tinham, tentamos equilibrar isso de outra maneira. Como a mãe não consegue oferecer ao seu filho, nos primeiros anos de vida aquela atenção, tentamos compensar esse tripé de carinho, comida e abrigo, com comida. O ser humano acaba suprindo essas três necessidades através da comida. E nós adultos também estamos comendo mais. O papel da mulher na sociedade também mudou. Com a globalização, modernização e o consumo, a sociedade também mudou. O ser humano está vivendo um ambiente único o qual nunca teve, e que favorece a obesidade. Não se gasta mais energia porque está tudo a sua mão. A internet é uma fonte inesgotável de informação, se deixar nós ficamos o dia inteiro ali no computador, se deixar, esse é o problema. E os pais são os culpados por isso. Para o excesso de peso, para a obesidade em si, o estímulo negativo é muito ruim. Quando se chega para uma criança e fala “você está gorda, você vai piorar, você vai ficar doente, você não vê sua avó que tem diabete?”, isso não resolve, e a grande maioria chega aqui assim, o estímulo positivo é muito melhor: “meu filho você pode, você consegue, você vai ficar mais bonito, você vai ficar mais saudável”, isso é fundamental.

Midiamax – Os pais não têm contribuído?

Sandro Benites – Às vezes os pais estão no caminho certo de tentar ajudar, mas no sentido totalmente oposto, indo em direção contrária. Antes de conseguir mudar um comportamento eu tenho que mudar um pensamento e para eu mudar um pensamento eu preciso estar insatisfeito: “eu estou gordinho, mas estou feliz”. “Gordinho, feliz e mentiroso”. Eu estou falando de doença, não estou falando de obesidade como um problema. Obesidade é doença, têm crianças aqui com 100, 150 e 180 quilos. Procuramos utilizar aqui no TOI todos os instrumentos éticos e científicos que temos no momento para ajudar a família. Isso envolve um controle emocional da nossa parte, temos que estar preparado para a recaída do paciente, pois não é fácil, a mudança do comportamento é difícil. A pessoa precisa querer e estar submissa ao tratamento e enxergar alguns princípios.

Midiamax – Princípios?

Sandro Benites – Sim, o primeiro princípio é: obesidade como uma doença. Mas não é uma doença qualquer. Hoje em dia nem um profissional da saúde consegue enxergar a obesidade como uma doença. Coloque uma criança magrinha da Somália ao lado de uma criança gordinha norte-americana, qual está doente? Qual vamos querer ajudar? Estamos em um país onde mais da metade da população tem excesso de peso e nós temos um programa nacional, institucional de combate à fome. Na década de 70 quando nosso presidente [Lula] estava na adolescência o principal problema do Brasil era a desnutrição e ele veio do sertão nordestino onde realmente muitas pessoas morriam por falta de comida. Depois de uma geração as coisas mudaram tanto que na década de 80, 90, 2000, menos de 5% da população brasileira é desnutrida e menos de 0,5% é gravemente desnutrida. Nos dias atuais 50% da população têm excesso de peso. Não conseguimos visualizar o obeso como doente, e como ele e a sociedade também não enxergam, ele acaba não procurando ajuda. Quem tem excesso de peso acha que a culpa é dele mesmo e acaba se martirizando e muitas vezes fazem coisas absurdas. A força de vontade é indispensável, mas a maioria deles toma decisões isoladas: “a partir de agora eu não janto mais”. Hoje em dia estamos vendo casos de crianças doentes pesando de 120 á 140 quilos, quando a criança atinge a casa dos três dígitos, a única solução é a cirurgia.

Midiamax – Então, a saída é a cirurgia?

Sandro Benites – Nós temos uma lista de espera de adolescentes para fazer a cirurgia. A obesidade é uma doença crônica, não é igual uma pneumonia que se trata em dez dias, o tratamento é em longo prazo e a pessoa tem que estar disposta a enfrentar um tratamento que pode durar de nove meses até o resto da vida. O segundo princício: a obesidade é degenerativa. É uma pré-doença que leva a várias outras doenças, como aumento de colesterol, triglicério, pressão alta, inúmeros tipos de câncer que estão extremamente relacionado à obesidade. Exemplos: câncer de mama, endométrio, útero, ovário, próstata.

