Apesar de tecer uma série de elogios ao sucesso e popularidade do programa Bolsa Família, um longo artigo na revista britânica The Economist aponta problemas, como o fato de a proposta não funcionar bem em áreas urbanas com grande concentração de pobreza quanto em áreas rurais. A crítica é diferente das usuais em relação ao programa – a de que ele não incentiva a busca por trabalho e de que o dinheiro acaba indo para as mãos erradas. Segundo o texto, pesquisas mostram que o Bolsa Família não tem causado dependência e é eficaz em atingir seu público-alvo.

A revista diz que a pobreza rural é grande no país, mas o programa atingia 41% das famílias nessas áreas em 2006. Em duas grandes cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, menos de 10% das famílias recebem o Bolsa Família.

De acordo com relatório das Nações Unidas sobre os objetivos do milênio, que usou dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a pobreza rural caiu 15 pontos percentuais entre 2003 e 2008 no país, mais do que na área urbana. São 8 milhões de pessoas a menos abaixo da linha da pobreza. A revista também apontou diversas melhorias nas áreas rurais, como redução da mortalidade infantil e aumento da quantidade de escolas e do nível de escolaridade.

O artigo diz que a situação das famílias nas grandes cidades pode não ter melhorado com o Bolsa Família porque ele substituiu uma série de outros benefícios, como programa de combate à subnutrição infantil, de subsídio a gás de cozinha e de ajuda a jovens de 15 e 16 anos: “Embora seja difícil de provar (dados nacionais não estão disponíveis), evidências sugerem que o Bolsa Família pode valer menos do que o grupo anterior de benefícios”.

A revista cita o exemplo de uma família na favela Eldorado, na Grande São Paulo, que costumava receber o equivalente a dois salários mínimos. O valor médio do Bolsa Família equivale a um quinto do salário. Além disso, diz o texto, o custo de vida das cidades costuma ser maior do que no interior do país, mas o valor dado pelo governo é o mesmo.

Outros problemas

Outra crítica é feita à ineficácia do programa em reduzir o trabalho infantil nas cidades. Enquanto nas áreas rurais as crianças trabalham para aprender o serviço com familiares, não são pagas e, em geral, conseguem continuar estudando, nas regiões urbanas o dinheiro conseguido pelo trabalho infantil costuma ser maior do que o pelo Bolsa Família: “Há um incentivo econômico para abandonar a escola e deixar o programa”. O texto diz que metade das 13 mil famílias que perderam o benefício está em São Paulo.

O artigo diz que o Bolsa Família não é um desperdício de dinheiro nas cidades, mas deveria ser aprimorado. O programa deveria, por exemplo, ser complementado pelas cidades.

Segundo a revista The Economist, há a tendência, no Brasil e no mundo, de tratar o Bolsa Família como solução “mágica”, porque os problemas atuais relacionados à pobreza são mais complexos e envolvem violência, drogas, entre outros.