O candidato tucano à Presidência da República, José Serra (PSDB), decidiu enfrentar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, em sua campanha, tem insistido na crítica de que o petista usou seus dois mandatos para criar um exército de cargos públicos e distribuí-los entre os partidos que sustentam seu governo.

De acordo com dados do Ministério do Planejamento, Lula não deu mesmo sossego ao departamento pessoal desde que subiu a rampa do Palácio do Planalto, em 2003. A partir daquele ano, quase 100 mil novos servidores foram contratados só para o Poder Executivo, 12 mil deles para cargos de confiança, aqueles sem concurso público.

Quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pendurou a faixa presidencial em Lula, havia 485.741 funcionários trabalhando para o Executivo. Hoje eles somam 552.893. Ainda em 2002, o país empregava 68.931 funcionários “de confiança”, contra 81.564 hoje em dia. Os gastos para manter esse pessoal mais que dobrou no período: passou de R$ 30,9 milhões para R$ 67,9 milhões.

Muitos desses cargos foram, de fato, entregues aos partidos aliados das mais diferentes formas. Por serem os principais partidos da situação, PT e PMDB são os maiores beneficiados. O bolo começa a ser dividido nos ministérios, passa por agências reguladoras e pelas 114 empresas estatais federais, donas de uma fortuna que não para de crescer graças aos repasses do próprio governo. Em 2001, por exemplo, elas sacaram dos cofres da União R$ 25 bilhões, volume 380% menor que os R$ 94,5 bilhões previstos para este ano.

Dona de um orçamento de R$ 1,5 bilhão, a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) ganhou fama de cabide de emprego durante a crise aérea de 2007. A ineficiência da estatal em meio ao caos que paralisou os aeroportos brasileiros custou caro ao PR e PTB, que perderam para o PMDB o controle dos principais cargos na empresa. O ministro da Defesa, o peemedebista Nelson Jobim, indicou para a presidência da estatal o técnico Murilo Marques Barboza em agosto do ano passado. 

Também é da cota do PMDB as principais indicações nas empresas ligadas ao ministério da Agricultura, do peemedebista Wagner Rossi. Ele mesmo assumiu o ministério acusado de lotear cargos quando era presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Além de indicar Alexandre Aguiar para substituí-lo na estatal, a oposição diz que ele lotou a empresa com cabos eleitorais de seu filho, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), que nega as acusações.

Mas a galinha dos ovos de ouro do PMDB são as estatais ligadas ao ministério de Minas e Energia, comandada até o início da pré-campanha eleitoral pelo peemedebista Edison Lobão, aliado da família Sarney. O presidente de Furnas (Centrais Elétricas S/A), Carlos Nadalutti Filho, foi indicado pelos peemedebistas para comandar um orçamento de R$ 1,1 bilhão. Jorge Nasar Palmeira foi levado à presidência da Eletronorte pelo deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA).

 Apesar de ligada a Minas e Energia, a maior parte da Petrobras – a estatal de R$ 79 bilhões – ficou com o PT, que entregou aos peemedebistas a Petrobrás Distribuidora, comandada por José Lima de Andrade Neto. Os petistas levaram a Petrobras Comercializadora, liderada por Jorge Luiz de Souza, e a presidência da Petrobras Biocombustível, chefiada pelo petista Miguel Rosseto, ex-CUT (Central Única dos Trabalhadores) e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário.

O PT também ficou com os bancos estatais. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, é comandada por Maria Fernanda Ramos Coelho, funcionária de carreira filiada ao PT e indicada pela presidenciável Dilma Rousseff, de quem ficou amiga quando assumiu a superintendência nacional do banco quando Dilma ainda era ministra-chefe da Casa Civil.

No Banco do Brasil, quem manda é Ademir Bendine, funcionário de carreira ligado ao PT. Já no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) – o maior financiador dos programas do governo federal – as indicações políticas estão na diretoria. É o caso do diretor de Inclusão Social e de Crédito, Elvio Lima Gaspar, afilhado do deputado federal Jorge Bittar (RJ), e do diretor financeiro, Maurício Borges, da cota do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

De olho nas vantagens eleitorais que a acusação de “inchaço da máquina e loteamento de cargos” no governo federal pode lhe trazer, Serra não poupa a política de alianças do PT. No mês passado ele disse que era “aberto a alianças”:

– […] Mas o pessoal sabe o que penso. Nunca aceitei indicação. Quando um deputado ou senador me dizia que tinha um nome, eu respondia “então não me fala, porque não será nomeado”.