Neste dia 26 de agosto, Campo Grande completa 111 anos com pacote de obras e melhorias em diversas áreas da cidade, porém nenhuma voltada para o futebol da capital. Além disso, a festa não contará com o antes tradicional Comerário de aniversário.

A Federação de Futebol de MS reconhece oito times em Campo Grande: Cene, Comercial, Operário, Campo Grande, Portuguesa, SAAD, Moreninhas e Guaicurus. Destes, três se destacam, ou pela história, ou pelas conquistas recentes: Cene, Comercial e Operário.

Porém, com apenas uma vaga no Brasileirão Série D, e um estadual com estrutura ruim, os principais times da capital não conseguem mais se destacar no país.

Para os mais novos vale um pouco da história da antiga glória do futebol do estado. O Operário foi terceiro colocado do campeonato brasileiro de 1977, e o Comercial foi o primeiro time do estado a disputar um brasileirão, com campanha regular em 73. Ambos aparecem no ranking de times da Confederação Brasileira de Futebol.

Problemas

Segundo os dirigentes de clubes, os principais entraves para o “renascimento” do futebol estadual são a falta de estrutura, profissionalismo e transparência.

“O futebol do estado está no fundo do poço, os jogadores e os empresários não tem interesse de trabalhar com a gente, é complicado”, destaca José Rodrigues, 43, presidente do Cene.

Mesma posição tem Cláudio Alberto Assis, 51, presidente do Comercial e da Fundação Municipal de Esporte (Funesp). “O futebol do estado está sem credibilidade hoje, isso o torna pouco atraente para os empresários, nem calendário fixo possuímos”, relatou o dirigente.

O caso do operário é ainda mais emblemático. Destaque do futebol brasileiro no fim dos anos 70 e 80, o Galo agora convive com intensas disputas internas, e contendas envolvendo dirigentes e torcedores. A situação se reflete no campo: o time amarga a segunda divisão do campeonato estadual de futebol.

Já os torcedores indicam como principal problema a falta de segurança no estado. “Já teve muita confusão em jogos no Morenão, quase não tinha policiais e eles nem se preocupavam em evitar brigas”, relatou o vendedor Tiago Mota, 27.

Ajuda do poder público

Atualmente, os clubes da capital não recebem patrocínio da prefeitura municipal ou do governo estadual, ao contrário de times do interior. Existem apenas alguns apoios esporádicos, como custeio de hospedagens e transporte.

“Tudo que construímos foi com dinheiro próprio e de patrocínios, o governo público não deu um centavo aqui”, comenta José Rodrigues. “Só na Série D, nossa previsão de gastos, fora salário de jogadores e equipe técnica, foi de R$ 100 mil, tivemos que bancar esse valor sozinhos”. O Cene foi eliminado do brasileirão, pelo sado de gols, no último domingo (22).

A pouca visibilidade e confiabilidade são apontadas pelo presidente da Funesp como motivos pela falta de dinheiro público nos clubes da capital. “Enquanto os times não se organizarem não há como investir neles, pois não sabemos como esse dinheiro será aplicado”, explicou Cláudio Assis. O presidente da Funesp, que acumula o cargo de dirigente máximo do Comercial, afirma que não existe dinheiro público em seu clube.

Assis confirma que, nas comemorações dos 111 anos da capital, não será lançado nenhum projeto voltado especificamente para o futebol.

Futuro

Mesmo com tantos problemas, torcedores e dirigentes continuam acreditando no “renascimento” dos clubes e do futebol sul-mato-grossense. “Meu pai me levava para ver o Operário desde que tenho cinco anos, a paixão pelo time pra mim é tudo, a gente vai dar a volta por cima”, desabafa o gerente de vendas João Eduardo, 34.

Além da paixão, dirigentes também apontam a transparência e planejamento como pontos fortes no resgate do futebol do estado. “O time tem que planejar, é caro sustentar um clube, tem que haver um correto planejamento de gastos, se não acabamos sem dinheiro”, relatou o presidente do Comercial.

A boa campanha de um time da capital também pode alterar um pouco esse triste quadro, é o que afirma José Rodrigues, presidente do Cene.

“Quando um time conseguir crescer um pouco, chegar por exemplo à Série C, os empresários terão mais interesse em participar do esporte, mas por enquanto o quadro é de fundo do poço”, encerrou o dirigente.