Agentes de transformação do saneamento: saúde e consciência que migram e passam por gerações

Como o trabalho impactou na vida de centenas de pessoas de Campo Grande a ponto de torná-los transformadores do meio onde estão inseridos

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Mãos que acolhem, ensinam e conduzem. Ensinamentos que vêm, que ficam e passam por gerações. (Foto: Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Só aos 25 anos e após mudar de estado devido a uma oportunidade de trabalho, Natalia Rodrigues da Silva aprendeu como um simples gesto dentro de casa pode impactar o meio ambiente. Não que ela não tenha aprendido durante os anos como acadêmica de engenharia sanitária ambiental, mas foi trabalhando que ela viu na prática como um simples tufo de cabelo jogado em uma privada tem potencial para causar danos ambientais.

Natalia aprendeu, mudou e passou a ensinar sobre a importância de mudar os próprios hábitos. Se tornou uma agente de transformação em sua família e comunidade, com poder de influenciar outras pessoas a também mudar rotinas dentro de casa. A engenheira realiza um trabalho formiguinha, mas ela não está só. 

Assim como ela, Silmara Martins tem conscientizado seus vizinhos que atualmente vivem uma fase inédita: a implantação da rede de esgoto no bairro. Ela mora no bairro Itatiaia, em Campo Grande, e se viu explicando para os vizinhos da rua sobre os próximos passos, que incluem o esgotamento da fossa de casa e a ligação correta à rede de esgoto.

Elas se unem a centenas de campo-grandenses que influenciados pelo trabalho, se conscientizaram sobre o bom uso das redes de água e esgoto e promovem mudanças significativas no meio onde vivem. Natalia saiu de Minas Gerais e se mudou para o Mato Grosso do Sul para realizar um sonho, trabalhar em uma empresa referência de saneamento do país. Já Silmara é funcionária pública municipal na área de saneamento há mais de uma década.

Mau uso das redes em números 

Por desconhecimento ou negligência, a falta de boas práticas impacta negativamente na rede de água e esgoto, desperdiçando ou dificultando o tratamento. Quando pessoas são “picadas pelo bichinho do saneamento“, aprendem o valor do saneamento básico se tornam agentes de transformação e passam a impactar na sociedade. O trabalho formiguinha é essencial para o meio ambiente.

Em Campo Grande, praticamente 100% da população tem acesso à água tratada e de qualidade. Já a coleta de esgoto chega a 88% da cidade e está em expansão. Mas o mau uso das redes de água e esgoto gera muitas consequências para a própria população, como extravasamentos de esgoto e desperdício de água, um recurso natural, indispensável e finito.

Entenda sobre captação e tratamento de esgoto no infográfico interativo abaixo:

Números da concessionária Água Guariroba mostram que, de janeiro a outubro de 2023, foram identificadas 10.046 desobstruções na rede de esgoto de Campo Grande, causada por lixo descartado de maneira irregular. São mais de 1 mil operações de desentupimento realizadas por mês e 33 manutenções por dia, que poderiam ser evitadas.

Outro indicativo de mau uso da rede é a quantidade de lixo que chega até a ETE Los Angeles (Estação de Tratamento de Esgoto). Em média, as equipes retiram 75 mil kg de lixo do esgoto por mês, que incluem fios de cabelo, absorventes, camisinhas, outros tipos de plásticos e até tecido.

E ainda têm um trabalho dobrado para retirar o óleo de cozinha jogado irregularmente em ralos e privadas. Isso porque 1 litro de óleo pode poluir até 1 milhão de litros de água e 1 milhão de litros de água é o que uma criança usa por 14  anos de vida.

Agentes de transformação promovem bons hábitos

A minha avó tinha um poço em casa e nada convencia ela de que a rede de água era melhor que o poço. Ela também tinha o hábito de jogar o óleo usado na pia, mas tudo isso mudou”, a família em questão é de Jhonatan Wilian da Cruz Santos, que após se tornar um ‘embaixador da saúde’ conseguiu conscientizar a avó sobre a importância de mudar. 

Hoje a água consumida na casa é tratada e a avó até ensina outras pessoas sobre a forma correta de descartar o óleo de cozinha. A mudança na vida de Jhonatan, assim como a da Natalia, veio após integrarem a equipe de colaboradores da Águas Guariroba, que atualmente é composta por 867 pessoas. 

“Descarte de óleo na pia era algo que acontecia dentro de casa e fiz todo um trabalho com eles para ressignificar essa questão. Até a questão de economia de água também, a gente foi vendo como dava para economizar, graças a esses estudos que fazemos aqui dentro a gente pode aplicar na prática”, conta Jhonatan que hoje vê seus familiares multiplicando o conhecimento. 

Para Paulo Tinoco o valor da água na sua vida mudou completamente após se tornar colaborador da Águas Guariroba e coordenador de produção e tratamento de água. É ele o atual responsável pela qualidade da água que chega até as casas dos 898 mil campo-grandenses.

