Último adversário de Francisco Cezário nas eleições para a presidência da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), o advogado Paulo Sérgio Telles vê como única saída os clubes intervirem na instituição.

“Pedi pra alguns presidentes de clubes para ver se tomam atitude… se convocam uma assembleia geral e esclarecem esses fatos à opinião pública. Afinal de contas, foi recebido dinheiro público”, diz ao Jornal Midiamax.

Segundo a investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), grupo chefiado por Cezário desviou R$ 6 milhões de recursos da Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol) desde 2018.

“Quem pode mudar isso hoje são os clubes. Tem aí a oportunidade mais uma vez. Já tinha tido oportunidade em 2022 na eleição que se fosse escolhido uma nova diretoria, mas preferiram continuar com o que estava e o resultado está aí”, relembra.

Operação Cartão Vermelho

O Gaeco deflagrou a Operação Cartão Vermelho na terça-feira (21) e prendeu o presidente da FFMS, Francisco Cezário e outros quatro envolvidos no esquema de desvio e lavagem de dinheiro.

“Todas as evidências estão aí. Nenhum juiz vai decretar prisão preventiva de alguém sem ter fundamento e sem ter materialidade robusta. Foram decretas várias prisões. A Justiça está fazendo a parte dela. Cabe aos réus esclarecer, se é que consegue esclarecer”, afirma Paulo.

O advogado ia concorrer contra Cezário no pleito de 2022 à presidência da FFMS, mas teve a chapa impugnada pelo TJD (Tribunal de Justiça Desportivo). Com isso, Cezário concorreu em chapa única, ou seja, sem adversários.

Entretanto, a hegemonia de Cezário, que já dura 26 anos, pode estar perto de acabar. Isso porque o estatuto da Federação prevê sanção de inelegibilidade de 10 anos aos membros da instituição em alguns casos.

A situação de Cezário se aplica no inciso V do artigo 53 do estatuto, que diz sobre o afastamento de cargo eletivo ou de confiança de entidade desportiva em virtude de gestão patrimonial ou financeira irregular ou temerária da entidade.

Cezário e seu grupo são suspeitos do embolsar R$ 6 milhões de recursos da instituição. Se condenado, o atual presidente está fora da cadeira mais alta da entidade. “Eles [presos] vão ter a oportunidade de conseguir provar que era lícito essas transações e se não provarem vão ser condenados”, diz Paulo.

Futebol sucateado

É unânime a opinião de torcedores e entusiastas do futebol regional que a modalidade em MS está sucateada e poderia ser melhor. Vale ressaltar que no ranking da CBF, a FFMS está em 25º lugar, na frente apenas de Rondônia e Amapá.

Para Paulo, que já foi presidente do CENE e auditor do TJD, o futebol parou no tempo. “A federação já está parada há muitos anos. Nosso futebol parou, não vai pra frente”, opina.

“É lamentável isso que está acontecendo. Não esperava que fosse um escândalo dessas proporções. Em termos de administração futebolística, são 28 anos de descrédito do futebol”, diz ao Jornal Midiamax.

Repasse de R$ 8,3 milhões para FFMS

Conforme levantamento obtido pelo Jornal Midiamax, a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de MS) repassou R$ 8.327.803,20 desde 2015 à FFMS para investimentos nos campeonatos estaduais. Nos últimos três anos, o recurso do FIE (Fundo de Investimentos Esportivos) ultrapassou a cifra do milhão.

Sem contar os repasses da CBF, a Federação de Futebol recebeu milhões da Fundesporte para os campeonatos estaduais da Série A e futebol feminino. Entretanto, a FFMS declarou rombo de quase R$ 1 milhão em 2023.

Na ponta do lápis, o rombo informado não chega nem perto do montante desviado. Com o dinheiro lavado, a FFMS poderia pagar 6x o valor do déficit. O informado pelo Gaeco é referente a desvios de 2018 até fevereiro de 2023. Vale ressaltar que Cezário está à frente da Federação desde 1998.

Operação na FFMS

Conforme informações do Gaeco, o grupo realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle.

Mais de R$ 800 mil foram apreendidos, inclusive em notas de dólar somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira, além de revólver e munições.

Dessa forma, os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores vinha ‘por fora’ ao grupo.

A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.

Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.

Lista de investigados na Operação Cartão Vermelho

Jamiro Rodrigues de Oliveira, vice-presidente da FFMS; Marco Antônio Tavares, vice-presidente e coordenador de competições da federação, que também consta como presidente da Federação de Tênis de Mesa; Aparecido Alves Pereira, delegado de jogos da FFMS; Rudson Bogarim Barbosa que, em publicação do site da entidade, em 2022, constava como gerente da TI da FFMS; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; Francisco Carlos Pereira Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marco Antônio de Araújo; Patrícia Gomes Araújo; Sindicato dos Árbitros Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindarbitros); empresa Invictus Sports.