Midiamax – E o terceiro princípio?

Sandro Benites – É adaptativa. Por exemplo: sem eu perceber eu ganho dois quilos e meu organismo se adapta. Ganho mais três quilos e minha coluna se adapta. Eu ganho mais um quilinho e meu ombro se adapta. Eu ganho mais um quilo, eu compro uma roupa um pouquinho maior. Quando eu vou perceber já estou com uma obesidade moderada e já saí do sobrepeso. O meu organismo vai se adaptando, por isso é uma doença degenerativa, crônica e adaptativa. É uma doença grave, por que a gravidade dela não é uma de forma aguda, é que ela machuca e não causa dor, ela é traiçoeira, pois não causa sintomas. O colesterol pode estar elevado, porém, não causa dor e não incomoda, e se não incomoda você não vai ao médico. O pior de tudo, além de ser crônica adaptativa e degenerativa, ela não tem cura.

Midiamax – Como assim, não tem cura?

Sandro Benites – A cura do excesso de peso seria um remédio que se eu tomasse meu organismo parasse com a capacidade de multiplicar a célula de gordura. O dia que descobrirem a cura do excesso de peso da obesidade, que hoje é a preocupação número um da organização mundial da saúde e dos países em desenvolvimento e os já desenvolvidos, seria interessante. A pessoa precisa entender que vai ter que entrar em um processo de mudança de pensamento para mudar o comportamento para conseguir manter. Se você tem pai e mãe obesos, você tem 90% de chance em ter filho obeso. Se um dos pais for obeso, a chance é de 50%. E quando os dois são magros, ainda se tem 10% de chance do filho ser obeso. É uma doença que não tem cura, uma vez que enxerguei que estou doente, irei procurar manter um tratamento, mas não pode ser um tratamento curto, tem que ser um tratamento longo. Depois disso, necessariamente, se eu quiser perder peso, não tem outra maneira a não ser comer menos. Muita gente procura o TOI e fala assim: “Doutor, eu como igual um passarinho”. Não que isso seja mentira, mas a pessoa realmente acha que come pouco e na verdade ela come muito além do que o organismo necessita. O próximo passo é admitir que a alimentação não esteja correta, se a pessoa não admite, não tem jeito, tem que comer menos. Tem que comer menos que um passarinho se for o caso. O problema é que a relação de quem tem excesso de peso, com a comida, é uma dependência química, física e psicológica e não temos noção disso.

Midiamax – Obesidade é um vício?

Sandro Benites – O excesso de peso é um vício por carboidrato simples, por gordura. Muitas vezes a pessoa quer comer menos, mas não é fácil. Para comer menos é preciso diminuir a ansiedade, e muitas vezes é tão difícil o obeso comer menos, é como se fosse um alcoólatra, tem que fazer um tratamento medicamentoso que em muitos casos é necessário e fundamental, e não é todo mundo que tem a mesma resposta ao remédio, tem pacientes que são receptores ao remédio que é uma maravilha e perdem mais de 50 quilos. Para isso tem que ser o remédio certo, na dose certa e no tempo certo. Antes da pessoa entender que tem que tomar remédio, ela tem que entender que está doente. O remédio vai agir no centro da saciedade, tem remédio que age no centro da fome. O remédio não tira a fome, ele aperfeiçoa aquilo que estou produzindo. Existem outros remédios que inibem a absorção de gordura. Existem inúmeros tipos de remédios para inúmeros tipos de pessoas. Várias pessoas tomam remédio e pensam: “Não tirou a minha fome”, e abandonam o tratamento. O remédio deve ser retirado gradativamente. Vamos falar do quarto princípio: é aquele o remédio não faz efeito se eu não fizer atividade física. A célula de gordura é pouca vascularizada, para o remédio fazer efeito eu tenho que sair do sedentarismo.

Midiamax – Isso para produzir efeitos, certo?