“A virada de chave é em questão de valor, entender a importância da água, do trabalho da empresa e poxa, se eu levo água de qualidade para toda a população, olha a dimensão do meu negócio. E quando falo de população entra eu e a minha família também”, afirma Paulo. 

Confira sobre as mudanças realizadas por cada um dentro de casa, neste infográfico interativo.

Como formar agentes de transformação

Entender o valor da água e do esgoto para a saúde humana é o primeiro passo para a transformação cultural das pessoas, mas não é só isso. A analista de RH (Recursos Humanos) Sandra Quadros explica que transformar funcionários em agentes de transformação exige todo um trabalho de acolhida e parceria por parte da empresa.

“É um processo de recrutamento e seleção muito alinhado com o clima organizacional e nesse processo inicial a empresa começa a brilhar o olho do profissional, criando uma parceria, dando oportunidades e fidelizando. Nada anda sozinho e só de um lado, empresa e colaboradores vão juntos e de mãos dadas nesse caminho”, afirma a especialista em RH.

Encantar, acolher, dar oportunidade e conscientizar é um processo bem conhecido da Águas Guariroba. “Esse envolvimento dos funcionários foi construído nesses 13 anos de Aegea em Campo Grande, num processo de integração que inclui as famílias para que eles conheçam como é o tratamento de água e de esgoto e se sintam envolvidos com o propósito”, explica o diretor-presidente Themis de Oliveira.

Além da valorização dos colaboradores com bons salários, a empresa incentiva a formação continuada, dá oportunidades de crescimento, sendo comum encontrar funcionários que entraram como estagiários ou atendentes, chegando a cargos de liderança e até diretoria. “Transmitir o conceito de utilidade do que ele faz e da cultura da empresa, ser parceira, próxima, transparente, faz com que as pessoas se engajem e se tornem transformadores”, afirma o diretor-presidente da Águas Guariroba.

É assim que pelo quarto ano consecutivo, a Águas Guariroba venceu o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar. A premiação é uma iniciativa do Uol e da Fundação Instituto de Administração, que destaca as empresas com os mais altos níveis de satisfação entre os colaboradores, a partir da pesquisa FIA Employee Experience. 

Projetos expandem conscientização para novas gerações

Os mais de 860 colaboradores impactam positivamente em torno de 4 a 5 pessoas ao seu redor, mas para expandir esses números para boa parcela da população a concessionária realiza diversos projetos sociais. Em dez meses de 2023, seis projetos conscientizaram 7.294 pessoas de Campo Grande.

Dois programas têm alcance especial nas novas gerações. O Sanear (De Olho no óleo) e o Portas Abertas são ações que proporcionam uma gincana saudável entre estudantes de escolas municipais na arrecadação de óleo de cozinha e a oportunidade de conhecer a ETA (Estação de Tratamento de Água de Campo Grande). 

Água que nutre e alimenta. (Foto: Nathalia Alcântara

Juntos, os dois programas impactaram 5.121 pessoas entre janeiro e outubro de 2023. Uma delas é a pequena Helena Alencar Smith, 9 anos, que movimentou toda a família e vizinhança para arrecadar 60 litros de óleo usado. A sala dela na Escola Municipal Major Aviador venceu a gincana e ganhou uma visita à ETA. 

Presidente executiva do Trata Brasil, Luana Pretto explica que campanhas que detalham sobre o ciclo da água são importantes para que as pessoas entendam que fazem parte desse ciclo.

É importante que haja conscientização da educação ambiental para as crianças, porque são o nosso futuro, às vezes são elas que dentro da residência chamam atenção para o uso racional da água. Temos papel importante para que tenhamos água na qualidade e quantidade suficiente necessárias para as futuras gerações”, afirma a representante do Trata Brasil.

Entenda sobre o tratamento de água de Campo Grande neste infográfico interativo:

Projeto municipal fiscaliza ações de mau uso da rede

Nos primeiros dez meses de 2023, quase 6 mil imóveis foram notificados pela prefeitura de Campo Grande devido ao mau uso da rede de esgoto. Destas, 1.107 foram notificados e 425 convertidos em multas para contribuintes que se negam a conectar a residência da rede de esgoto.

As notificações são feitas pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), por meio do Programa Córrego Limpo, que controla a fiscalização de imóveis conectados à redes de esgoto, impedindo o uso de fossas onde há rede disponível. Além de conscientizar e punir os lançamentos clandestinos.

O programa também atua no monitoramento da qualidade do rio e dos córregos da capital, com 83 pontos de monitoramento nos 33 córregos e no rio Anhanduí. Em 2022, a qualidade da água foi predominantemente boa (65%), regular em 22% e ruim em 8%, sendo que o lançamento clandestino de esgoto na rede de drenagem, no solo e nas vias públicas, pode afetar diretamente a qualidade de água em rios e córregos.

Vale lembrar que, de acordo com o artigo 61 da Lei 2909/92, toda edificação deverá ser ligada à rede pública de abastecimento de água e a coletor público de esgoto, sempre que existente, em conformidade com as normas técnicas específicas do órgão competente.

Saiba mais sobre como agentes de transformação impactam na sociedade no vídeo abaixo:

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