Sandro Benites – É uma coisa ligada à outra: estou tomando o remédio para conseguir comer menos e porque enxerguei que estou doente. Esses quatro princípios só irão dar resultados se eu criar vínculo de compromisso com algum tipo de tratamento. Nada disso vai dar resultado se a pessoa não estiver insatisfeita, ela tem que estar insatisfeita para mudar. Em relação ao tratamento medicamentoso, existem alguns casos que são insuficientes. A obesidade mórbida, grave, independe da idade, velho, criança ou adulto, o tratamento clínico só tem resultado em no máximo 3% dos casos. Como é que vou fazer uma proposta de um tratamento que falha em 97% dos casos?

Midiamax – O senhor é favorável a cirurgia?

Sandro Benites – Eu sempre fui contra cirurgia, nem cirurgião eu sou eu não faço a cirurgia, mas eu indico. Antes da cirurgia a pessoa precisa de no mínimo dois anos de acompanhamento multiprofissional, se falhar, a pessoa é preparada para fazer a cirurgia. O risco da cirurgia é infinitamente menor do que o risco deles continuarem com essa obesidade grave. Nós médicos temos que ser a favor do paciente e se existe uma técnica ética e eficaz, por que não vou usar? Hoje o tratamento efetivo para a obesidade mórbida é a cirurgia, talvez não seja daqui a dez anos. Assim como a cirurgia para úlcera salvou muitas vidas, hoje a cirurgia redutora de estômago é o que tem salvado muitas vidas. Eu não estou falando porque acho isso bonito, a prevenção é a maneira mais simples, barata, econômica e eficiente de evitar um mal maior, por isso que trabalhamos com essa idade, para evitar o sofrimento de uma próxima geração. Se essas crianças tiverem uma boa educação alimentar e incentivo à prática de educação física, quem sabe no dia em que eles forem pais, poderão mudar a próxima geração. Hoje as principais causas de morte no Brasil são as cardiovasculares que estão extremamente relacionadas ao excesso de peso, onde 74% dos hipertensos são obesos. É um trabalho muito pequeno para o tamanho da demanda. A alimentação escolar que é acompanhada por nutricionista é muito importante por que ajuda a diminuir a obesidade infantil.

Midiamax – No caso das crianças, por que cada vez mais elas são afetadas pela obesidade?

Sandro Benites – São três os motivos. A telinha (computador, vídeo-game e televisão), as guloseimas e o sedentarismo.

Midiamax – Existe um tratamento adequado para as crianças atingidas com a conhecida obesidade mórbida?

Sandro Benites – Em primeiro lugar a reeducação de comportamento, envolvendo os cinco princípios básicos, pois após a cirurgia a pessoa terá que continuar comendo menos e o acompanhamento após a cirurgia. Muitas crianças com obesidade mórbida vieram para fazer cirurgia e perderam tanto peso que não foi necessário fazer cirurgia, pois a resposta ao remédio foi fantástica.

Midiamax – Como age a técnica da redução do estômago?

Sandro Benites – Temos a técnica que trabalha só com a quantidade, só reduz o estômago a um décimo do tamanho normal, é a cirurgia mais simples, mas não é a mais eficiente. Existe a cirurgia em que o estômago fica no mesmo tamanho e simplesmente faz um desvio no intestino. E existe a cirurgia mista, onde são feitas a redução e o desvio. A pessoa come pouco e o pouco que come não é totalmente absorvido.

Midiamax – Qual é o grau de risco da cirurgia de estômago?

Sandro Benites – Depende de diversos fatores: do cirurgião, da equipe médica e muito do paciente. Quem recebe a cirurgia no estômago deve ter cuidados especiais para o resto da vida. O tamanho do estômago de um obeso mórbido é do mesmo tamanho do estômago de qualquer outra pessoa. Não vamos esperar a pessoa chegar ao estágio de uma obesidade mórbida e aumentar o risco da cirurgia para poder fazer.

Midiamax – É mais difícil de cuidar da criança, do adolescente ou do idoso?

Sandro Benites – Do adolescente com certeza, em todos os aspectos, pois ele se sente um super-homem. É muito melhor começar o tratamento com 10, 11 anos do que com 13 ou 14. Não existe idade mínima para a criança realizar a cirurgia, se ela tiver com risco de morte ela vai fazer.

Midiamax – O senhor pode falar sobre o TOI?

Sandro Benites – O TOI (Tratamento de Obesidade Infantil) foi implantado em 2003 pelo SUS (Sistema Único de Saúde) do HR (Hospital Regional). A ideia é fazer um atendimento multiprofissional, ou seja, vários profissionais: eu, uma nutricionista, uma psicóloga, uma profissional de educação física, uma médica endocrinologista, atendendo ao mesmo tempo vários pacientes com o objetivo de tentar fazer uma reeducação de comportamento para a família. Esse comportamento envolve uma melhora na qualidade e na quantidade da alimentação da família, envolve um nível de atividade física. A maioria dos pacientes que chega com excesso de peso é extremamente sedentária. A ideia inicial do TOI é trabalhar com as crianças, mas verificamos que devemos conseguir mudar a cabeça dos pais.

Midiamax – Como assim, mudar a cabeça dos pais?

Sandro Benites – A criança é o reflexo daquilo que enxerga em casa e não aprende por aquilo que você fala e si pelo que você faz. Nosso foco no TOI são de fato os pais e depois os adolescentes, que já têm um certo nível de entendimento. Criança repete atitude. Comportamento começa no dia que os pais vão fazer compras. Se comprar guloseima, a criança vai comer guloseima. Se tiver uma compra saudável a tendência é que ele tenha uma alimentação saudável. Se no final de semana os pais ficam o dia inteiro assistindo televisão, a criança também vai assistir televisão. Então nós procuramos impor limites. O excesso de peso nada mais é do que a falta de limite, como por exemplo, passar muito tempo na frente da TV. O reflexo disso é o excesso de peso que trás um prejuízo muito grande para a criança. Apelidos no colégio, problemas de coração em uma idade muito precoce, pulmão, intestino, rim, cérebro, fígado, olho, baço, enfim, diversos órgãos acometidos pelo excesso de peso. O problema que eu vejo é que a grande maioria dos pacientes que chega quer uma perda de peso rápida e minha proposta não funciona assim.

Midiamax – Como surge a mudança?

Sandro Benites – Essa mudança de comportamento envolve uma perda de peso lenta, gradual e persistente. Imaginar a criança não com 5, 6, 7 anos, mas imaginar essas crianças daqui a 5, a 10 anos, adolescente e adultas. Se nada for feito nesse momento, daqui a 5, 10 anos, no momento mais produtivo dela, entre os 20, 25 anos, produtivo para ela, para a família dela e para a sociedade, pode ser que estejam doentes. Então o excesso de peso é muito grave e leva a uma série de conseqüências físicas e psicológicas. É muito gostoso fazer esse tipo de trabalho porque foge daquele atendimento comum, onde você senta, atende e prescreve e já chama o próximo. Cada semana o contato é com um profissional diferente. Na primeira semana nós fazemos a apresentação do grupo para todos os profissionais, na outra semana o contato é com um nutricionista, na outra semana nós fazemos avaliação de exames em laboratórios. Isso tudo no primeiro mês. São quatro retornos. Depois os retornos começam a ser mensais, depois a cada dois meses, depois a cada três meses, até que a gente deixa de ter contato e entra com outra turma. Não é só para famílias carentes. Depois de 2006 teve uma matéria de repercussão nacional onde ficaram mais de mil pessoas na fila de espera. Hoje o HR atende o Estado inteiro. Caravanas de ônibus que vêm de Três lagoas, Corumbá, Aquidauana, Dois Irmãos do Buriti. O programa se tornou uma referência para o Estado. Estamos tentando montar um programa nos municípios para ver se diminui um pouco a nossa demanda. É um atendimento multiprofissional. Na hora de ver os resultados todo mundo fica sabendo o resultado de todo mundo.

Midiamax – Como assim, todos ficam sabendo do diagnóstico médico?

Sandro Benites – Se tem uma criança com colesterol alto ou com triglicerídeo elevado ou hipertenso, isso é discutido no grupo. Daí o vínculo não fica só com um profissional. O vínculo fica com vários profissionais e com várias pessoas ao mesmo tempo. A diferença no sucesso do tratamento entre um paciente e outro é a criação de vínculo. Tem muitos pacientes que se identificam com o atendimento em grupo, outras não, aí tem que fazer um atendimento individual, que é feito durante a semana. Mas a grande maioria prefere o grupo, é mais fácil de manifestar.